Acho que foi desde o Euro 2004, se calhar por ter sido jogado em Portugal e por termos estado mesmo quase, quase, quase a ganhar, que até lhe sentimos o sabor, antes de os gregos fazerem aquela tropelia de nos levarem a taça; ou foi mais pela brilhante ideia de se pendurarem as bandeiras nas varandas, em apoio da seleção e que fez ressuscitar um patriotismo que andava por aí perdido e envergonhado. Lá em casa, seguimos a directiva de mister Scolari e tenho memória plena de me vestir a rigor para ver um dos jogos – por acaso, em Alvalade, um Nuno Gornes 1, Espanha 0. O facto é que foi uma festa em grande, uma espécie de Expo 98, mas ainda mais popular, juntando toda a gente, como se, de repente, descobríssemos que o futebol é algo que faz parte da nossa identidade. Passámos a acreditar, nem que fosse de mansinho, do género: “Olhem que isto, se calhar, com um bocadinho de sorte isto, até podemos ser primeiros”. Desde aí, esta sensação ou manifestação ou predisposição para apoio nunca desapareceu por completo, ainda que nunca tivesse tido a mesma grandeza inicial. Isto, até Paris e ao golo improvável do Eder-patinho-feio-da-seleção que nos levou a fazer aos franceses o que os gregos nos tinham feito a nós, completando um círculo É que, naquele momento, passámos o quase e chegámos mesmo lá, ganhámos, fomos os maiores. O problema é que acho que, lá no fundo, ainda nos estamos a habituar a ser campeões, a vestir esta pele diferente de “somos nós, ganhámos mesmo, é real”. Olhamos para os títulos dos jornais estrangeiros e vemos que quando nos emparelham lembram que, atenção, Portugal é campeã da Europa, e ainda olhamos para os lados e para trás, para ver de quem estão a falar. Ainda estamos na fase de aprendizagem de que é possível ganharmos – até ganhámos a Eurovisão, lembram-se? Quanto a mim, é isso que explica os jogos menos conseguidos desta caminhada na Rússia, que até já levaram a um comentário de Marcelo, preocupado com a possibilidade de não ter todos em Belém para serem medalhados. Devem estar os jogadores a pensar: “Eh pá, como é faz um campeão europeu nesta situação?” ou “agora somos campeões, temos de fazer isto à campeão”. E é verdade, agora temos maiores obrigações e uma imagem campioníssima a defender. E será uma questão de tempo, de nos habituarmos a sermos vencedores. Vão ver, depois de trazermos a taça do campeonato do mundo, de Moscovo.