Um banco inovador desde a sua fundação, o Millennium bcp marcou o ritmo num sector bancário algo acomodado ao statu quo então reinante. Quem não se lembra de novos conceitos como a segmentação, a diferenciação de redes de distribuição e atendimento, as linhas telefónicas directas, a internet banking, ou o gestor de cliente e de conta.

Depois começou o seu processo de crescimento não orgânico, adquirindo bancos concorrentes. O Millennium bcp perdia neste processo parte do seu carácter distintivo, mas ganhava quota de mercado, trabalhadores experientes e motivados de bancos como a União de Bancos Portugueses/Banco Mello, Banco Pinto e Sotto Mayor, Banco Comercial de Macau e Banco Português do Atlântico.

Este crescimento rápido já não pôde assentar em accionistas portugueses, tais eram as necessidades de capital, o que veio abrir a porta a investidores de cariz especulativo. Mais tarde, estes foram decisivos para a captura dos centros de decisão de crédito por parte do poder político, uma história que é hoje largamente conhecida.

O Millennium bcp embarcou então num processo de expansão excessiva, com o correspondente aumento de estruturas, e uma política creditícia nos antípodas da boa prática bancária. Esta expansão excessiva, conjugada com a recessão internacional e a quase falência do Estado português, colocou o banco numa situação demasiado frágil.

A história é conhecida de todos. Os últimos anos foram marcados por um processo de ajustamento doloroso, pago pelos trabalhadores bancários e pelas suas famílias, pelos accionistas (milhares de pequenos accionistas, mas também institucionais) e pelos portugueses em geral. Foram anos de sofrimento, onde a resiliência, a paixão dos trabalhadores do Millennium bcp, o seu profissionalismo, se elevou mais alto e manteve, no essencial, o banco intacto.

Entre as várias medidas que permitiram restruturar o banco, uma merece especial atenção, por ter sido singular, nessa altura, em Portugal. Os sindicatos bancários e a administração do Millennium bcp acordaram uma cativação, parcial, das retribuições dos trabalhadores. Na prática foi como se tivesse ocorrido um empréstimo sem juros, dos trabalhadores ao banco, que se prolongou durante quase três anos.

Uma cativação que chegou, por escalões, aos 11%, e permitiu salvar 400 postos de trabalho. Uma decisão que poupou inúmeros trabalhadores a uma situação de muita dificuldade e sofrimento, e que se não tivesse sido tomada se teria estendido também às suas famílias. Os últimos anos foram tempos de responsabilidade e de seriedade da parte de todos. Não faltaram demagogos, na altura, a criticar a solução encontrada, mas em boa hora a solidariedade falou mais alto.

Foi com genuíno alívio que vimos o Millennium bcp dobrar o cabo das tormentas e voltar a ser aquilo que sempre fora: um banco que suscita admiração, pela competência dos que nele trabalham, pela capacidade de antecipar desafios, pelo seu empenho no apoio aos empresários, às empresas e famílias portuguesas.

A apresentação dos resultados, muito animadores, do primeiro semestre deste ano veio, entretanto, reforçar a nossa convicção: o Millennium bcp voltou a liderar. Assim sendo, o corolário lógico é a devolução aos trabalhadores dos valores que foram cativados durante quase três anos. Importa dizer, singelamente, obrigado a todos pelo esforço. Tenho a certeza que este gesto, de elementar justiça, ilustrará como é possível que todos partilhem os frutos do compromisso e do diálogo: os trabalhadores, a equipa de gestão, os accionistas e os clientes.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.