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Fitch alerta que elevado rácio de malparado no Montepio e Novo Banco os deixa vulneráveis a choques económicos moderados

A Fitch estima que o peso dos ativos problemáticos no rácio de capital de nível 1 (CET1) varia de um “aceitável” 20% no Banco BPI a níveis acima de 150% no Banco Montepio e Novo Banco, “o que deixa estes últimos vulneráveis a choques mesmo que moderados na qualidade dos ativos”, alerta.
  • Reinhard Krause/Reuters
7 Outubro 2019, 16h25

A Fitch analisou o resultado dos seis maiores bancos portugueses e constatou que o rácio de crédito com imparidades caiu para 9,6% em junho. A agência analisou o Banco BPI, o Banco Comercial Português (BCP), a Caixa Económica Montepio Geral (Banco Montepio), a Caixa Geral de Depósitos (CGD), o Santander Totta SGPS, e o Novo Banco.

A Fitch Ratings estima que o rácio médio de crédito com  imparidades – crédito com perdas reconhecidas – (IFRS 9 Etapa 3) caiu para cerca de 9,6% no final de junho de 2019 para os seis maiores bancos, o que compara com 11% no final de 2018.

Na origem desta descida estão essencialmente a grandes vendas de carteiras de crédito malparado, curas (foi possível resolver a situação de incumprimento) e write-offs (imparidade a 100%).

O rácio de ativos problemáticos (incluindo ativos recebidos por incumprimento de crédito e imóveis detidos por investimento) foi de cerca de 13%, o que permanece alto em relação aos seus pares internacionais, diz a agência de rating.

A Fitch admite no entanto que os resultados do primeiro semestre de 2019 mostram o progresso contínuo na qualidade de ativos, e uma redução do stock de ativos de problemáticos.

A rentabilidade operacional recuperou no semestre devido ao “adequado controle de custos; a custos de funding mais baixos; e redução de imparidades para crédito”. No entanto, diz a Fitch, dadas as perspectivas de queda das taxa de juros, a fraca procura de crédito em Portugal e concorrência acirrada, a agência de notação espera que as margens apertem na maioria dos bancos.

A agência de rating escreve também que as almofadas de capital foram fortalecidas no primeiro semestre devido à geração de resultados, à emissão de títulos de dívida subordinada e à redução de riscos.

Essa almofada compensou a pressão no capital fruto da redução da taxa de desconto usada como pressuposto na determinação das responsabilidades dos planos de pensões de beneficio definido.

A taxa de desconto é um dos principiais pressupostos finanaceiros actuariais utilizados no cálculo das responsabilidades por pensões. Os bancos reduziram a taxa de desconto e segundo a Fitch, essa reduação teve um impacto em torno de -40 pb no capital dos bancos em média.

A melhoria gradual na qualidade dos ativos também reduziu substancialmente a pressão no capital.

A Fitch estima que o peso dos ativos problemáticos no rácio de capital de nível 1 (CET1) varia de um “aceitável” 20%  no Banco BPI a níveis acima de 150% no Banco Montepio e Novo Banco. “O que deixa estes últimos vulneráveis a choques mesmo que moderados na qualidade dos ativos”, alerta a agência.

A agência refere também que, com a diminuição da pressão sobre a qualidade dos ativos, os bancos portugueses concentram-se cada vez mais na melhoria da eficiência de custos. O rácio cost-to-income médio do setor é de cerca de 55%, “mas precisa de melhorar devido a desafios estruturais para alcançar o crescimento da receita em Portugal”. A agência refere que mais investimentos em tecnologia e sistemas operativos são cruciais para aumentar a eficiência de custos.

No que toca à emissões de instrumentos elegíveis para MREL (minimum requirement for own funds and eligible liabilities): “Estimamos que as necessidades dos seis maiores bancos portugueses para cumprir a exigência mínima de fundos próprios e passivos elegíveis (MREL) totalizem entre sete mil milhões e nove mil milhões de euros (ou cerca de 5% do ativo ponderado pelo risco combinado dos bancos no final de junho de 2019)”.

Diz a Fitch que “as almofadas de dívida júnior e sénior qualificada ainda são pequenas, mas devem aumentar, à medida que os buffers de MREL se acumulam gradualmente. Esperamos que os bancos combinem principalmente a emissão de dívida sénior não preferencial e a emissão de dívida sénior preferencial para preencher os requisitos de MREL”.

O novo enquadramento regulamentar do BCE para os NPL – non-performing loans (malparado) está a forçar alguns bancos a acelerar a redução do seu stock de crédito malparado (legacy) para suavizar o atual impacto nos requisitos impostos pelo processo de revisão e avaliação (SREP – Supervisory Review and Evaluation Process ), que ainda é difícil de quantificar.

“No entanto não esperamos  abates significativos ao capital common equity Tier 1 capital, nesta fase, uma vez que as novas entradas em malparado (novas imparidades) são baixas”, diz a Fitch.

No final de junho de 2019, a cobertura média de crédito malparado por provisões rondava os 50% e as imparidades do crédito (líquido) representam aproximadamente 34% do capital (Net Impaired Loans/Equity).

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