O combustível do mercado negro fabricado com óleo roubado nas refinarias rudimentares nigerianas é menos poluente que o diesel e a gasolina altamente tóxicos que a Europa exporta para a Nigéria, segundo revela o grupo de vigilância internacional de recursos Stakeholder Democracy Network (SDN).
O relatório, tornado público pelo jornal ‘The Guardian’, explica que a Shell, Exxon, Chevron e outras grandes empresas de petróleo extraem e exportam até dois milhões de barris por dia de petróleo ‘Bonny Light’, de alta qualidade e baixo teor de enxofre do delta do rio Níger. Mas muito pouco desse petróleo é refinado no país, por falta de condições industriais.
Em vez disso, revendedores internacionais exportam para a Nigéria cerca de 900 mil toneladas por ano de combustível ‘sujo’ de baixo teor, fabricado em refinarias holandesas, belgas e outras cidades europeias europeias, que assim se juntam a refinarias artesanais de pequena escala instaladas na Nigéria e que produzem grandes quantidades de combustível ilegal do petróleo roubado da rede de oleodutos que cruzam o delta do Níger.
O resultado líquido, diz o SDN, é que a Nigéria tem uma das piores poluições atmosféricas do mundo, com densas nuvens de fuligem que pairam sobre as cidades. A extrema toxicidade do combustível exportado da Europa surpreendeu os investigadores, que descobriram que, em média, o diesel vendido no país excedia os limites de poluição da União Europeia em 204 vezes.
A análise laboratorial também mostrou que o combustível no mercado negro era altamente poluente, mas de qualidade superior ao diesel e gasolina importados. O diesel ‘autóctone’ é ‘apenas’ 152 vezes mais poluente que o diesel europeu.
Mais da metade dos países em desenvolvimento, principalmente na África e na América Latina, ainda usa combustíveis com alto teor de enxofre, que são ilegais nos países ocidentais. Na Nigéria, a prática é incentivada por um sistema opaco de subsídio ao combustível, que mantém os preços relativamente baixos nas bombas, mas que alimenta a corrupção.
Segundo fontes da indústria que rastreiam movimentos legais e ilegais de carga de petróleo e citados pelo jornal, cerca de 80% dos produtos petrolíferos da Nigéria são provenientes da Holanda e da Bélgica. Os dois países têm algumas das maiores refinarias da Europa.
O relatório da SDN confirma as alegações feitas numa investigação do Public Eye de 2016 e num relatório do governo holandês em 2018, segundo so quais as refinarias e corretores de commodities europeus estavam a misturar petróleo bruto com benzeno e outros produtos químicos cancerígenos para criar combustíveis centenas de vezes acima dos limites de poluição europeus para o mercado africano fracamente regulamentado.
A Nigéria, juntamente com o Togo, o Gana, a Costa do Marfim e o Benin prometeram em 2017 interromper as importações de produtos petrolíferos destes teores como parte de uma iniciativa do programa ambiental da ONU. Mas enquanto o Gana agiu nesse snetido, a Nigéria argumentou que precisa de mais tempo para se adaptar.
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