[weglot_switcher]

Ex-presidente da Odebrecht recua em acusações contra Lula

O ex-presidente da Odebrecht disse que o antigo chefe de Estado não pode ser responsabilizado por alegadas irregularidades em financiamento de obras em Angola.
5 Outubro 2019, 09h26

O ex-presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, disse que o antigo chefe de Estado Lula da Silva não pode ser responsabilizado por alegadas irregularidades em financiamentos de obras em Angola.

De acordo com o jornal O Globo, Marcelo Odebrecht recuou em depoimentos anteriores e apontou várias contradições nos relatos do pai, Emílio Odebrecht, do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci e do próprio antigo mandatário Lula da Silva, sobre financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social (BNDES) em Angola.

“O meu pai (Emílio Odebrecht) disse que se esqueceu de uma porção de coisas. É extremamente injusto fazer a condenação de Lula sem fazer esclarecimento das contradições. O meu pai falou uma coisa comigo e falou outra coisa com Lula”, disse Marcelo, num depoimento por teleconferência ao juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10.ª Vara Federal, citado pelo Globo.

Em causa está um processo em que Lula, e os ex-ministros Antonio Palocci e Paulo Bernardo [minsitros dos Governos de Lula da Silva e da antiga Presidente Dilma Rousseff] estão a ser investigados por alegado favorecimento à Odebrecht, em financiamentos de obras da construtora em Angola.

O Ministério Público Federal suspeita que a Odebrecht pagou 36 milhões de dólares (33 milhões de euros) em subornos para campanhas eleitorais do Partido dos trabalhadores (PT) em 2010, numa alegada retribuição ao aumento de uma linha de crédito do BNDES, de 500 milhões de dólares para mil milhões de dólares (de 455 milhões de euros para 911 milhões de euros).

De acordo com o Globo, num dos depoimentos da delação premiada [benefício legal concedido a um réu que aceite colaborar com a investigação criminal], Marcelo disse que Paulo Bernardo pediu a doação por indicação do ex-presidente Lula.

No entanto, agora Marcelo Odebrecht recuou e afirmou que a questão devia ser esclarecida por Emílio Odebrecht e pelo ex-ministro, argumentando ainda que o intermediário da construtora com Lula era o pai.

No mês passado, num depoimento decorrente do mesmo processo, Emílio Odebrecht disse que Lula não fez nenhum pedido de dinheiro quando os dois trataram sobre obras da Odebrecht em Angola.

“Esse depoimento (de Emílio Odebrecht), somado ao que disse hoje (sexta-feira) Marcelo Odebrecht deixa inequívoco que o ex-presidente Lula não praticou nenhum ato ilícito, que lhe foi imputado nesta ação”, afirmou o advogado do antigo mandatário Cristiano Zanin.

O herdeiro da construtora brasileira Odebrecht, Marcelo Odebrecht, envolvido num escândalo de corrupção de dimensão internacional, começou no mês passado a cumprir sentença por corrupção em regime semiaberto, depois de decidir colaborar com as autoridades para confessar os crimes praticados no Brasil e noutros países, podendo agora sair durante o dia para trabalhar, sendo obrigado a regressar a casa à noite.

Odebrecht foi preso em junho de 2015, no âmbito da Lava Jato, a maior operação contra a corrupção no Brasil, que investiga há mais de cinco anos os desvios milionários de fundos na Petrobras e que levou dezenas de empresários e políticos à prisão, incluindo o ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso desde abril de 2018.

Em 2016, o empresário foi condenado a 19 anos e quatro meses por corrupção, branqueamento de capitais e associação ilícita, e, no final daquele ano, Marcelo Odebrecht, juntamente com 76 ex-executivos da empresa, assinaram um acordo de colaboração com as autoridades brasileiras.

Nos depoimentos, confessaram as práticas corruptas praticadas no Brasil e noutros países da América Latina e de África, prometendo não repetir essas ações.

O ex-Presidente Lula da Silva, preso por corrupção desde abril do ano passado, cumpre pena de oito anos e dez meses de cadeia, ratificada em três instâncias diferentes, tendo sido autorizado, no final de setembro, a passar para um regime semiaberto.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.