Os portugueses e empresas portuguesas nunca limitaram a sua acção às fronteiras nacionais e desde sempre adoptaram uma actuação virada para o exterior. Essa deve ser, cada vez mais, uma premissa de crescimento para os empresários portugueses.

Reconhecendo que as exportações são e devem ser um pilar chave no crescimento e sustentabilidade da economia nacional, a verdade é que se observa uma desaceleração das mesmas (10% em 2017 vs 5,3% em 2018) com o desafio adicional das expectativas de crescimento dos nossos principais destinos (Espanha, França, Alemanha, Reino Unido e E.U.A., que no seu conjunto representam 60,8% das nossas exportações em 2018) estarem a ser revistas em baixa.

É imprescindível alargar o nosso horizonte, considerando regiões menos tradicionais, mas com um enorme potencial, como por exemplo a Região do Sudeste Asiático (ASEAN1).

Com uma população de cerca de 640 milhões de habitantes e maioritariamente jovem (84,9% abaixo dos 55 anos) e uma classe média emergente (rendimento per capita com crescimento médio anual de 4% desde 2009 e actualmente com níveis médios de literacia acima dos 95%) apresenta um conjunto de argumentos de elevado interesse para se posicionar como um destino de exportação relevante para Portugal.

Claro que se tratando de uma região composta por 10 países, concentra em si diversas realidades, pelo que importa conhecer as suas especificidades. Tomemos como exemplo o Vietname.

Com uma população de aproximadamente 93 milhões, extremamente jovem (85,3% abaixo dos 55 anos), uma classe média emergente (rendimento per capita com crescimento médio anual de 9% desde 2009, taxa que se prevê estável pelo menos até 2022) bastante virada para o exterior (importações aumentaram 17,6% desde Abril de 2018, ultrapassando os 20,5 mil milhões de USD, muito devido ao EVFTA2 – um dos mais ambiciosos acordos de comércio livre estabelecido entre a União Europeia e uma economia emergente), o Vietname privilegia bastante a qualidade, podendo ser esse mesmo um dos factores mais fortes para a nossa entrada.

Claro que cada combinação ‘empresa/destino’ deve definir uma abordagem própria, o conceito ‘one size fits all’ será muito provavelmente um passo para o insucesso, até porque as receitas de exportação de outrora já não funcionam e têm de ser readequadas.

A Roland Berger apoiou recentemente um grande grupo nacional a avaliar o potencial deste mercado bem como a definir a sua estratégia de entrada, na qual se pretende destacar um conjunto de 7 aspectos críticos: i) pensar num horizonte mínimo de médio prazo (~5 anos); ii) avaliar o potencial do mercado numa perspectiva evolutiva (2 a 5 anos); iii) compreender a estrutura de mercado e ambiente competitivo não apenas via desk research mas através de entrevistas com os principais stakeholders; iv) analisar a cadeia de valor que se pretende endereçar e definir claramente como se pode ser relevante; v) conhecer verdadeiramente targets que se pretendem endereçar, o que pressupõe análises de campo e conversas com os próprios; vi) aliar forças com parceiros e entidades que tenham ambições em comum em Portugal e vii)  estabelecer uma parceria com um player local que aporte valor nos “detalhes” que realmente interessam.

Se os empresários portugueses pretendem continuar a crescer, é fundamental encontrarem novas avenidas de evolução, em que a exportação, naturalmente, deverá assumir uma posição de protagonismo, e preferencialmente explorar opções menos óbvias, sobretudo se pretendem alcançar níveis de crescimento com materialidade e com perspectivas de médio longo-prazo.

Para que tal aconteça há que começar a alargar os horizontes possíveis, avaliar o momentum da empresa e do destino e definir a melhor forma para abordar o mercado.

Seria muito interessante num período de cinco anos encontrar um top 10 de exportações distinto do actual, sobretudo se esse novo mix transmitisse perspectivas de um maior crescimento e de um menor risco de concentração.

 

 

1) ASEAN – Association of Southeast Asian Nations

2) EVFTA – EU-Vietnam Free Trade Agreement