Foram muitos dias e noites. Muitas semanas e vários anos. A estudar e a trabalhar, por vezes em simultâneo. Com ambição de ascensão social. Com vontade de deixar a sua marca, junto da organização, dos colegas e dos clientes.

Tentando sempre chegar mais além. Fazer melhor. Contribuir para uma empresa bancária mais próspera. Não poupando com esforço, inteligência e empenho.

Foram muitas as vezes que não vimos os nossos filhos crescer. Que não os acompanhámos na preparação dos trabalhos de casa. Muitos deveres familiares que foram relegados.

Muitas férias desmarcadas ou interrompidas abruptamente, por qualquer imperativo profissional. Muitas noites, vários fins-de-semana, que passámos a trabalhar, a estudar, a planear, a preparar. Tudo pelo brio de melhor fazer.

Hobbies que não prosseguimos. Convívios a que faltámos. O salto para o ouro do Nélson Évora que não vimos em directo. Os grupos de amigos, recreativos, culturais, desportivos, a que fomos espaçando a nossa presença. Até os deixar, de mansinho.

Estes são os profissionais abnegados. Muitos dos quais Quadros e Técnicos Bancários. “Que vestem a camisola”.

Mas eis que, repentinamente, numa manobra nunca ensaiada desde 1975, os bancos outorgantes do ACT querem impor uma tabela de actualizações salariais que pune muitos dos profissionais abnegados e talentosos.

Que lhes quer dar aumentos, sobre a base, de 0,25% a 0,5%. E que se recusam a explicitar que estes aumentos não serão absorvidos por reduções de igual valor na remuneração complementar. Ou seja, preparando-se para um aumento zero!

Que fizeram um acordo com uma muito minoritária federação sindical (onde o maior dos seus sindicatos representa, por vezes apenas 2% e nunca mais de 20% dos trabalhadores activos de cada banco subscritor do ACT). Com aumentos globais de 0,75%, mas escondendo uma injusta discriminação entre bancários e níveis profissionais. Dividindo os bancários, numa manobra desajustada de uma sociedade democrática e livre.

Claro que vos poderia dizer que seria mais útil que tal federação tivesse reunido esforços numa mesa negocial única, algo a que os convidámos e recusaram. A sua recusa valeu que os bancários saem todos a perder face a legítimas expectativas. E uns milhares, largos, a nada ganharem.

Por isso, vos peço, em nome de tudo aquilo que ajudámos a construir; pelas nossas famílias a que demos menor atenção ao longo destes anos, que façam ao presidente executivo de vosso banco duas perguntas:

– Serei eu filho de um Deus menor?

– No ACT de 2016 (mas denunciado em 2011) impuseram uma contribuição “per capita” igual para o SAMS a cargos dos bancos, alegando que todos os bancários eram iguais (e com isso desviando 15% das receitas do SAMS Quadros em favor de terceiros). Como fica essa vossa argumentação?

Bizarro que os bancos considerem alguns dos mais esforçados como filhos de um Deus menor. Estranha essa a forma de construir, motivar, desenvolver… Bizarro que esse acordo que distribui migalhas tivesse surgido de forma inopinada.

Seremos filhos de um Deus menor? Está na sua mão questionar, mostrar a irracionalidade e o dislate da coisa.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.