O ataque até pode ser a melhor forma de defesa, mas só resulta se for uma ofensiva pensada, para que não fique exposta a um contra-ataque. Na reação à polémica sobre Robles, esse não foi o caso. A utilização dessa estratégia pode ter resultado do choque sentido pelo Bloco, um partido mais habituado ao protesto do que a ter de defender-se de acusações de irregularidades. No entanto, a explicação não justifica a opção por atacar os media, até porque acabou por exacerbar o problema para o partido.

Não questiono que o jornalismo tenha de ser escrutinado. A necessidade de analisar, confirmar ou desmentir notícias é importante para o funcionamento democrático. Mas a ideia de que existe uma agenda organizada de fake news cresceu nos últimos anos, e sabemos muito bem graças a quem.

Donald Trump  lançou uma guerra contra o que chama de  fake news media para se defender nas várias frentes em que luta: da intervenção da Rússia à guerra comercial, passando pelas acusações sobre a sua vida pessoal. Em 560 dias de presidência, fez 272 posts no Twitter sobre fake news, mais do que sobre qualquer outro assunto. Em Portugal, José Socrates é a figura que é mais vezes vista a acusar os jornalistas de inventarem notícias.

O problema, para Catarina Martins, é que é quase impossível não pensar nestas duas figuras quando se ouve o termo “notícias falsas”. Seguramente que não é essa a associação que deseja.

Além desses problemas de imagem, a realidade é que a acusação de notícias falsas pode funcionar mal e, como um boomerang, voltar ao atirador. E é por isso que a reação inicial foi um erro político, que transformou uma situação difícil, mas que poderia ter sido contida, numa enorme crise como o partido nunca vivera antes. Não foi o facto de o Bloco ter sido apanhado em contrapé, foi o de ter reagido como se qualquer notícia que o sugerisse tivesse de ser, evidentemente, falsa. O partido da Rua da Palma acabou, assim, por dar fôlego aos que o acusam de ter uma atitude de superioridade moral.

A tentativa de provar que a investigação no caso Robles produziu manchetes falsas fracassou. O vereador teve de se demitir e Catarina Martins teve de passar os dias seguintes a recuar para uma posição mais pensada. Na terça-feira admitiu um erro de análise da direção em defender a manutenção de Robles no cargo, porque a contradição, que inicialmente não tinha visto, “era muito grande”. Depois recuou parcialmente no ataque à imprensa, dizendo que a par de “trabalho bem feito” houve confusão que se gerou entre notícias reais e falsas, e isso levou à demissão de Robles.

Um ponto sobre esta análise: se Catarina Martins quer acreditar que foram notícias falsas e uma agenda de instrumentalização, e não contradição entre palavras e atos, que causaram a demissão, tem todo o direito, mas a posição é difícil de defender.

Finalmente, a líder do Bloco referiu que o partido respeita os jornalistas e o escrutínio feito pelos media. No entanto, os elogios à imprensa foram tardios e forçados. Teria sido importante não pintar toda a imprensa com o mesmo pincel logo à partida.

Como afirmou António Costa, em abril, a melhor forma de nos defendermos das fake news é com comunicação social de qualidade. Isso requer que os políticos entendam que nem todos os jornalistas e jornais são fake news media, e que consigam separar o trigo do joio.