Na sua projeção para 2022, a empresa de recrutamento Michael Page, liderada em Portugal por Álvaro Fernández, antecipava: os perfis de auditoria, controlo e risco estarão entre os mais desejados. Tal cenário consubstancia um aumento das dificuldades para as empresas que precisam contratar, que não sendo novo tende a agravar-se no futuro.
A empresa DFK experimentou a dificuldade quando recentemente reforçou a equipa tanto com profissionais sem experiência, como com profissionais com experiência. “Notámos efetivamente um maior desafio de atração de talento, pela escassez de candidatos disponíveis e pelo aumento de concorrência seja de outros recrutadores do mercado nacional, seja pelo acesso ao mercado de trabalho internacional”, afirma Vítor Santos, senior partner da DFK, ao Jornal Económico.
No primeiro caso, o recrutamento foi feito maioritariamente com as Universidades, e no segundo através de firmas de seleção e recrutamento especializadas. A tónica foi a mesma.
Com efeito, há um problema instalado que se vai prolongar no tempo. Na perspetiva de Vítor Santos, os próximos anos “serão determinantes” e “apenas um esforço alinhado do sector de atividade irá permitir trabalhar a atratividade de talento”.
A DFK tem a sua génese na atividade de revisão legal de contas/auditoria. A sociedade de revisores oficiais de contas foi constituída em 1995 e associou-se à rede DFK Internacional em 2000. A diversificação e multidisciplinaridade foi reforçada a partir de setembro de 2020 com a fusão das áreas de auditoria e consultoria do Grupo Your, e com o reforço dos quadros. Hoje conta com 45 colaboradores nas três áreas.
Na contratação de recém-licenciados segue a prática das grandes empresas de auditoria e consultoria, que vão ao mercado geralmente em setembro contratar licenciados em gestão, economia ou contabilidade. “Assumimos que os candidatos têm a formação académica de base necessária para o trabalho de auditoria pelo que privilegiamos soft skills, como por exemplo, atitude, agilidade e flexibilidade, ambição, capacidade de partilha e trabalho de equipa, entre outros. Estamos conscientes de que a formação de um auditor é de fundo e é disponibilizada numa ótica de continuidade”, explica.
A DFK garante formação interna inicial, focada na cultura e valores, nas principais ferramentas utilizadas e nos temas essenciais de auditoria com exemplos práticos. À componente forte de formação “On the Job” com feedback das pessoas mais experientes, do primeiro ano, seguem-se outras ações espaçadas no tempo.
Formação
A profissão de auditor exige especialização técnica em matérias como contabilidade, economia, análise financeira, estatística e uso e prática de tecnologias de análise de dados. Em Portugal há oferta formativa com várias cambiantes. O ISCAL, herdeiro da Aula do Comércio criada pelo Marquês de Pombal no século XVIII, é a Escola mais antiga no ensino deste mister. Qualquer um dos seus sete mestrados — Análise Financeira, Auditoria, Contabilidade, Gestão das Instituições Financeiras, Controlo de Gestão de Avaliação de Desempenho, Fiscalidade, Gestão e Empreendimento — cumpre os requisitos. Destaque para o próprio mestrado em Auditoria. Distinguem-se pela forte componente prática aliada à científica. Também o plano de estudos do Curso de Especialização em Contabilidade e Auditoria do Instituto Superior de Contabilidade e Administração da Universidade de Aveiro salienta a “forte componente de análise crítica e de aplicação de conhecimentos a casos reais”. É complementada com formação noutras “áreas do conhecimento que permitam dar resposta às novas exigências do mercado”. Em Lisboa, o ISEG Executive Education realiza já a terceira edição do curso Auditoria, Risco e Cibersegurança. “No cenário atual, a pós-graduação em Auditoria, Risco e Cibersegurança cria uma resposta a uma necessidade de mercado nacional e internacional, que apresenta escassez de recursos nesta área”, explicam os coordenadores, Fátima Geada, diretora de Auditoria do grupo TAP e presidente da direção do Instituto Português de Auditoria Interna, e Sérgio Nunes, membro fundador da AP2SI e consultor de gestão de sistemas de informação, auditoria de IT e segurança de informação.
Profissão
No mundo digitalizado em que estamos a entrar, os perfis clássicos de auditoria, centrados no conhecimento técnico das normas começam a dar lugar ao chamado auditor 4.0. Um perfil mais sofisticado em que a contabilidade e as finanças coabitam com a paixão pelo digital e pela inovação.
Existe a expectativa de que a auditoria saia da zona cinzenta em que é vista e se torne mais visível e atrativa. “Os jovens recém-licenciados mostram desconhecimento do âmbito da profissão, alguma desconfiança e um receio muito grande de dias intermináveis quase sem horários e com tarefas sem fim”, descreve Vítor Santos.
“Para uma geração preocupada, e bem, com o ‘work life balance’, a conciliação de uma carreira na área da Auditoria e da Revisão de Contas com a vida pessoal pode parecer um objetivo impossível. Na realidade não é, há bons exemplos disso”, salienta.
Não é, porém, o único problema que o senior partner da DFK identifica e que lança em forma de interrogação: As firmas de auditoria têm verdadeiramente de perceber o que poderá atrair estes profissionais: dinheiro? mais dias de férias? outros benefícios? e quais?
Definitivamente, o paradigma do emprego mudou. “Se noutros tempos as firmas escolhiam quem queriam contratar — explica Vítor Santos — hoje as firmas são escolhidas e os candidatos não escolhem apenas as que pagam melhor… Escolhem aquelas que acreditam ser as melhores, as que têm práticas mais transparentes e mais justas, que se identificam com aquilo em que acreditam, aquelas onde sentem que estão a acrescentar valor e terão uma experiência relevante onde façam a diferença e não sejam apenas um número”.
O estudo anual sobre tendências de recrutamento para quadros executivos, em empresas de grande dimensão, da Michael Page para 2022 que o JE revelou em primeira mão, antecipava que o negócio de NPL (Non-Performing Loan) levaria a um grande crescimento do mercado financeiro e que as ‘fintech’ seriam importantes na atracão de novo talento. O destaque apontava para funções como compliance e auditoria, com ordenados atrativos, como os 37 mil euros na folha salarial do analista de risco.
“Consultora multinacional de referência no mercado está a reforçar a sua equipa com um auditor sénior”. A verdade é que anúncios como este multiplicam-se diariamente.
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