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Fed: após subir os juros, quais as preocupações na mente de Powell?

A Reserva Federal dos Estados Unidos divulga esta quarta-feira ao final da tarde as minutas da última reunião de política monetária e uma análise do ING indica as três principais questões para que o banco central está a olhar.
11 Abril 2018, 07h25

A Reserva Federal (Fed) norte-americana subiu a taxa de juro diretora a 21 de março, numa decisão que não surpreendeu. Os mercados estiveram, por isso, mais atentos às perspetivas da instituição liderada por Jerome Powell e, esta quarta-feira, quando divulgar as minutas da reunião, a situação repete-se. Segundo uma análise do banco ING, há três pontos fundamentais.

Após a reunião de dois dias, a primeira liderada pelo novo chairman, o Comité Federal de Mercado Aberto (FOMC) anunciou um aumento da federal funds rate em 0,25 pontos base para um intervalo entre 1,5% e 1,75%. Esta foi a primeira subida este ano, após a Fed ter sinalizado três aumentos taxas de juro em 2018.

Na altura, Powell mostrou-se otimista em relação à expansão da atividade económica, da força do mercado laboral e da ansiada subida da inflação. Contudo, o tom foi mais sombrio quando respondeu a perguntas sobre as medidas que Donald Trump impôs na politica comercial, nomeadamente à importação de aço e alumínio.

“Os investidores vão escrutinar esta quarta-feira as minutas da Fed para encontrar pensamentos sobre comércio, inflação e o recente alargamento dos spreads Libor”, explicaram os analistas Padhraic Garvey e James Smith, do ING, numa nota sobre a divulgação dos relatos da reunião.

  • Guerra comercial

As tensões entre os Estados Unidos e a China atenuaram nos últimos dias, mas os mercados continuam a procurar indicações sobre se a questão poderá ter impacto no caminho das taxas de juro. A atualização do dot plot em março manteve a indicação de implementar três aumentos da taxa de juro diretora em 2018, mas as minutas poderão revelar o teor da discussão sobre o assunto. Ainda assim, os analistas do ING vêem a questão de forma mais alargada.

“Com uma claridade limitada sobre quão longe irá o alcance das tarifas implementadas, suspeitamos que os decisores políticos irão olhar cuidadosamente para o impacto dos anúncios na confiança”, referem. “Será interesse ver se a Fed cita opiniões de contactos empresariais sobre o impacto que vai ter nas contratações e investimento. A Fed também se vai manter atenta aos efeitos secundários das condições financeiras, apesar de, para já, o impacto ter sido relativamente modesto na arena acionista”.

  • Inflação

Após um ano de inflação desapontante, as minutas de janeiro mostraram que “quase todos” os membros do FOMC consideraram que o indicador irá continuar a falhar a meta de 2% a médio prazo. “Esta visão deverá ser reforçada pelos dados do índice de preços no consumidor, esta quarta-feira, com a inflação core [excluindo preços de energia e bens alimentares] de volta (ou até acima) do objetivo de 2%, resultante de uma distorção causada pela descida nos preços dos dados móveis dos telemóveis, na comparação anual”, explicam.

Em março, o presidente da Fed recordou que a inflação na maior economia do mundo permanece abaixo dos 2%, tendo o indicador core registado apenas 1,5% em fevereiro, após a ideia de o banco central tolerar inflação acima de 2% ter assustado temporariamente os mercados. Os analistas consideram que a situação poderá repetir-se, antecipando que a inflação chegue a 3% antes do verão devido à desvalorização do dólar, pressão do mercado imobiliário e custos médicos, bem como maiores custos para as empresas. Neste sentido, a expetativa é que a Fed mantenha o discurso.

  • Nova Libor

Na semana passada, a Reserva Federal de Nova Iorque apresentou a proposta de uma nova taxa interbancária que poderá substituir a London Interbank Offering Rate (Libor), ou seja, a taxa média interbancária no mercado monetário. “Não só é um input central aos produtos financeiros de mercado, como tem impacto em cerca de dois terços das taxas variáveis dos empréstimos à habitação e a uma série de outras coisas, incluindo empréstimos estudantis”, explicam Garvey e Smith.

A Libor depende das taxas da Fed e tem um efeito diário (através da taxa overnight), mas a maioria dos produtos são atualizados mensal ou trimestralmente. Os analistas do ING indicam que a reforma dos impostos e os esforços da Administração Trump em captar novamente fluxos cambiais teve impacto no mercado de papel comercial que se reflete numa espécie de aumento dos juros no mercado (acrescido à subida pela Fed). O efeito da pressão exercida pela impressão de papel comercial na Libor irá, segundo a análise, esbater ao longo do tempo, mas, até lá, irá atuar como “uma subida dos juros disfarçada”, que poderá ser alvo de comentário pela Fed esta quarta-feira.

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