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“Pequena dimensão de algumas empresas ainda dificulta ganhos de escala”

Secretária de Estado da Indústria, Ana Teresa Lehmann, analisa a evolução das exportações portuguesas, em entrevista ao Jornal Económico. Governante antecipa que as vendas ao exterior continuem a impulsionar o PIB, mas ainda há desafios por superar no tecido empresarial.
  • Cristina Bernardo
6 Dezembro 2017, 07h45

A secretária de Estado da Indústria, Ana Teresa Lehmann, antevê que as exportações vão continuar a suportar o crescimento económico do país, na sequência do investimento que tem vindo a ser feito, quer na esfera pública, quer na privada, em qualificação dos recursos humanos, I&D e inovação. Uma aposta que se traduz hoje, em sua opinião, numa “melhoria do ambiente de negócios e das condições de contexto”.

Como analisa a evolução das exportações portuguesas nos últimos anos?

Fortemente positiva. Estamos a passar por um momento muito interessante na economia nacional. O PIB cresceu 3% no segundo trimestre deste ano, registando o maior crescimento homólogo trimestral dos últimos 16 anos, com as exportações industriais a ter um forte contributo para este resultado. As exportações no primeiro semestre cresceram mais de 12%, o maior crescimento dos últimos seis anos, beneficiando da evolução favorável de setores como o metalúrgico e metalomecânico, que está a crescer a dois dígitos e a atingir máximos históricos, e ainda os setores do têxtil e do calçado, que também baterão recordes de faturação e exportação este ano.

Recordo que entre 2010 e 2016 as exportações passaram de 29% para mais de 40% do PIB, correspondendo a ganhos de quota pelas empresas portuguesas nos principais mercados e a diversificação dos destinos dos bens e serviços nacionais.

Como têm sido enfrentadas as crises em importantes mercados de destino, nomeadamente, na União Europeia (UE), Angola e Brasil?

As empresas portuguesas têm sabido adaptar-se à realidade económica dos mercados para onde exportam. Na grave crise económica e financeira iniciada em 2008 houve uma importante retração na procura externa proveniente de países da UE ao que as nossas empresas responderam tentando diversificar as suas exportações para mercados extra europeus.

Numa fase mais recente o menor crescimento de alguns países fora da UE, como os dois países que refere e que atravessaram um momento de crise, levou a que as empresas portuguesas reorientassem novamente as suas vendas para os mercados europeus e para outros mercados emergentes com evoluções económicas mais dinâmicas. De facto, a quota dos mercados extra-comunitários, variou de 25,7% em 2010 para 31,5% em 2013, e de novo para 26,1% em 2016, testemunhando estas oscilações, num período em que as exportações totais de bens e serviços cresceram em todos os anos.

As empresas portuguesas também têm tido o mérito de conseguir alicerçar a sua competitividade em bases mais sustentáveis e duradouras. As empresas têm produzido e exportado bens e serviços de maior qualidade e de mais elevado valor acrescentado. Tal deve-se a uma maior qualificação dos nossos recursos humanos, a relevantes investimentos em I&D e inovação e à melhoria do ambiente de negócios e das condições de contexto.

Além destes fatores qualitativos é de registar que tem havido um aumento progressivo na base exportadora. Ou seja, cada vez mais empresas apostam nos mercados externos como destinos finais dos seus produtos.

Quais considera serem os fatores críticos de sucesso para as exportadoras portuguesas?

O sucesso passa muito pelos recursos humanos qualificados pelo investimento em inovação nos produtos e processos, no marketing e na inovação organizacional, por um ambiente de negócios doméstico mais ágil e vantajoso para as empresas, proporcionando um maior acesso ao financiamento e a redução dos custos de contexto.

Também são relevantes as estratégias de marketing consistentes, o conhecimento dos mercados e da concorrência externa e a pertença a cadeias de valor internacionais. Para tal, é fundamental a promoção de estratégias de eficiência coletiva. A política de clusters, por exemplo, é uma das facetas desta visão. Esta política visa incentivar a mobilização e interação de agentes económicos e atores do sistema científico e tecnológico nacional com o objetivo de aprofundar a partilha de conhecimentos e incrementar a internacionalização das empresas. Temos já um conjunto de clusters reconhecidos que terão um papel muito importante no reforço destas redes empresariais, quer a nível nacional quer a nível internacional.

E quais são os principais constrangimentos para as exportadoras portuguesas?

Sobretudo a pequena dimensão de algumas das nossas empresas, que dificulta ganhos de escala, e também a formação insuficiente para a internacionalização. Os mercados internacionais são decisivos para que as empresas possam crescer e é fundamental que os gestores e restantes recursos humanos saibam como gerir a mudança em ambientes por um lado mais colaborativos, e por outro, mais competitivos para ultrapassar com sucesso os desafios do crescimento que todas as empresas enfrentam.

Como antevê a evolução da capacidade exportadora das empresas portuguesas?

As exportações deverão continuar a crescer a bom ritmo, beneficiando dos investimentos realizados em setores como o automóvel, o aeronáutico, o calçado ou o agroindustrial, entre outros, e da continuação do crescimento no turismo e nas exportações de outros serviços. As exportações continuam a sustentar o nosso crescimento e para que o país continue a crescer temos de reforçar a aposta na inovação, na internacionalização. Os programas lançados pelo Governo, nomeadamente as medidas da Indústria 4.0, o programa Interface e outras políticas, vão ser fulcrais para apoiar este crescimento sustentado da nossa economia.

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