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Erdogan reforça influência sobre a parte turca da ilha de Chipre

No quadro da tensão no Mediterrâneo Oriental, o candidato pró-turco ganhou as eleições presidenciais deste domingo, derrotando o anterior presidente, que é a favor da criação de um Estado independente que agregue toda a ilha. O problema é que, seja quem for o presidente, tem pouco voto na matéria.
  • Recep Tayyip Erdogan
19 Outubro 2020, 18h05

O líder da direita nacionalista cipriota turca e candidato apoiado por Ancara, Ersin Tatar, venceu neste domingo a segunda volta das eleições presidenciais na república cipriota turca, ao norte da ilha de Chipre, obtendo 51,7% dos votos contra 48,3% do seus rival, o até agora presidente Mustafa Akinci. A notícia não deverá agradar a Bruxelas – e principalmente a Atenas – uma vez que neste momento há uma acesa discussão sobre os limites das águas territoriais no Mediterrâneo Oriental, com vista à exploração das energias fósseis encontradas na zona.

A alteração pode ter consequências importantes. Akinci é um esquerdista a favor da reunificação com os cipriotas gregos – o que nunca pôde ser feito uma vez que o presidente da República Turca do Chipre do Norte (RTCN) não tem poderes executivos, apesar de ser internacionalmente considerado o representante legal da comunidade cipriota turca.

Em julho de 1974, o exército turco invadiu o terço norte de Chipre para proteger a comunidade cipriota turca após um golpe patrocinado pela Junta Militar de Atenas, que pretendia a anexação da ilha à Grécia. Em 1983, foi proclamado o RTCN, que nenhum país do mundo reconhece, exceto o governo da própria Turquia. Apesar das sucessivas rondas de negociações lideradas pelas Nações Unidas, que mantém um contingente de Capacetes Azuis no Chipre desde 1964, nenhum acordo foi alguma vez alcançado entre os cipriotas gregos e turcos. Chipre entrou na União Europeia em 2004 e toda a ilha passou a ser formalmente território comunitário – mas, como é evidente,  a legislação europeia só se aplica ao território sob o controlo da República de Chipre.

Estava previsto que as negociações fossem retomadas este mês de outubro – depois de três anos seguidos sem qualquer contacto oficial – mas, segundo os analistas, a eleição de Tatar, um homem da confiança de Ancara, impedirá, na prática, qualquer avanço na fusão dos dois territórios. A Turquia admite, quando muito, a criação de um Estado federado, com amplas autonomias para cada parte – uma espécie de réplica do que se passa na Bósnia-Herzegovina, com resultados pouco animadores em termos de consolidação federativa. Mas os cipriotas gregos preferem a anexação pura e simples do território do norte, nunca tendo dado o seu aval a esta solução.

Ersin Tatar era até agora primeiro-ministro e já como novo presidente enfatizou a importância de manter a Turquia como uma espécie de ‘pai-protetor’ dos cipriotas turcos – sem se esquecer de agradecer calorosamente ao presidente turco Recep Tayyip Erdogan pelo seu apoio.

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