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Espanha: impasse mantém-se mais um dia. Ou três

O PSOE continua à espera dos votos do Unidos Podemos. Ou da abstenção da direita. Há hoje uma primeira votação sem que qualquer um destes dois cenários seja evidente. Quinta-feira há mais.
23 Julho 2019, 07h46

Num quadro em que o debate de investidura do futuro governo espanhol surgiu sem que haja qualquer evidência de um acordo entre o PSOE, que ganhou as eleições, e o Unidos Podemos (o Podemos mais a ‘velha’ esquerda do Partido Comunista Espanhol), resta aos espanhóis o facto de que esse acordo ainda inexistente continua a ser a única forma de o país se subtrair à necessidade de repetir as eleições.

Pedro Sánchez, líder do PSOE e presidente em exercício do governo, encerrou o seu discurso de ontem com um apelo ao Unidos Podemos: “o pacto não é fácil, mas estamos unidos pela promessa da esquerda” para a qual o partido aparenta estar, como há várias semanas, indisponível.

Para os  comentadores, a jogada de risco de Sánchez – a marcação do debate de investidura sem acordo prévio – está cimentada nas sondagens: o Unidos Podemos não tem nenhuma vontade política de repetir as eleições, depois da verdadeira ‘sangria’ de que foi alvo em 28 de abril passado, principalmente num quadro em que Ciudadanos poderia, em novo ato eleitoral, reforçar a sua posição. Ou, dito de outra forma, o Unidos Podemos acabará por aceitar votar favoravelmente um governo do PSOE, mesmo que acabe por ter de abdicar da sua presença no executivo, que Pedro Sánchez insiste em não aceitar.

À direita, o PSOE sabe com o que conta: Ciudadanos, PP e Vox anunciaram que não votarão a favor nem se absterão, quer o governo tenha ou deixe de ter elementos da esquerda dita radical.

No discurso de ontem, Sánchez fez o que todos estavam à espera: enfatizou os perigos imediatos da economia espanhola e afirmou que o país não tem tempo a perder face ao caderno de encargos que tem em mãos: “desemprego e precariedade, revolução digital, transição ecológica, discriminação contra as mulheres, desigualdade social e o futuro da Europa”.

Para Pedro Sánchez, estes são os temas sobre os quais importa intervir quanto antes, mas o líder do PSOE ouviu, à direita, aquilo que sabia que iria ouvir: reiterou o pedido de abstenção do PP  e do Ciudadanos e em resposta Albert Rivera, o líder do partido, voltou a explicar que não o faria.

O regresso ao tema encerra uma ameaça para o Unidos Podemos: se a direita se abstivesse, isso seria forma de o PSOE governar definitivamente sozinho, sem a ‘muleta’ da esquerda radical – o que poderia ser ‘simpático’ para o PP e o Ciudadanos.

Os analistas relevam que tudo isto são incertezas a mais, e que o PSOE está a enveredar por um caminho que se afigura bem mais difícil face à alternativa de conceder ao Unidos Podemos uns lugares no executivo em áreas que não sejam o ‘core’ da governação para os próximos quatro anos.

Todo este cenário manter-se-á, ao longo do dia de hoje, no sítio onde está neste momento: o da indefinição. Durante o dia de hoje, terá lugar a primeira votação – onde o PSOE precisaria de 176 votos – o que, a não suceder, levará à a uma segunda votação já na próxima quinta-feira.

 

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