“As batalhas são ganhas ou perdidas antes de acontecerem”, escreveu Sun Tzu em “A Arte da Guerra”. Esta frase amplamente divulgada e praticada no mundo empresarial, como muitas outras do mesmo livro que têm inspirado inúmeros líderes das principais empresas, é, na realidade, o cerne da prosperidade, daí a sua notoriedade. O antigo general chinês, estratega militar, escritor e filósofo refere-se, no fundo, à principal acendalha do sucesso, seja em que actividade for – a estratégia. O plano, ou planos, que temos de elaborar muito antes de praticar uma actividade.

Embora o livro seja de estratégia miltar, tem resistido à passagem do tempo. Com mais de 2.500 anos de existência, é hoje um rito de passagem para muitos líderes. Porquê? É muito simples, porque, na prática, os negócios são batalhas constantes pela competitividade, não se travam com violência, mas no seu âmago são exactamente iguais a um qualquer conflito militar, pois visam derrotar a concorrência.

“Guerreiros vitoriosos ganham primeiro e vão depois para a Guerra, enquanto guerreiros derrotados vão primeiro para a guerra e depois tentam vencer”, esta outra frase é sublime no enquadramento que se deve dar a qualquer negócio, isto porque em Portugal o mais comum é abrir um negócio e depois tentar ter sucesso, ou seja o caminho dos derrotados.

Antes de abrir uma actividade, o empreendedor deve ter na sua mente a estratégia para vencer. Não um plano, mas muitos, tentando cobrir os mais diversos obstáculos que vai ter de enfrentar. Acima de tudo, porém, tem de munir-se de mecanismos que lhe dêem vantagem. A estratégia de ter uma vantagem sobre os outros é a base da competitividade, a base do sucesso, da prosperidade. Sem ela não passamos de projectos falhados, de paleio sem consequência.

Existem inúmeros exemplos de como fazer, de como elaborar uma estratégia económica vencedora, seja ao nível das políticas nacionais seja das empresas. Singapura, um pedaço de terra similar à área metropolitana do Porto, passou do terceiro para o primeiro mundo numa única geração, pelas mãos de Lee Kuan Yew. O primeiro-ministro que governou por três décadas é considerado o “pai da nação” e foi ele quem, em 1965, conseguiu retirar os quase três milhões de habitantes do desemprego e da pobreza, numa altura em que cerca de dois terços viviam em barracas.

Hoje, Singapura é uma das nações mais prósperas e uma das menos corruptas, com um PIB per capita de $87,855, contra os $28,933 de Portugal. A carga fiscal em Singapura é de 13.6% do PIB, apesar do país ter um superavit médio na ordem dos 4%. Já Portugal tem uma carga fiscal em máximos históricos nos 37% e deficits recorrentes.

Outro exemplo é o da Irlanda, um parceiro europeu. O crescimento económico irlandês iniciou-se em 1990, num período em que foi apelidado de “Tigre Celta”, e permitiu catapultar o país para o topo das nações mais prósperas, com um PIB per capita de $69.231, com um ordenado mínimo de 1.614 euros. Não, não é gralha, em 2000 já era de 969 euros. Com cerca de 23,9% de carga fiscal versus PIB, a Irlanda tem hoje um saldo praticamente nulo nas contas públicas, após a crise financeira/bancária de 2008, que no entanto não impediu um crescimento económico de 12,94% (agregado) nos últimos dois anos.

Como conseguiram estes países, sem o potencial de Portugal, atingir o pináculo da prosperidade? Estratégia, com um ponto comum de aposta inequívoca nos mercados financeiros, a maior e mais fiável fonte de investimento a qualquer escala. Singapura apostou na sua posição geográfica para se tornar num dos maiores hubs de import/export, ao mesmo tempo de fomentou um mercado de capitais exemplar, baseado na experiência da City de Londres, tem hoje uma capitalização bolsista aproximada de $700 biliões, com mais de 750 empresas cotadas.

A Irlanda apostou na captação dos grandes protagonistas das novas tecnologias, criando um hub invejável num dos sectores de maior crescimento e mais rentáveis da actualidade, ao mesmo tempo que o fomento do capital de risco, aliado à proximidade com a bolsa de Londres, fez o capital jorrar a rodos, com uma entrada de $66 biliões em investimento directo estrangeiro (2017), liderando pelo sexto ano consecutivo a lista da IBM “2017 Global Locations Trends”, relativa à atracção de capital para investimento de maior valor acrescentado, ou seja, os mais rentáveis.

Singapura também faz parte da lista e captou cerca de $61,1 biliões. Portugal não chegou sequer aos $7 biliões, para não falar no facto de ser investimento em sectores de pouco ou médio valor acrescentado, daí que, no final das contas, os ordenados não possam mexer muito. Lucramos pouco porque investimos mal, não há volta a dar a não ser traçando uma nova estratégia, uma que incentive apenas e só o investimento sério, de montante sério, para sectores onde a rentabilização do capital é elevada, permitindo assim pagar melhores ordenados aos trabalhadores.

Em suma, é preciso estratégia e não uma amálgama de retalhos na forma de propaganda financeira. É preciso apostar de uma vez por todas no estímulo ao capital, porque só ele gera mais capital. Sem ele andamos a rapar tachos. É preciso querer entrar para a lista dos países com investimento em sectores mais rentáveis, pois é esse investimento que faz a diferença, o restante só dá para pagar ordenados de 600 euros.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.