Entre 1991 e 2005, as exportações portuguesas caíram de 32% para 27% do PIB. Desde então foram progredindo, em 2018 representavam 44% e o Banco de Portugal prevê que em 2021 se chegue aos 50%.

Entre 2007 e 2017 as exportações portuguesas tiveram um melhor desempenho do que as alemãs, italianas ou húngaras. Com base num índice 2007=100, as exportações portuguesas situam-se nos 122, as alemãs e as espanholas nos 105, tendo as italianas decrescido, segundo o relatório da OCDE sobre a economia portuguesa, recentemente divulgado.

Esta história de sucesso tem as suas raízes, mas foi a crise económica em 2009 e, sobretudo, a crise da dívida soberana, que levou à intervenção da troika em 2011 e teve vários tipos de impacto, desde um crescimento grande do desemprego, um “colossal” aumento de impostos, e serviu como um despertador e um ponto de fuga à crise que levou ao aumento do peso das exportações no PIB português.

As exportações de bens e serviços foram a componente da procura global que mais contribuiu para a recuperação da economia portuguesa iniciada em 2013. Este traço irá manter-se em 2018-21, sendo que no final do horizonte de projecção as exportações em termos reais deverão atingir um crescimento de cerca de 70% face ao nível observado antes da crise financeira internacional. O peso deste agregado no PIB deverá ser próximo de 50% em 2021 refere o Banco de Portugal no seu Boletim Económico de Inverno.

Como refere a OCDE, para esta história de sucesso “contribuíram não só o rápido crescimento do sector do turismo, como também as exportações de diversos setores da indústria transformadora, em resultado das melhorias na qualidade dos produtos e da descida dos preços relativos das exportações”, explica a OCDE.

Entre 1991 e 2005, as exportações passaram de 32% para 27% do PIB. A estagnação neste período, que foi denominada como “comportamento desapontante das exportações entre 1990-2005”, teve impacto não só na estagnação do nível de abertura comercial, como ainda no persistente défice da balança de bens e serviços.

Depois do forte impulso às exportações, nos primeiros anos da adesão à CEE, registou-se um abrandamento do ritmo de crescimento da actividade exportadora, enquanto as importações mantiveram um crescimento acentuado, em parte devido ao aumento dos preços de produtos primários como os cereais que se importavam dos Estados Unidos, o que conduziu ao persistente défice externo verificado durante as décadas de 1990 e de 2000.

Com o alargamento a Leste da Europa a partir de 1990 e a abertura do comércio mundial, primeiro aos países da bacia do Mediterrâneo (a que outros se seguiram, no que viria a culminar na entrada, em 2001, da China na Organização Mundial de Comércio), deu-se o choque do aumento da concorrência dos produtos vindos de países de baixos salários no mercado europeu, abalando sectores tradicionais como o do têxtil, vestuário e calçado. Este efeito também está relacionado com “o contexto de fragilidade do tecido produtivo nacional (baixos níveis de capitais próprios, gestão familiar, ineficiências no funcionamento do mercado de trabalho, baixos níveis de capital humano e capital por trabalhador)”.

As alterações cambiais provocadas pelo mercado único, a liberalização do movimento dos capitais em 1992 e a criação do Euro e da União Monetária também tiveram a sua influência. Entre 2000 e 2008 o euro passou de 0,83 dólares para 1,6 dólares e esta valorização teve impacto porque os produtos exportados para a zona euro têm a concorrência de bens oriundos de países extracomunitários.

O regresso ao crescimento

A partir de 2005, as exportações voltaram a ganhar algum fôlego. Entre 2008 e 2018 o peso das exportações no Produto Interno Bruto cresceu 13 pontos percentuais, passando de 31% para 44%. Neste período houve forte crescimento das exportações em volume, que passaram de 56,2 mil milhões de euros para 89,2 mil milhões de euros, com ganhos de quota de mercado significativos em comparação com os restantes países da área do euro.

