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“Falhei o resultado”. Assunção Cristas despede-se da liderança do CDS-PP

Nas últimas eleições legislativas, o CDS-PP viu o número de deputados na Assembleia da República diminuir de 18 para apenas cinco, um tombo ilustrado por apenas 4,2% dos votos em 6 de outubro. A performance eleitoral ditou a saída de Cristas da presidência dos democratas-cristãos.
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    António Cotrim/Lusa
25 Janeiro 2020, 12h38

Perante um auditório recheado de centristas no Parque de Exposições de Aveiro, com os cinco candidatos à liderança do CDS-PP a ouvir atentamente, Assunção Cristas discursou no 28.º congresso nacional do partido, para, como era esperado, se despedir da liderança após o mau resultado eleitoral de outubro de 2019. Cristas surgiu convicta do cumprimento do caminho traçado mas admitiu: “Falhei o resultado”.

“Cumpri o caminho traçado e a estratégia proposta, mas cumpre-me hoje reconhecer uma evidência: falhei o resultado. Falhei, porventura, a análise das possibilidades que se abriam com as novas circunstâncias políticas e os resultados ficaram muito aquém das minhas e das vossas expetativas”, reconheceu.

Depois do mea culpa, a ainda líder centrista (o sucessor de Cristas será conhecido no domingo) salientou a convicção de que a sua liderança foi “firme” e teve “uma voz aguerrida”. “Tanto mais que era evidente que nenhum outro partido em Portugal estava interessado em fazer oposição a sério e inequivocamente contra o socialismo”, afirmou numa alusão ao PSD de Rui Rio.

Mas a voz aguerrida de Cristas não foi suficiente. Nas últimas eleições legislativas, o CDS-PP viu o número de deputados na Assembleia da República diminuir de 18 para apenas cinco, um tombo ilustrado por apenas 4,2% dos votos em 6 de outubro.

Ainda assim, a mulher que chefiou o CDS-PP nos últimos quatro anos, puxou do que considerou ser um dos galões da sua gestão política e aludiu à conquista dos centristas na Madeira (onde chegaram ao Governo Regional em coligação pós-eleitoral com o PSD). Mesmo assim, “não bastou”, lamentou novamente.

“Não bastou termos sido uma oposição combativa, tantas vezes isolada, à má ação ou inação deste Governo, com a saúde à cabeça; Não bastou termo-nos batido contra a eutanásia ou as barrigas de aluguer; Não bastou um contacto permanente com as pessoas no terreno, e recordo apenas o caso dramático de Pedrógão [Grande]; Não bastou termos propostas permanentes para promover a natalidade e ajudar as famílias ou para apoiar as empresas e dinamizar a economia”, resumiu.

Desta forma Cristas quis apontar falhas no resultado e não nas prioridades do partido e, a partir daí, apontou baterias aos críticos: “Uns dirão que a estratégia estava errada, outros que se cometeram erros táticos ou de comunicação ou que falhámos na avaliação das circunstâncias. Ouvi atentamente muitas análises e, naturalmente, tenho a minha própria”.

Contudo, a mulher que sucedeu a Paulo Portas na liderança do CDS-PP, em 2016, não quis apontar o dedo publicamente no congresso nacional, sabendo que é transmitido em direto pelos principais canais televisão. “Este não é nem o momento nem o dia apropriado para dissecar os erros desse roteiro. O tempo encarregar-se-á dessa análise detalhada”, argumentou.

Na reta final do último discurso enquanto líder dos democratas-cristãos, Cristas assumiu sair “triste” pelo último resultado eleitoral, mas não “desiludida”. “Nunca tive ilusões e sempre soube que em política nunca se pode esperar reconhecimento”, disse.

Depois de agradecer aos militantes e apoiantes do CDS-PP e, em particular, a Nuno Magalhães (antigo líder parlamentar) e Cecília Meireles (atual líder parlamentar) – “o que vos quero dizer no dia de hoje resume-se numa palavra, obrigado” -, Assunção Cristas pediu “que o debate deste congresso seja profundo, sério, leal e a olhar para o futuro”.

“Um debate assente nas ideias e nas pessoas, porque em política não há boas ideias sem boas pessoas para as defender e o inverso também é verdade”, referiu.

Respeitando a tradição católica assumida, desde sempre, pelo CDS-PP, Assunção Cristas terminou parafraseando o papa Francisco, que pede que “no respeito fundamental pela vida, a liberdade e a dignidade das pessoas, pode tornar-se verdadeiramente uma forma eminentemente de caridade”.

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