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Fed entra “all in” para salvar a economia

Veremos se a “maior aposta de todos os tempos” será a panaceia para esta crise como a anterior “maior aposta” resolveu temporariamente os problemas da crise financeira.
24 Março 2020, 12h02

Ainda me lembro dos tempos em que Wall Street vibrava e reagia acentuadamente a “miudezas” como o tamanho da pasta que Alan Greespan levava para a reunião da Fed: se fosse muito cheia queria dizer uma coisa, como corte ou aumento dos juros, uma mala mais vazia significava manter como estava.

Assim se fizeram dias de volatilidade elevada, isto, claro, enquanto a imaginação e a necessidade não abriram portas aos bancos centrais para serem os donos e senhores do cenário maior.

Com a crise financeira de 2008, o protagonismo destes monstros financeiros foi manifestamente alavancado, com a alteração dos históricos mandatos de acção a incluírem um subentendido “salvar” a economia, fazendo por linhas tortas o trabalho que os governos não conseguiram ou não quiseram fazer – veremos a que custo para além da politização dos mesmos, que levou à perda da sua independência.

E se é certo que a economia mundial foi efectivamente salva por medidas absolutamente impensáveis no ínicio do século, e que relegaram a mexida nos juros para segundo plano, como por exemplo a compra de dívida privada por parte do BCE, que levaram a balanços grotestos superiores a 4 triliões de dólares nos principais bancos centrais, o certo é que a economia e os investidores ficaram viciados na cura.

A redução de balanços não ocorreu e, como tal, estamos com outra crise nas mãos e com quase todas as medidas para resolver a anterior ainda em funcionamento.

Foi por isso que quando a Fed cortou os juros de 1,5% para 0% num curtíssimo espaço de tempo, o sentimento não melhorou. Era preciso mais e poucos têm sido os dias em que o mais importante banco central do mundo não tem anunciado medidas para estancar a sangria de optimismo.

Ontem, segunda-feira, e perante as evidências do que é hoje claro que esta epidemia vai provocar na maior economia do mundo, a Fed basicamente entrou “all in”, repetindo as memoráveis palavras de Mario Draghi quando muitos analistas dizem que salvou o euro. “Faremos o que for preciso”, o que no caso do banco central norte-americano foi anunciar um programa de quantitative easing (QE) sem limite no montante e poucos nas condições. Isto porque se refere inclusive a possibilidade de empréstimos à “Main Street”, ou seja, às pequenas e médias empresas.

Nos próximos meses veremos se a “maior aposta de todos os tempos” será a panaceia para esta crise como a anterior “maior aposta” resolveu temporariamente os problemas da crise financeira.

Ainda é cedo para retirar conclusões e muito dificilmente os mercados não continuarão extremamente voláteis nos próximos dois meses, até porque será a janela para se ter uma percepção mais qualificada sobre o impacto directo da epidemia e o impacto indirecto, ou seja, os resultados das medidas que os Estados estão a implementar para tentar abrandar a progressão do vírus.

Em relação ao mercado, o dia de ontem não teve história memorável, por ser muito similar a uns quantos nas últimas semanas, com os índices a perderem entre -0,27% no Nasdaq e -3,04% no Dow Jones, sendo que as variações intraday foram de novo muito intensas, o que não é de estranhar visto que esta correcção é oficialmente a mais rápida a retirar -30% ao S&P 500, com apenas 22 dias para tal desgaste, menos um do que o registado em 1934.

O gráfico de hoje é do S&P 500, o time-frame é semanal.

 

Aquando da recuperação, a linha azul (média móvel dos 200 períodos), será um provável local de resistência extra.

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