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Filho de Manuel Fino: “Com a recompra das ações da Cimpor teríamos liquidado a dívida”

Decorre esta terça-feira de manhã a audição de José Manuel Fino e Francisco Manuel Fino na segunda comissão parlamentar de inquérito à recapitalização da Caixa Geral de Depósitos. “Nunca tivemos nenhum contacto direto com as empresas do comendador Berardo”, disse ainda José Manuel Fino.
14 Maio 2019, 11h10

José Manuel Fino defendeu esta terça-feira que os financiamentos da Caixa Geral de Depósitos (CGD) à Investifino “foram feitos em condições perfeitamente comuns e foram justificáveis”. Contudo, o filho do empresário Manuel Fino argumentou, no Parlamento, que a empresa teria pago a dívida se o banco público tivesse dado ‘luz’ verde à extensão da recompra de ações da cimenteira Cimpor.

“A Investifino cumpriu as obrigações contratuais com a CGD (…). Com a recompra das ações da Cimpor teríamos liquidado a totalidade do passivo”, realçou, na segunda comissão parlamentar de inquérito à recapitalização da CGD e à gestão do banco atualmente liderado por Paulo Macedo.

Decorre esta manhã a audição de José Manuel Fino e Francisco Manuel Fino na Assembleia da República, que estão em representação do pai devido à sua “idade avançada” (mais de 90 anos). O nome de Manuel Fino surgiu associado a uma concessão de um empréstimo inicial de 180 milhões de euros da CGD à Investifino (detida pela Manuel Fino SGPS), o que terá resultado uma exposição de 138 milhões de euros do banco público a esta holding, de acordo com as conclusões da auditoria da consultora Ernst & Young (EY). Os créditos terão sido facultados para financiar a aquisições de ações da Cimpor, tendo como garantia o valor dos próprios títulos.

O porta-voz de Manuel Fino começou por explicar que o pai os envolveu nos negócios de família e que a Investifino fez diversas participações em empresas como o banco BCP, a construtora Soares da Costa e a cimenteira Cimpor entre 2004 e 2012. José Manuel Fino explicou que o “dinamismo do setor da construção” durante esse período, pelo que se antevia “uma forte valorização” dos títulos e uma benéfica “distribuição de dividendos pelos acionistas”. “É neste contexto que a Investifino negoceia com a CGD”, referem.

“Está tudo contratualizado, é tudo público e do conhecimento de todos”

No âmbito da revenda das ações da Cimpor, Manuel Fino confirmou os contactos da Investifino com a CGD. “A oferta e o interesse sobre o ativo Cimpor eram conhecidos (…). Está tudo contratualizado, é tudo público e do conhecimento de todos. [A Cimpor] era um interesse pessoal e geral”, adiantou.

O inquirido argumenta que negociação da extensão dos três anos da recompra era importante “porque consolidava a nossa posição de 20%” e sublinha que a Cimpor “é uma empresa com resultados incomparáveis”, “um ativo bem português”, no qual “os investidores viam ali o futuro”.

Questionado sobre o relacionamento com os membros do conselho de administração da Caixa, Manuel Fino disse que conheciam “alguns administradores mas tinham relações estritamente pessoais”. Entre os nomes por si apresentados estiveram Carlos Santos Ferreira, Faria de Oliveira, Jorge Tomé e Cabral dos Santos.

José Manuel Fino explicou que o grupo não deveria ter capacidade financeira para fazer a recompra sem o apoio da Caixa. “Essa foi a dificuldade. O mundo financeiro mudou a partir de 2008”, disse. Quando questionado sobre como é que o grupo pensava pagar à Caixa referiu: “O nosso objetivo estratégico era a manutenção da nossa posição na Cimpor e de um plano industrial”, para “com tranquilidade amortizar as nossas responsabilidades financeiras”.

Confrontado com o rácio de cobertura de 25-28% e um possível tratamento de favor, Manuel Fino disse: “Vou responder com toda a abertura. Na crise mundial, que afeta toda a atividade bancária e empresarial, os empresários não têm capitais próprios para fazer os seus investimentos e são apoiados pela banca”.

Mariana Mortágua perguntou se os créditos da Caixa foi utilizado para adquirir as ações da Cimpor que pertenciam à Fundação Berardo. “Nunca tivemos nenhum contacto direto com as empresas do comendador Berardo”, respondeu. A deputada do Bloco de Esquerda interpelou ainda sobre quando e como é que começou a relação comercial da família e da Investifino com a CGD. “A relação é quase eterna”, lembrou, por causa do histórico familiar.

Inicialmente, a audição parlamentar a Manuel Fino estava agendada para o dia 7 de maio, tal como a de Joe Berardo, mas acabou por sofrer um adiamento, à semelhança da do empresário madeirense.

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