O Grupo de Puebla, fórum latino-americano que reúne líderes da esquerda de 17 países, pretende incluir Portugal para ganhar projeção ibero-americana e tenciona convidar António Guterres para impulsionar uma agenda progressista numa região dominada pela direita.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, foi o nome proposto e aceito pelos líderes que, na sexta-feira, mantiveram um reunião virtual para assinalar o primeiro ano de vida do fórum sob o lema “Agenda Progressista para Superar a Crise da Pandemia”.
“O que acha de convidarmos António Guterres? Talvez seja ele o português que possamos convidar. Seria fantástico! Eu farei isso sem falta. Temos de trazê-lo”, prometeu Alicia Bárcena, secretária-executiva da Comissão Económica da ONU para a América Latina e Caraíbas (Cepal).
A ideia de Bárcena surgiu depois que o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros do Brasil Celso Amorim ter lamentado que o Grupo de Puebla, um ano depois da sua fundação, ainda não inclua Portugal.
“Temos de incluir um português porque senão os portugueses nos questionarão: o que fazem os nossos netos brasileiros que falam de ibero-américa, mas não incluem Portugal”, questionou Amorim perante a presença de diversos representantes latino-americanos e espanhóis.
O Grupo de Puebla nasceu há um ano na cidade homónima mexicana como um espaço de ideias e ações para conter o avanço das forças liberais que ganharam quase todas as eleições desde 2015, pondo fim, na região, a um ciclo de 12 anos de governos de esquerda.
Do grupo fazem parte o Presidente da Argentina, Alberto Fernández, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, dez ex-presidentes e chefes de Governo como Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff (Brasil), Evo Morales (Bolívia), José Mujica (Uruguai), Rafael Correa (Equador), Ernesto Samper (Colômbia) e Jose Luis Rodríguez Zapatero (Espanha), além de chefes da diplomacia (Argentina e Espanha), ex-chefes da diplomacia e ex-deputados, num total de 40 membros de 17 países.
O Grupo decidiu que se fará representar, através dos governos de Argentina, México e Espanha, no G20, o grupo das maiores economias do mundo, para debater a redução da dívida externa dos países de rendimento médio e novas fontes de financiamento através de organismos multilaterais de crédito e de novos impostos às empresas afetadas pela pandemia.
Alicia Bárcena, da Cepal, acrescentou que, a partir da ONU, também estão a impulsionar a inclusão dos países de rendimento médio em iniciativas para aliviar o pagamento das dívidas e para novos financiamentos devido à covid-19.
Bárcena referiu que a pandemia “evidenciou graves brechas estruturais” na América Latina, alertando que se não for feito nada haverá “uma sociedade mais desigual, mais pobre, mais desnutrida e furiosa”.
“Haverá uma contração (do PIB) de 9% na região, uma queda de 20% no comércio e 2,7 milhões de micro e pequenas empresas fechadas”, apontou.
“Mas o mais grave é o aumento da pobreza, que atingirá 230 milhões de pessoas, das quais 95 milhões estarão na pobreza extrema. O desemprego chegará a quase 44 milhões. Isso é gravíssimo numa sociedade com tanta informalidade como a que existe na América Latina”, indicou.
A população na região é de 569 milhões de pessoas.
Entre as propostas sugeridas no encontro para enfrentar a crise estão uma renda básica universal como proteção social aos efeitos da pandemia, mas que seja adicional e não substitutiva dos atuais programas sociais, a tributação de empresas digitais e das transações financeiras digitais, um imposto adicional às empresas beneficiadas pela pandemia, a empresas que não pagam impostos num país, mas atuam em outros.
O ex-senador brasileiro e ex-ministro de Lula da Silva e de Dilma Roussef Aloízio Mercadante propôs transformar todas estas iniciativas em projetos para se tornarem leis nos parlamentos dos países da região.
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