Assinala-se ainda que esta evolução contou, inicialmente, não só com o desempenho de empresas tradicionalmente exportadoras mas também com o de empresas que iniciaram a sua actividade no comércio internacional, e caracterizou-se pela diversidade, com o processo a atingir praticamente todos os sectores de actividade da economia portuguesa.

Entre 2005 e 2014 passou-se de 17.315 empresas exportadoras de bens 22.456 empresas, segundo dados do INE. No entanto, desde então as exportadoras têm-se mantido nas 21 mil, com cerca de mil empresas a serem exportadoras esporádicas. As exportações portuguesas atingiram sempre valores acima da taxa de crescimento das importações mundiais, aumentando a quota de Portugal no comércio mundial da generalidade dos produtos.

Estes números só projectam a importância do fenómeno. Na sua sombra estão empresas e empresários de vários sectores e de várias regiões que têm uma história para contar. As grandes empresas podem ser bons casos, mas o facto de haver cada vez mais médias e pequenas empresas a exportar revela uma competitividade empresarial mais alargada, porque a internacionalização e a integração nas cadeias de valor globais implicam maior capacidade técnica, de gestão, de inovação, de produtividade e de colaboração. Aliás, este crescimento das exportações a partir de 2009 e a subida na cadeia de valor em sectores como o calçado, os têxteis, a agricultura e a agro-indústria, os produtos metálicos, as máquinas, o automóvel e a aeronáutica, o turismo, os transportes, o software e a saúde, passaram por iniciativas empresariais inovadoras em que se coordenaram com empresas, associações, centros tecnológicos, universidades e instituições públicas.

O patchwork dos sectores

O facto mais relevante desta última década e meia foram as mudanças na estrutura sectorial das exportações portuguesas, que assumiram uma nova configuração depois de 2005. Cresceram e houve diversificação sectorial, e, ao contrário do passado, não existe hoje um pólo exportador dominante. Nas décadas de 60 a 80 os têxteis, vestuário e calçado foram responsáveis por mais de 50% do crescimento das exportações, para cederem o lugar, durante os anos 90, aos sectores das máquinas e automóvel.

Desde 2005, “coincidiu um crescimento forte das exportações com a continuação da alteração da estrutura sectorial, ou seja, as exportações portuguesas voltam a crescer, mas tal crescimento não foi liderado nem pelos sectores tradicionais nem por um conjunto limitado de grandes projectos em sectores bem definidos”.

Este desempenho foi assente em exportações tão diferentes como a agricultura e a indústria alimentar, a pasta e papel, mobiliário, produtos metálicos, plásticos, produtos petrolíferos, indústria química e farmacêutica, ao mesmo tempo que sectores tradicionais como vestuário e calçado renasciam e os sectores dos automóveis e máquinas mantinham os seus níveis. A alteração dos produtos exportados foi acompanhada por um aumento do peso das exportações de serviços, que não se circunscreveu ao turismo.

Actualmente, Portugal exporta uma paleta de produtos que cruza todos os sectores económicos. Entre 2001 e 2012, 64% do crescimento das exportações verificou-se num conjunto de sectores que, em 2001, representava apenas 31% das exportações, enquanto os principais sectores exportadores (com 58% das exportações em 2001) contribuíram com apenas 15% do crescimento total.

A agricultura e as agro-indústrias, bebidas, produtos metálicos, de plástico e borracha, químicos e farmacêuticos, pasta e papel, mobiliário, material óptico e fotográfico, que representavam 19% das exportações, passaram, no seu conjunto, para 27%, e os transportes, serviços às empresas, comunicações, tecnologias da informação e construção, de 12% para 18%. Os mais tradicionais caíram com o automóvel, máquinas e material eléctrico, de 24% para 18%, o turismo de 16% para 13% e os têxteis, vestuário e calçado de 18% para 9%.

