A Europa e os Estados Unidos são mundos diferentes também na gestão, à semelhança do que acontece noutras áreas. Enquanto a gestão norte-americana está virada para o curto prazo e para a obtenção de resultados, a europeia, ou pelo menos a que é ensinada nos países mais desenvolvidos do norte e centro da Europa, com destaque para a Escandinávia e a Alemanha, assenta nos valores e nos processos.
E como é que a gestão europeia se pode afirmar no contexto global? Esta e outras questões estão em debate no ISCTE-IUL desde quarta-feira, no âmbito da EURAM 2019 – European Academy Management, a maior conferência do setor na Europa, que termina hoje, com a presença de 1.800 investigadores.
Nelson António, professor e investigador no ISCTE e chairman da EURAM 2019, explica ao Jornal Económico que quando comparamos, por exemplo, a gestão europeia com a americana, é possível reconhecer diferenças que resultam precisamente dessa identidade: a gestão europeia “produz, em geral, negócios mais sustentáveis” e “resulta melhor em mercados que dão mais atenção às formalidades e aos processos, como a China”.
E justifica: “Um modelo mais voltado para o processo acaba por dar mais formação, por envolver as pessoas na tomada de decisão, por lhes ensinar os passos que é preciso dar para chegar até ao produto ou até ao serviço final. Ao melhorar os processos, o europeu acaba por ter em consideração os recursos e a necessidade de os utilizar de uma forma mais eficiente”.
Portugal está virado para o modelo americano. A maior parte dos alunos segue livros que espelham uma realidade muito diferente da do país. Estudar pela sebenta americana é uma boa ideia? Nelson António diz que não, que seria importante que “a gestão que se ensina nas escolas portuguesas estivesse mais próxima dos fundamentos e dos valores da cultura portuguesa”. De igual modo, segundo o catedrático do ISCTE-IUL, doutorado em Gestão pela Schumpeter School of Business and Economics, da Bergishe University na Alemanha, a maioria dos cursos de gestão portugueses são dominados por cadeiras técnicas, como contabilidade e finanças, sobretudo desde a reforma de Bolonha que levou à diminuição da licenciatura para três anos.
A forma de tentar contrabalançar esse desequilíbrio passará, na sua opinião, por aumentar a importância de cadeiras soft, mais voltadas para a área dos recursos humanos, como liderança ou gestão da qualidade. Cadeiras que permitem mostrar aos alunos que vai além das métricas e das matérias financeiras e que está relacionada com valores intangíveis.
“Se os alunos não são alertados para a importância que os valores intangíveis têm na gestão da empresa acabam por ficar apenas com a folha de excel, o que é manifestamente insuficiente para garantir uma gestão sustentável”, salienta.
Questões como a sustentabilidade, as assimetrias demográficas, as alterações climáticas ou o agravamento da desigualdade social são novos e importantes desafios que se colocam à disciplina de gestão. Também sobre eles se procurou fazer luz no ISCTE-IUL.
Artigo publicado na edição nº 1995, de 28 de junho, do Jornal Económico
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