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Estádio mais caro do que hospital. Municipal de Braga pode custar mais 127 milhões do que o previsto

Após pedido de Carlos Almeida, vereador eleito pela CDU, a autarquia “desencadeou um esforço nunca antes feito de sistematização de dados e compilação de cifras”, relativo aos custos do Estádio Municipal de Braga. “No pior dos cenários e a contar todas as parcelas, o custo do Estádio pode ultrapassar os 192 milhões de euros”, revela autarca Ricardo Rio.
  • Estádio Municipal de Braga, apadrinhado como “Pedreira”
21 Outubro 2019, 16h42

O custo da construção do Estádio Municipal de Braga, que alberga os jogos do Sp. de Braga, pago com investimento público, “totaliza já”, pelo menos, 192 milhões de euros, um valor 127 milhões acima do que o orçamento inicial do estádio utilizado no Euro’2004, revelou a Câmara Municipal esta segunda-feira, 21 de outubro. Até ao momento a autarquia liderada pelo social-democrata Ricardo Rio já desembolsou 175.132.366 euros.

Após pedido de Carlos Almeida, vereador eleito pela CDU, a autarquia “desencadeou um esforço nunca antes feito de sistematização de dados e compilação de cifras”, documento sobre os custos do Estádio Municipal, apresentado hoje por Ricardo Rio.

O valor global representa “mais do que custou o hospital [de Braga]”, o que para a CDU local põe a nu o “desvario” de todo o processo de construção do estádio. “Os números são claros e indicam o desvario que foi a condução de todo o processo de construção do Estádio”, queixa-se Carlos Almeida, vereador da autarquia pela CDU.

O valor já apurado pode crescer ainda mais, uma vez que decorrem ainda vários processos judicias que podem “agravar os custo” do Estádio Municipal.

Em comunicado, a câmara de Braga acrescenta  que à verba de 175.132.366 euros “acrescerão os valores em pendência judicial, dos quais cerca de 11 milhões (relativos ao consórcio Soares da Costa/ASSOC) não são já passíveis de recurso, e os encargos financeiros a suportar até à liquidação total dos empréstimos bancários”, sendo que corre também um litígio com o arquiteto da obra, Souto Moura.

Para Ricardo Rio a identificação dos valores representa um trabalho “quase titânico dos serviços municipais”e que é importante explicar o que está em causa com números tão elevados: “Estes números revelam que o Estádio Municipal custou mais que o Hospital Central e mais 1,5 vezes que o Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia (INL). O que se gastou no Estádio dava para intervir 10 vezes na variante do Cávado e no Nó de Infias; representa 15 vezes o que se gastou no Forum Braga; mais de 30 vezes o valor que iremos gastar no Mercado Municipal ou até mesmo 50 vezes o valor gasto na requalificação do Parque Desportivo da Rodovia”.

O presidente da Câmara Municipal de Braga diz que se trata de “uma relação de valores completamente esmagadora” e que não há maneira de “ficar insensível à dimensão desproporcionada deste investimento em contraponto com o benefício aos bracarenses”.

Citado pela Lusa, o responsável pelo levantamento dos valores – o vereador da CDU, Carlos Almeida – conta que “os números são claros e indicam o desvario que foi a condução de todo o processo de construção do Estádio”, marcado por obras a mais, processos judiciais, trabalhos de recuperação, reparações e acréscimos. Salientando que ainda não pode “ver ao detalhe” o documento da autarquia, Carlos Almeida referiu que “têm que ser apuradas responsabilidades por estes números”.

Além dos custos de construção, o estádio representa para os cofres da autarquia custos anuais de manutenção e funcionamento: “Ficou sempre estabelecido que a câmara municipal suportaria todos os encargos de manutenção do equipamento e que caberia ao Clube custear os encargos de funcionamento (…). Já no que concerne à manutenção do estádio, os custos anuais variam de ano para ano, mas, em média, rondam os 110 mil euros, com trabalhos de eletricidade, mecânicos e construção civil”, lê-se no documento.

Números do “desvario”
Só na componente direta da construção, a infraestrutura representou um custo superior a 152 milhões de euros, quando o valor inicialmente previsto era de 65 milhões. Os números do levantamento foram dados a conhecer durante uma reunião de executivo municipal.

Em relação aos processos jurídicos, existe uma primeira sentença de quatro milhões de euros “que já está a ser paga e outra componente dessa mesma sentença que ascende a mais um milhão de euros”, lê-se no comunicado da autarquia. Existe ainda o valor que irá ser apurado de uma segunda sentença em que o consórcio Soares da Costa/ASSOC reivindica cerca de dez milhões de euros por “trabalhos a mais”.

Estes números “apenas” fazem referência à parte da construção do estádio. “É necessário acrescentar o projeto e os honorários do arquiteto já pagos (mais de 4 milhões) e os reivindicados (mais 2,6 milhões acrescidos de juros de 2006), que já teve decisão favorável na Justiça. O município já interpôs recurso.

Acresce também os valores inerentes à aquisição dos terrenos do Parque Norte – precisamente cinco milhões de euros -, cujas expropriações acabaram por custar 10 vezes mais que a proposta inicial e os juros dos empréstimos bancários, totalizando 25 milhões de euros.

“Tudo somado o Estádio Municipal já custou mais de 175 milhões de euros”, indica o documento. Falta somar o que resultar das sentenças judiciais com respetivos juros, valores que podem superar os 11 milhões de euros.

“No pior dos cenários e a contar todas as parcelas, o custo do Estádio pode ultrapassar os 192 milhões de euros”, revela Ricardo Rio.

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