A este “processo de destruição criativa nos sectores tradicionais” juntou-se a exportação em novos sectores através do aproveitamento de novas vantagens comparativas. A crise económica e financeira desde 2009 pode ter contribuído para que muitas empresas se tenham arriscado na actividade exportadora, sobretudo em áreas como a construção e serviços, que eram vistas como não-transaccionáveis. Em 2013, segundo o estudo do Banco de Portugal, as empresas em actividade que se redireccionaram para o exterior representavam 26% das empresas exportadoras e 15% das exportações.

Numa década o turismo triplicou a sua importância no PIB, que anda agora na ordem dos 14%, e fez com que as exportações de serviços duplicassem o seu peso no PIB e passassem de 7.440 milhões de euros em 2005 para 16.608 milhões de euros em 2018. Entre 2010-2014, as receitas turísticas internacionais cresceram uma média anual de 8,2% em Portugal, um desempenho que superou a concorrência espanhola (4,5%), mediterrânica e europeia (5,4%) e mundial (6,5%).

Entre 1960 e 1980, Espanha absorveu em média cerca de 2% do total das exportações portuguesas e só em 1981 se tornou o décimo mercado. Era uma situação anómala em termos europeus, dois países vizinhos, com uma fronteira de 1.215 quilómetros de extensão, que praticamente não comerciavam. Em 2000 Espanha torna-se o principal destino das exportações portuguesas e o principal parceiro comercial.

As exportações portuguesas de bens chegam a mais de 200 países, mas o núcleo duro é formado por um conjunto reduzido de países. Em 2005 a União Europeia-28 representava 77,66% das exportações, e em 2018 passavam para 74,4%. Contudo, há cada vez maior diversidade de mercados. Em 2005 os 10 principais mercados de exportação (Espanha, França, Alemanha, Reino Unido, Estados Unidos, Itália, Países Baixos, Bélgica, Angola e Singapura) representavam 80,5% das exportações de bens. Dez anos depois, com a China em vez de Singapura, os 10 principais mercados passaram a significar 72,8%, tendo entretanto as exportações de bens crescido 46,73%.

O foco e o risco do mercado externo

Hoje, as exportações portuguesas exigem mais a têmpera dos navegadores no tempo das Descobertas do que a astúcia do Oliveira da Figueira do Tintin. Porque a mais-valia da exportação está cada vez menos nas mercadorias que enviam por contentor para um mercado mas mais, por exemplo, na concepção de um produto ou de uma máquina e na distribuição com marca, a que poderíamos chamar “internacionalização”. Até porque a exportação não é uma mera operação comercial feita a um balcão. Implica riscos, sobretudo para as PME.

Como refere Aurora Teixeira, professora na Faculdade de Economia do Porto, “estas empresas carecem frequentemente de recursos humanos, informação e conhecimento que lhes permitam delinear estratégias de entrada em novos mercados, sobretudo fora da União Europeia. A exportação é uma estratégia que envolve sérios riscos (risco-país, nomeadamente riscos de estabilidade política, sistemas jurídicos, as condições económicas, o ambiente cultural e expropriação, restrição de operações ou na remessa de lucros; riscos de não-pagamento, pagamento em atraso ou até mesmo fraude por compradores estrangeiros; risco de câmbio; riscos de transporte e logística, que podem incluir roubo, dano dos bens durante o transporte), exigindo, por isso, estudos bem fundamentados dos mercados com potencial para a empresa e dos custos e benefícios da exportação para esses mercados”.

José Manuel Fernandes tem um conhecimento dos mercados externos alicerçado numa carreira de 36 anos como o empresário que fez a Frezite, que exporta para 55 países, e tem empresas em outros onze países. As empresas exportadoras têm de ter não só bons produtos e competitivos, mas também “pessoas bem preparadas, como bons profissionais para liderarem com toda a envolvente dos mercados externos. As áreas técnico-comerciais, desenvolvimento/produto, logística/expedição, serviço/pós-venda, mobilidade no acompanhamento do cliente, são áreas de recursos humanos qualificados para a exportação. Pôr pessoas a trabalhar nessas áreas sem formação adequada sai caro”, lê-se no livro “Caminhos do Exportador”, de 2014.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.