O momento que estamos a atravessar, na Europa e no mundo, não é um teste à capacidade de resistência da economia internacional porque é um teste ao teste. O verdadeiro teste virá depois, quando for a altura de iniciar a recuperação. Para já, a forte travagem da atividade económica está a começar a ter as suas consequências, e pesadas.

Os EUA podem perder 5 milhões de empregos e 1,5 milhões de milhões de dólares de produção: a JPMorgan avança uma queda do produto de 1,8% e a perda de 7 milhões de empregos, enquanto a Goldman Sachs projeta uma queda do produto de até 3,1% e a subida da taxa de desemprego de 3,5% para 9% (o pico anterior foi 10% em outubro de 2009). Mas a procissão ainda só vai no adro – citando um académico americano, as projeções económicas estão hoje mais nas mãos dos biólogos que dos economistas.

E a situação não é homogénea: a Amazon vai contratar mais 100 mil trabalhadores e a Walmart 150 mil para fazerem entregas, e a Atlas Survival Shelters, que produz bunkers entre 25 mil e 3 milhões de dólares, vendeu o stock numa semana. Que fazer? Trata-se de um choque temporário, os remédios são keynesianos: atira-se dinheiro para os problemas.

Nos EUA, na útima rodada iam 900 mil milhões de dólares; no Reino Unido, onde segundo o “Guardian” finalmente o governo declarou guerra à Covid-19, vão 330 mil milhões de libras, 15% do PIB; na União Europeia (UE), durante este ano não há limites aos défices orçamentais, a versão bruxelense do “whatever it takes” de Draghi.

Ninguém sabe quanto tempo a queda económica vai durar, seis meses, nove meses ou mais, mas já se discute como será a recuperação, a sopa de letras: se em V (uma forte queda agora e uma recuperação rápida de seguida), se em U (a recuperação tarda).

Na UE a assimetria dos efeitos – na repercussão da pandemia em cada país, nos custos do tratamento da situação, nos efeitos económicos e sociais – põe o desafio da resposta do conjunto. A coesão da União será posta à prova a um nível mais profundo que o choque económico de 2008-2011 ou a política de imigração, e que deixará marcas, para um lado ou para o outro.

O clássico “nada será como dantes”, uma afirmação vazia pois nunca nada é como dantes, fica ainda mais vazio. Mas é provável que haja lições tiradas do presente que “formatem” o futuro: por exemplo, vai acentuar-se o teletrabalho, e em que medida e atividades? No fim disto, vamos menos às lojas e encomendar mais? Vamos falar com os nossos amigos por Skype ou Zoom em vez de ir jantar fora? Vamos menos ao cinema e gastar mais na Netflix? Vamos viajar menos e ficar mais em casa?

Antecipar corretamente estas mudanças permitirá ao “first mover” ganhar muito dinheiro, e criará às “autoridades” um novo contexto de relações económicas e sociais, com reflexos, claro, nas relações políticas. E este é o verdadeiro teste, até que ponto estamos preparados para outro futuro.