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Eugénio Veiga: “Ilha do Fogo está esquecida”

O vereador e antigo presidente da Câmara Municipal de São Filipe Eugénio Veiga considera que a “ilha do Fogo está “quase esquecida, senão abandonada” e não deve continuar a merecer exclusivamente intervenções de emergência.
5 Novembro 2018, 10h30

O vereador sem pasta da Câmara Municipal de São Filipe, eleito pela lista do PAICV, Eugénio Veiga, considera que a “ilha do Fogo está “quase esquecida, senão abandonada” e não deve continuar a merecer exclusivamente intervenções de emergência.

“O Fogo está a viver um momento inquietante”, reforçou o antigo presidente da Câmara Municipal de São Filipe, em entrevista à Inforpress, notando que os programas PRRA e Poser, “se existirem, são clandestinos ou de expressão diminuta”, sublinhando que para o Fogo além da “falta de visão” não há interesse e quando assim é as dificuldades existentes em Cabo Verde tornar-se-ão “muito piores”.

Segundo o mesmo, neste momento não se fala de energias renováveis, saneamento e do sistema de esgoto para a cidade, modernização e extensão do aeródromo e a sua iluminação “caiu no esquecimento”, a melhoria do porto e das infra-estruturas da pesca, a reabilitação das infra-estruturas de rega gota a gota, de montantes previstos para os próximos dois anos, como vem acontecendo noutras paragens, e a implementação do pólo universitário.

Para o ex-autarca de São Filipe “a ilha não deve continuar a merecer exclusivamente intervenções emergenciais”, tendo indicado como exemplo as obras de limpeza e desobstrução da estrada perto da Ribeira de Campanas de Baixo, acesso ao interior de Chã das Caldeiras, cuja opção, segundo o mesmo, “consome mais terreno arável do que os danos acumulados das últimas duas erupções”, e a desobstrução da estrada de Sumbango, que é “de se louvar”, por incluir o sustimento das rochas, um trabalho que desde há muito devia ter sido feito.

A ilha, ajuntou, tem a sua potencialidade e o poder público deve ter uma “visão própria” do seu processo de desenvolvimento, e não condicionar a implementação de uma ou outra acção à situação emergência, como tem acontecido até agora, frisou Eugénio Veiga.

“O Governo deve pensar na ilha do Fogo valorizando aspectos cultural, turístico e marítimo, porque continuando como está o Fogo não conhecerá o ritmo de desenvolvimento desejado e o índice de pobreza terá um crescimento exponencial”, advogou o vereador sem pasta da edilidade de São Filipe, para quem, neste momento, já é visível nas zonas centro e sul da ilha o “desanimo e o sofrimento” das pessoas, que “será maior do que no ano passado”, porque “não há reserva alimentar e de pasto”, defendo uma “intervenção humanitária emergencial”.

Segundo o mesmo, a seca já confirmada, sobretudo na freguesia da Nossa Senhora da Conceição, a mais populosa, trará “desafios enormes” tendo em conta que “não há reservas do ano anterior, nem de pastos para os animais e nem de alimentos para as pessoas”.

Este indicou que a produção forrageira, mesmo recolhida na sua totalidade, não cobrirá um quarto das necessidades, pois a concentração maior do efectivo pecuário está onde a seca é mais severa e as poucas ervas não subsistirão para além do fim do ano.

Aliado à seca, “que cobre cerca de dois terços da ilha”, com a entrada em vigor das tarifas máximas nas passagens aéreas, a ilha, segundo o mesmo, “seguramente isolar-se-á cada vez mais das grandes oportunidades de desenvolvimento”, e a “valorização das suas potencialidades turísticas e de outra natureza” será adiada.

A situação, no dizer do ex-autarca, “é catastrófica” e impõe, “de imediato”, algumas medidas como a compensação aos agricultores pela perda havida, processo de recolha do pasto a partir de Novembro nas poucas localidades onde ele existe, adopção de um programa humanitário alargado, cobrindo cerca de quatro mil pessoas, subsídio de transporte aéreo para permitir o fluxo regular de passageiros para a ilha do Fogo, implementação de projectos estruturantes nesta ilha no inicio de 2019, para além dos “cuidados especiais” nos sectores da Saúde e da Educação.

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