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Eurico Brilhante Dias: “Temos um ‘pipeline’ de dois mil milhões de euros em curso”

Governante espera ver assinados em breve contratos de investimento direto estrangeiro nos setores automóvel, da aeronáutica e agroalimentar.
14 Julho 2019, 08h00

Há um ano apontou como meta que o Investimento Direto Estrangeiro (IDE) atingisse 65% do PIB até 2020. Essa meta mantém-se?
É uma meta que se mantém válida. Significa até 2020 aumentar em cinco pontos base o peso do stock do investimento estrangeiro em Portugal, ou seja, que o investimento que vem seja consideravelmente superior à depreciação do investimento. É um objetivo ambicioso. O investimento na economia real tem vindo a aumentar. Em 2018, a AICEP teve um grande ano de investimento, o melhor dos últimos dez anos. Já fechámos 2,7 mil milhões de euros de investimento nesta legislatura. Não só português, mas português e estrangeiro, de 20 proveniências diferentes. Esse aspeto terá uma tradução inexorável no aumento do stock de produto do IDE. Há investimento que não estamos a contratualizar, mas que já vem por méritos próprios do país, sem prejuízo da contratualização de incentivos financeiros ou fiscais. Quando a Google vem para Portugal, quando a Daimler Trucks escolhe Portugal para um centro de engenharia, quando a Volkswagen escolhe fazer aqui um centro de engenharia, quando a Cisco aumenta 200 postos de trabalho com um novo centro de apoio ao cliente, estamos sempre a falar de investimento que foi acompanhado por nós, mas que não foi contratualizado. Há mais investimento que está a chegar.

Quanto é que esse investimento pode representar?
Representa, acima de tudo, muitos postos de trabalho. Ao longo da legislatura contratualizámos novos 40 mil postos de trabalho e mantivemos 136 mil. Só para este pequeno conjunto de projetos estou a somar provavelmente mais 10%. Os 1.350 da Google, os 300 da Volkswagen, mais 200 da Cisco, mais os 500 que a Critical Tech Works está a colocar aqui em Lisboa, que são projetos não contratualizados, e em que podemos somar pelo menos mais quatro mil postos de trabalho. Como são muito intensos em capital intelectual, muitas vezes não têm grande intensidade de investimento. Mas são grandes alavancadores de postos de trabalho qualificados, que é um dos nossos maiores objetivos.

Mas em termos nominais, quanto é que o Governo espera que Portugal consiga captar em investimento este ano?
O valor contratualizado pela AICEP representa, na variação da Formação Bruta de Capital Fixo, 70% da variação dos últimos quatro anos. Temos neste momento um pipeline de dois mil milhões de euros em curso, aproximadamente, que esperamos contratualizar durante os próximos dois anos. Diria que podemos ter para 2019 um valor muito aproximado ao valor que foi recorde em 2018, em que assinámos aproximadamente 1.150 milhões de euros. Depende sempre da magnitude dos projetos, já que às vezes contratualizamos projetos mais intensivos em capital e outros mais intensivos em trabalho. Se tivéssemos valores muito próximos desses, teríamos ou o melhor ou o segundo melhor ano de sempre da AICEP. Neste momento, nesta legislatura, em contratação de pessoal, já temos os dois melhores anos dos últimos dez.

Quais são as principais origens desse investimento?
Ao longo dos quatro anos contratualizámos investimento de 21 proveniências diferentes. Uma delas, evidentemente, é Portugal. Os países onde temos mais contratualizações são França, Alemanha, Espanha e Estados Unidos.

E qual é o tipo de investimento?
Temos setores muito diferentes. Em incentivo são a indústria automóvel e a metalomecânica, os serviços – que incluem centros de serviços partilhados e centros de engenharia e de competências – e as indústrias transformadoras. Temos também a indústria de pasta de papel e o turismo. A indústria que cria mais postos de trabalho é a da programação e da informática, muito intensiva na área de engenharia e dos centros de serviços partilhados. Já a área que mais promoverá exportações é a indústria automóvel e de componentes e a metalomecânica. Ao longo da legislatura temos uma variação de quase 12 mil milhões de euros de exportações. Isto significa uma variação de quase 14% se compararmos com 2018. Está aqui grande parte do fôlego do aumento de exportações dos próximos anos.

