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Erros da esquerda elegeram “aberração política chamada Bolsonaro”, diz ex-ministra de Lula da Silva

Entre os partidos que Marina Silva considera que precisam de rever as suas condutas e prestar contas aos brasileiros está o Partidos dos Trabalhadores (PT) e o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB, nascido no centro-esquerda, mas que se posiciona hoje no centro-direita), apesar de reconhecer que essas formações políticas conseguiram introduzir avanços no país.
2 Novembro 2021, 11h12

A ex-candidata presidencial brasileira Marina Silva afirmou hoje que o facto de parte da “esquerda tradicional” ter cometido “erros graves”, como corrupção, e não os admitir perante a sociedade, levou à eleição de uma “aberração política chamada Bolsonaro”.

Em entrevista à agência Lusa, Marina Silva, ex-ministra do Ambiente no Governo de Lula da Silva, considerou que, para uma mudança na esquerda brasileira, é necessário que o seu segmento mais tradicional “reconheça, primeiramente, os erros graves que cometeu do ponto de vista ético”, porque a “população merece que explicações sejam dadas”.

“Acho que o que falta numa parte da esquerda tradicional é reconhecer os erros graves que cometeu do ponto de vista ético, em cima da lógica de que os fins justificam os meios para permanecer no poder. Foi isso que levou, no meu entendimento, a uma grande decepção, que fez com que a gente tenha hoje uma aberração política chamada [Jair] Bolsonaro”, atual Presidente do Brasil, disse.

“É preciso que esse segmento, que não consegue admitir que errou, reconheça os seus erros, porque quando isso não acontece, significa que estão dispostos a continuar fazendo as mesmas coisas”, advogou a antiga governante, um dos principais nomes do ativismo ambiental do Brasil.

Entre os partidos que Marina Silva considera que precisam de rever as suas condutas e prestar contas aos brasileiros está o Partidos dos Trabalhadores (PT) e o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB, nascido no centro-esquerda, mas que se posiciona hoje no centro-direita), apesar de reconhecer que essas formações políticas conseguiram introduzir avanços no país.

“É claro que tivemos acertos cometidos tanto pelo PT, quanto pelo PSDB. O PSDB conseguiu tirar o Brasil da grave crise económica na época em que fez o ‘Plano Real’ [programa que implementou a moeda vigente e estabilizou a inflação], o PT deu uma grande contribuição com políticas sociais que ajudaram a diminuir a pobreza mas, infelizmente, fixaram-se na lógica do poder pelo poder e acabámos com uma grande deceção da sociedade”, declarou Marina.

De acordo com a ambientalista, esses “segmentos” da esquerda brasileira necessitam de dialogar com demais interlocutores políticos, não se focando apenas na lógica de “que já que estão em maioria, com uma base permanente”: “Em política e em democracia, nem sempre as maiorias estão com a razão”, afirmou.

Com essa reorganização e reinvenção da esquerda, o foco de Marina é que Jair Bolsonaro (extrema-direita), com quem a ativista se defrontou nas presidenciais de 2018, não consiga a reeleição.

No cenário de ser reeleito, a ex-ministra acredita que seria “uma catástrofe” para o país, “porque Bolsonaro trabalha o tempo todo para impor um regime autoritário no Brasil, tem projetos que são altamente nefastos para os interesses estratégicos do país, da América Latina e do equilíbrio do planeta”.

“Eu trabalho e torço para que Bolsonaro não seja reeleito e as sondagens têm indicado que há uma maioria na sociedade brasileira que não quer um segundo mandato dele.(…) Bolsonaro não tem como ganhar porque é, sem dúvida, o que há de pior para o Brasil e, se conseguisse um segundo mandato, isso seria um prejuízo enorme para a democracia, direitos humanos, políticas sociais, para a proteção da Amazónia e dos povos indígenas”, alertou.

Marina Silva, de 63 anos e única candidata mulher à Presidência do Brasil em 2018, tem uma longa carreira na política, assim como na defesa do ambiente.

A sua passagem mais marcante na política foi no cargo de ministra do Meio Ambiente entre 2003 e 2008, no Governo de Lula da Silva.

Disputou a Presidência do Brasil em três eleições, em 2010, 2014 e 2018, não tendo passado à segunda volta em nenhuma das ocasiões.

Agora, em entrevista à Lusa, defende mandatos de cinco anos, sem possibilidade de reeleição, uma vez que “os governantes acabam fazendo o que é necessário para se reeleger, e não o que é necessário para o país”.

“Infelizmente, a reeleição, desde que foi instituída na época de Fernando Henrique Cardoso [ex-PR do Brasil, 1995-2002], para mim foi um erro político grave cometido por ele. A reeleição não contribui para fortalecer a democracia e nem a continuidade de políticas públicas importantes para o Brasil”, porque, segundo Marina, os políticos acabam por “sacrificar” o país para se reelegerem.

“Desde 2010 que defendo o fim da reeleição para o executivo no Brasil e um mandato de cinco anos sem a possibilidade de reeleição para Presidentes, prefeitos e governadores. Apenas no Parlamento é que poderia haver reeleição. Na minha opinião, deveria fazer-se uma reforma política”, concluiu Marina Silva, apelando à entrada em vigor dessas eventuais alterações em 2026.

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