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“EUA não têm como nos esmagar porque somos os mais avançados”, diz fundador da Huawei

Num raro momento em que concedeu declarações, Ren Zhengfei revelou acreditar que os EUA estão a mover uma campanha politicamente motivada contra a empresa que fundou e disse que a empresa vai sobreviver. O fundador da Huawei confirmou a existência de um comité do partido comunista chinês na empresa.
19 Fevereiro 2019, 10h32

O fundador da gigante tecnolnógica chinesa Huawei, Ren Zhengfei, 74 anos, acredita que os Estados Unidos não podem “esmagar” a Huawei, imputando crimes cibernéticos e alegando que a atividade da empresa especialista em infraestruturas de telecomunicações  represente uma ameaça à segurança de diversos países, segundo declarações à BBC na segunda-feira.

“Os EUA não têm como nos esmagar porque somos os mais avançados. Mesmo que persuadam mais países a não recorrerem a nós temporariamente, podemos sempre reduzir a nossa dimensão”, afirmou o fundador da Huawei. Ou seja, Zhengfei crê que a empresa pode vir a ter de se tornar mais pequena, sobrevivendo à atual pressão norte-americana, uma vez que detém o know-how tecnológico mais avançado.

Em entrevista à estação pública britânica, Ren Zhengfei acusou os EUA de estarem empenhados numa campanha politicamente motivada contra a Huawei, numa alusão à detenção da diretora financeira da empresa, Meng Wanzhou, que é sua filha. Em dezembro de 2018, Wanzhou foi presa pelas autoridades canadianas, a pedido dos EUA, sob acusação de práticas de fraude, por alegadamente ter tentado contornar as sanções económicas impostas por Washington ao Irão, com a Huawei a fornecer serviços àquele Estado do Médio Oriente.

“Oponho-me, desde logo, ao que os EUA fizeram. Este ato, politicamente motivado, é inaceitável. Mas o EUA gostam de sancionar outros, é um método de combate habitual sempre que há problemas. Agora, vamos deixar a solução do problema para os tribunais”, afirmou o fundador da Huawei.

Para Ren Zhengfei, a vitória de Wahsington neste caso seria uma derrota “significativa” para a Huawei , mas o empresário chinês acredita que a empresa que criou poderá sempre tornar-se mais pequena mas nunca encerrar portas.

Desde o início do mês de fevereiro que Washington está aconselhar países aliados e parceiros a não recorrer a produtos ou serviços da Huawei. Na última semana, o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, alertou para a cooperação dos EUA a países que não recusem usar tecnologia da Huawei poderá transformar-se em sanções.

A última demonstração pública da pressão de Washington para um bloqueio internacional à Huawei ocorreu com o Reino Unido. Contudo, um centro de inteligência britânico alegou que os riscos inerentes à tecnologia da Huawei, propalados pelos governantes norte-americanos, podem ser controlados e minimizados.

Washington alega que a Huawei criou nas suas redes um acesso especial para as autoridades chinesas, através de uma espécie de “porta dos fundos” cibernética, para em redes de telecomunicações (sobretudo com o advento do 5G, matéria onde a Huawei é pioneira) de países do Ocidente – algo que a empresa chinesa sempre negou.

 

Confirma-se: Partido comunista chinês na Huawei

Também à BBC, Ren Zhengfei confirmou que o Partido Comunista da China está presente na Huawei, através de uma delegação. De facto, todas as empresas com atividade na China – nacionais ou estrangeiras – estão obrigadas por lei a ter um comité do PC da China como forma de representação dos trabalhadores chineses, mas também para fiscalização do cumprimento da lei do país.

Tal obrigatoriedade, levou no último ano à suspeição que essa ligação entre a Huawei e o PC da China fosse além de uma simples representação laboral ou fiscalização da lei chinesa. Sobre a ideia de que as operações da Huawei, e respetivas redes de telecounicações fora da China, estarão vulneráveis à intervenção do governo chinês, Ren Zhengfei negou a existência de qualquer acesso especial de forma a favorecer a estratégia política do governo chinês.

O fundador da Huawei salientou que o próprio governo de Xi Jinping já declarou oficialmente que nunca existiu nenhuma ordem política para que empresas chinesas permitissem uma interferência política na sua atividade. Contudo, a lei chinesa também não impede essa interferência caso seja solicitada a qualquer empresa com atividade na China.

Só na última década é que a Huawei tem conquistado terreno à escala mundial, sobretudo na área das telecomunicações com o fornecimento de infraestruturas de redes móveis. A Huawei também está presente em Portugal. A empresa chinesa tem ganho relevância mundial, principalmente, com o investimento de diversos países na rede móvel 5G.

De acordo com o último estudo da Brand Finance sobre os fornecedores de infraestruturas de telecomunicações, a Huawei foi eleita a melhor empresa em 2018.

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