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Fitch: malparado vai aumentar por causa da Covid-19, mas não tanto como depois da recessão de 2011-2014

A agência de notação considera que os bancos portugueses estão mais resilientes do que na anterior crise, mas alerta que o aumento do crédito malparado e a incapacidade de repor as almofadas de capital terão um impacto negativo no ‘rating’.
  • Reinhard Krause/Reuters
30 Julho 2020, 18h56

A Fitch alertou esta quinta-feira para o aumento do crédito malparado em Portugal por causa da crise provocada pela Covid-19, mas salienta que o sistema bancário nacional está melhor preparado para a enfrentar e que o malparado não vai atingir os níveis registados durante a crise das dívidas soberanas, que levou ao programa de assistência financeira entre 2011 e 2014.

Num relatório sobre a banca nacional que foi hoje divulgado, a agência de notação antecipa a deterioração da qualidade dos ativos até 2021 e não espera que os lucros recuperem antes de 2022 por causa das imparidades e das pressões sobre as receitas.

“Os empréstimos às pequenas e médias empresas e o crédito ao consumo sem garantia correm o maior risco de incumprimento durante a contração da economia. Os bancos portugueses têm uma exposição significativa aos setores de atividade mais afetados, como as indústrias extractiva e transformadora, retalho não alimentar, transportes, restauração, hotelaria e lazer. Esta exposição representa cerca de 47% do total da carteira de crédito para empresas não financeiras, muito acima do que a maioria dos países do norte da Europa”, alerta a Fitch.

No entanto, a agência de notação antecipa que, apesar do aumento do crédito malparado (NPL), este não vai atingir os níveis do passado recente. “A Fitch não antecipa que os NPL atinjam os níveis registados depois da recessão de 2011-2014 devido à menor concentração do risco em grandes devedores e menores níveis de dívida do setor privado”.

A Fitch salientou a capacidade orgânica de geração de capital desde 2017, o que permitiu à banca portuguesa aproximar-se dos pares europeus no que diz respeito aos rácios de capital, embora antecipa “uma erosão moderada” destes rácios.

Aqui, o Banco Montepio é o que parte em pior posição para enfrentar a crise, sendo a instituição de crédito mais distante dos requisitos de capital total, que correspondem à soma do CET1 e o excesso de capital. Com bases em dados compilados em 30 de março deste ano, o Banco Montepio apresenta um CET1 de 11,7% e um capital excesso de 1,5%, abaixo dos 13,9% dos requisitos de capital total.

O Novo Banco encontra-se mesmo no limiar dos requisitos de capital total (13,5%), enquanto o BCP, o BPI, o Santander Totta e a Caixa Geral de Depósitos ultrapassam os requisitos de capital total.

Neste sentido, os bancos não deverão ser sujeitos a “intervenções regulatórias automáticas” enquanto durarem os alívios de capital concedidos pela Autoridade Bancária Europeia, desde que “consigam encetar por caminhos credíveis” para repor as almofadas de capital. “No entanto, devido aos constrangimentos de longo-prazo sobre os lucros, alguns bancos podem sentir dificuldades para repor estas almofadas depois da crise, o que terá um impacto negativo nos ratings“.

Além disso, o peso dos ativos problemáticos no capital poderá ser outra obstáculo para os bancos, “ainda que o setor esteja mais resiliente atualmente do que na última crise”. Também aqui o Banco Montepio tem sinais de maior vulnerabilidade, uma vez que os ativos problemáticos representam mais de 131% do CET1, enquanto estes ativos representam cerca de 100% do CET1 do Novo Banco e menos de 75% do CET1 do Millennium bcp, sendo as instituições com mais peso dos ativos problemáticos no balanço dentro do CET1. Em sentido contrário, o BPI é o que está em melhor posição, uma vez que estes ativos têm um peso inferior a 20% do CET1.

A Fitch referiu que os ratings dos bancos portugueses estão “vulneráveis” em face do choque pandémico. “O choque económico sem precedentes devido à pandemia do coronavírus é um risco chave para a notação dos bancos portugueses, cuja operação se encontra pressionada pela profunda recessão, qualidade dos ativos, resultados e capitalização”.

A agência de notação destacou ainda que a importância de os bancos manterem as almofadas de capital e gerirem ativamente os ativos problemáticos durante a contração da economia será um elemento-chave para os ratings.

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