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Fantasma do malparado deverá assombrar os resultados semestrais da banca

Os analistas do CaixaBank/BPI antecipam que o resultado semestral do BCP, que apresenta resultados esta terça-feira, será pressionado pelo aumento de 56% das imparidades e pela desvalorização do zlóti. O reforço das provisões e o crédito dos bancos à Efacec deverão marcar a agenda das instituições que apresentam resultados esta semana.
  • Cristina Bernardo
28 Julho 2020, 08h00

Quatro dos principais bancos a operar em Portugal apresentam os resultados relativos ao segundo trimestre do ano esta semana, um período foi marcado pela paragem da atividade económica do país por força das medidas de confinamento.

O Millennium bcp dá o tiro de partida, esta terça-feira, após o fecho do mercado, seguindo-se o Santander na quinta-feira e o BPI e a Caixa Geral de Depósitos (CGD) na sexta-feira — o Novo Banco deverá apresentar os resultados do primeiro semestre “brevemente”, como explicou o chairman do banco, Byron Haynes, ao Jornal Económico.

Os analistas do CaixaBank/BPI estimam que o resultado líquido do BCP no segundo trimestre registe uma subida homóloga de 93% para 31 milhões de euros, impulsionada pelos lucros de 27 milhões de euros da atividade de trading, aos quais se somam os lucros de 32 milhões de euros registados no primeiro trimestre, segundo o “Jornal de Negócios”.

Os analistas apontam para uma subida de 6%  dos NPE (exposição a ativos não produtivos, como crédito que não é reembolsado há mais 90 dias ou com probabilidade de incumprimento) e alertam que poderão ainda subir mais quando expirarem as moratórias ao crédito. Já as imparidades deverão ter subido 56% para 177 milhões de euros no segundo trimestre e, nos primeiros seis meses do ano, deverão ter aumentado 31% em termos homólogos para os 263 milhões de euros.

Em termos semestrais, os analistas apontam para uma quebra do resultado líquido de 61%, para 166 milhões de euros. No primeiro trimestre deste ano, o BCP registou lucros de 35,5 milhões de euros.

As conferências de imprensa que terão lugar após a apresentação dos resultados trimestrais destas quatro instituições financeiras deverão ser marcadas por diversos assuntos — em diversas geografias, de Angola ao Brasil e passando pela Polónia. Em Portugal, a tónica dos resultados deverá incidir sobre o reforço das provisões genéricas em virtude do impacto económico da Covid-19.

Em Angola, a indemnização à qual um conjunto de bancos terá direito depois de o Estado ter nacionalizado a participação social que Isabel dos Santos tinha na Efacec, estará em discussão, até porque o BPI, BCP e CGD financiaram o investimento da empresária angolana na empresa portuguesa.

Por sua vez, o Millennium bcp deverá abordar a evolução da atividade na Polónia, depois de o Bank Millennium ter registado provisões extraordinárias de 168 milhões de zlótis (38,1 milhões de euros), relacionadas com riscos legais associados a empréstimos concedidos em moeda estrangeira (francos suíços), o que pressiona o resultado líquido no consolidado do banco liderado por Miguel Maya.

Já a CGD viu a venda do banco no Brasil voltar à “estaca zero” depois de o Governo, em resolução do Conselho de Ministros, ter chumbado as três ofertas em cima da mesa para comprar a instituição financeira.

Paragem da economia deverá ter reforçado as provisões

No primeiro trimestre do ano, a precaução foi a palavra de ordem da atividade bancária em face do impacto económico da Covid-19, que levou a CGD, o BCP, o Santander e o BPI a fazerem provisões de 200 milhões de euros, em conjunto. Este posicionamento das instituições financeiras face às consequências da pandemia poderá ter-se mantido no último trimestre.

A banca receia que, por causa do impacto económico do novo coronavírus, haja créditos que possam entrar incumprimento, nomeadamente após o fim das moratórias (em março de 2021), o que aumenta o crédito malparado. Por isso, os bancos registam provisões para cobrir eventuais perdas.