Dado o peso das exportações na recuperação da economia portuguesa, o desacelerar do crescimento da economia mundial não o preocupa?
Claro que preocupa, mas as exportações portuguesas têm ganho quota de mercado. 2017 e 2018 foram dois anos de ganho de quota de mercado e as perspetivas de crescimento têm ficado sempre aquém do que é a procura dirigida à economia portuguesa. Temos que continuar a ganhar quota de mercado no futuro próximo. Uma das tarefas é diversificar mercados e temos feito isso. Não podemos transportar o abrandamento do crescimento da economia literalmente para o comportamento das exportações. Literalmente, mas claro que tem impacto. Essa diversificação tem que continuar e é por isso que temos feito uma grande aposta nos EUA e Canadá, no México, na América Latina, onde continuámos o trabalho com a Colômbia, Peru, Paraguai e Brasil. Com Angola e Moçambique com certeza, e continuamos a trabalhar na costa ocidental africana. Estivemos no Egipto, fomos ao Japão, onde temos tido bom comportamento nas leads de investimento.

Há novas leads nesses países?
Além de pipelines, temos novas leads que estão a ser trabalhadas, com grande concentração nos EUA, Japão, Canadá e Coreia do Sul. Temos feito um esforço de diplomacia económica, pois sabemos que o ciclo virtuoso de investimento estrangeiro/exportações nos tem permitido crescer. As exportações têm crescido também pelo investimento estrangeiro. Quando captamos investimento nestes países estamos ao mesmo tempo a promover asexportações.

Ao fim de sete anos, Portugal inverteu o ciclo e registou pela primeira vez um défice da balança comercial, ainda que explicado pelo investimento. É um fator de preocupação num país com endividamento externo em termos líquidos ainda elevado?
Em 2019 deveremos ter o oitavo ano consecutivo de balança de bens e serviços positiva. Estamos a passar agora por um dos piores períodos do ano. A balança de bens e serviços, aproximadamente a meio do ano, costuma fazer uma cava pronunciada para depois ter um fim de terceiro trimestre e um quarto trimestre mais favoráveis. A previsão original para o conjunto do ano era que fecharíamos este ano ainda com uma balança de bens e serviços positiva. Há duas coisas que temos que garantir: que as exportações continuam a crescer e que para que continuem a crescer estejamos a puxar por investimento. Esse investimento tem inexoravelmente importações e o importante é transformar essas importações em produtividade e exportações. É o ponto essencial. É para essa solução equilibrada que trabalhamos. Preocupava-me se tivéssemos um aumento muito substantivo de importações dedicadas exclusivamente ao consumo. Que o pico de aumento de importações esteja associado a bens de equipamentos muito centrados na produção de bens, que iremos exportar, parece-me positivo. Concordarei de que o país não se pode permitir a uma continuidade de défices e de necessidades de financiamento. Precisa de uma balança de bens e serviços equilibrada e não deve contribuir para as necessidades de financiamento da economia portuguesa.

Qual é o próximo grande contrato a ser negociado?
Posso dizer três áreas onde penso que vamos ter contratos muito proximamente. Acho que vamos ter no setor automóvel, e seria bom que fosse relacionado com mobilidade elétrica, que vai trazer um conjunto de alterações à produção automóvel e essa reestruturação da cadeia de valor do setor automóvel trará oportunidades. Tem ameaças, mas trará oportunidades de investimento. Acho que vamos poder ter novos contratos no setor aeronáutico. É claramente um setor deficitário em termos mundiais e precisa de mais capacidade instalada para responder à oferta. Não é fácil, obriga a um conjunto enorme de certificações, que quando abre uma unidade obriga a uma grande exigência processual. Acho que Portugal tem condições de captar mais investimento do setor aeronáutico e estamos a fazer um grande esforço nesse sentido. Terceiro, acho que seremos capazes de ter mais atração de investimento do setor agro-alimentar. O investimento contratualizado mais recentemente foi esta terça-feira, no setor agroalimentar, o 52 Fresh. Foi um investimento próximo de 50 milhões de euros e com quase 200 postos de trabalho. Acho que o potencial do Alqueva, do regadio, trará mais oportunidades de investimento nesta área.

Artigo publicado na edição nº 1995, de 28 de junho, do Jornal Económico

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