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Estados Unidos entram em contradição por causa do Irão

Casa Branca mandou retirar pessoal não essencial do Iraque. Mas um dos chefes militares no terreno disse que não havia nenhum crescendo de ameaças. Horas depois era desmentido.
16 Maio 2019, 07h41

Os Estados Unidos ordenaram a todo o pessoal diplomático não essencial estacionado na sua embaixada em Bagdad, capital do Iraque, e ao consulado em Erbil, capital do Curdistão iraquiano, que abandonassem de imediato os seus postos diplomáticos.

O “alerta de segurança” emitido pelo Departamento de Estado é dirigido a todos os funcionários do governo norte-americano no Iraque e em parte do Curdistão que não tenham motivos inadiáveis para se manterem naquelas duas regiões. A nota adverte ainda que os serviços de vistos em ambas as posições serão “temporariamente suspensos”.

A decisão da Casa Branca segue-se a um crescendo de tensão na região, depois de os Estados Unidos terem intensificado as suas sanções contra o Irão e terem dado mostras de poderem avançar para um ataque armado se se der o caso de os iranianos decidirem de alguma forma responder àquilo que têm chamado provocações.

Ao mesmo tempo, os exércitos alemão e holandês cancelaram treinos de pessoal local no Iraque, também devido à crescente tensão regional. E ainda ontem a Espanha decidiu retirar um seu navio de guerra do ‘comboio’ marítimo norte-americano em que seguia, depois de este se ter desviado da rota prevista e ter penetrado no Estreito de Ormuz, em direção ao Golfo Pérsico.

Nos Estados Unidos, o secretário de Estado Mike Pompeo afirmou ter recebido informações sobre as atividades do Irão que colocaram “o pessoal norte-americano no Iraque em perigo iminente”. Washington reforçou a sua presença militar no Golfo, enviando o porta-aviões USS Abraham Lincoln, o navio de assalto anfíbio USS Arlington, uma bateria anti-míssil Patriot, bombardeiros e um submarino – o referido ‘comboio’ que o navio espanhol abandonou.

Os “sinais” detectados pelos serviços de inteligência nofrte-americanos, segundo autoridades citadas pelo jornal The New York Times, apontam para potenciais ataques de milícias xiitas ligadas ao Irão contra as tropas dos Estados Unidos sediadas no Iraque e na Síria.

A falta de transparência com a qual Washington denunciou uma ameaça tão séria causou ceticismo por parte das autoridades iraquianas. Também um alto comando militar britânico, o General Chris Ghika, vice-comandante da coligação liderada pelos Estados Unidos para combater os remanescentes do Daehs no Iraque e na Síria refutou a avaliação de risco realizada pelos Estados Unidos. “Não houve uma ameaça maior das forças apoiadas pelo Irão no Iraque e na Síria, estamos claramente conscientes de sua presença e observamos”, disse.

Poucas horas depois, Ghika, que há tempos conversou com jornalistas ocidentais por ‘conference call’, foi desmentido pelo Comando Central do Exército – algo muito pouco usual – o que lançou ainda mais suspeitas sobre a matéria.

Entretanto, a União Europeia voltou esta quarta-feira a afirmar o seu comprometimento com o acordo nuclear assinado com o Irão. Comentando o assunto, o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, recordou que a Agência Internacional de Energia Atómica, organismo responsável pela avaliação do cumprimento do acordo, “fez pelo menos 15” visitas de controlo ao Irão e “em todas elas não encontrou qualquer incumprimento da sua parte”, pelo que, exatamente para não se transformar em incumpridor, o lado da União mantém-se fiel ao que está assinado.

 

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