O alerta foi dado pelo presidente executivo do Santander, Pedro Castro e Almeida, quando referiu, em maio deste ano, que estas provisões “genéricas” de 30 milhões de euros seriam reforçadas consoante a evolução da conjuntura económica. “Em julho vamos reforçar essas provisões”, tal como em setembro e, depois, em dezembro, disse.

O banco de capitais espanhóis registou uma queda do lucro líquido no primeiro semestre de 13,4% para 118,9 milhões de euros.

A CGD fez provisões de 60 milhões de euros, o que contribuiu para a quebra de 32% dos lucros consolidados no trimestre de 2020, para 86 milhões de euros, face aos primeiros três meses de 2019.

O BCP registou provisões de 78,8 milhões de euros, o que explicou a queda homóloga de 77,1% do resultado líquido, que se fixou em 35,3 milhões de euros.

Já o BPI provisionou 32 milhões de euros para perdas para crédito futuras, o que teve impacto no lucro líquido da instituição financeira ainda liderada por Pablo Forero, que contraiu 87% face ao primeiro trimestre do ano passado, para 6,3 milhões de euros.

Efacec: bancos têm crédito de 110 milhões de euros

Isabel dos Santos comprou 71,73% da Efacec através da sociedade Winterfell 2, detida pela Winterfell Industries, à qual um consórcio de bancos emprestou 110 milhões de euros — Banco Montepio, BPI, Bic Angola, CGD, BCP e Novo Banco — e receberam as ações como colateral, que entretanto perdeu efeito por via da nacionalização.

Paralelamente, estes bancos credores têm um crédito de cerca de 65 milhões de euros concedido à Winterfell Industries cuja garantia são avales pessoais de Isabel dos Santos e da empresa estatal angolana, Ende, que são passíveis de serem executados.

O JE sabe que estes créditos já foram provisionados por este conjunto de bancos.

BCP com provisões de 168 milhões de zlótis para cobrir custos judiciais

A atividade do BCP na Polónia tem sido marcada pelo diferendo judicial que não vem de agora, mas que obrigou o Bank Millennium, detido em 50,1% pelo BCP, a registar provisões extraordinárias de 168 milhões de zlótis (38,1 milhões de euros), relacionadas com riscos legais associados a empréstimos concedidos em moeda estrangeira (francos suíços).

Estas provisões juntaram-se a outras que pressionaram a lucro líquido semestral do Bank Millennium, que registou uma quebra homóloga de 79%, para 72 milhões de zlótis (16,2 milhões de euros). No trimestre, a contração do lucro foi de 70%, para 54 milhões de zlótis (12 milhões de euros.

O desempenho do Bank Millennium tem impacto no consolidado do BCP e deverá ser um dos pontos abordados pelo banco esta terça-feira.

Em 2012, os bancos polacos deixaram de conceder empréstimos à habitação em francos suíços, empréstimos que começaram a ser concedidos em 2008 que beneficiavam de um zlóti forte e de taxas de juro mais baixas na suíça. A crise financeira provocou a valorização do franco suíço, fazendo com os imóveis ficassem com um valor abaixo da dívida aos bancos.

Em novembro do ano passado, o Supremo Tribunal polaco autorizou que os empréstimos fossem convertidos para zlótis às taxas de juro originais, que são inferiores às que são atualmente praticadas.

Quem quer comprar o Banco Caixa Geral Brasil?

Em maio deste ano, o Governo pôs um ponto final na venda do Banco Caixa Geral Brasil, detido pela CGD. Em Conselho de Ministros, o Executivo rejeitou as propostas apresentadas pelo Banco Luso-Brasileiro, do grupo Amorim, o Banco ABC Brasil e o fundo Artesia com vista à compra da instituição financeira brasileira.

A venda do Banco Caixa Geral Brasil é um dos pontos que a administração do banco do Estado, liderada por Paulo Macedo, tem de resolver, porque consta do plano estratégico da CGD, acordado com a DGComp aquando da recapitalização em 2017.

Na conferência de imprensa que se seguiu à apresentação dos resultados do primeiro trimestre da CGD, Paulo Macedo referiu que “todos sabemos a situação que o Brasil atravessa. O que nós entendemos e fizemos uma proposta [ao acionista Estado] nesse sentido é que haveria vantagem de termos a possibilidade de auscultar outras entidades”.

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