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Fitch alerta para frágil base de capital do Banco Montepio

“A base de capital do banco é altamente vulnerável até mesmo a moderados choques de qualidade de ativos, devido a um elevado peso de ativos problemáticos ‘unreserved’”, alerta a Fitch.
  • Cristina Bernardo
18 Março 2019, 18h27

A Fitch Ratings publicou o rating de longo prazo das obrigações subordinadas da Caixa Económica Montepio Geral (Banco Montepio) de ‘B-‘ emitidas em janeiro (tier 2). As obrigações têm um Rating de Recuperação de ‘RR6’.

O Banco Montepio fez em janeiro uma emissão de obrigações subordinada de 50 milhões de euros através de um private placement junto do acionista, a Associação Mutualista Montepio Geral. A ficha técnica da emissão revela que o banco vai pagar 8% ao ano à Associação Mutualista numa emissão que tem maturidade até 27 de dezembro de 2028 (a emissão data de 27 de dezembro de 2018)

As obrigações de 50 milhões de euros foram emitidas ao abrigo do programa EMTN do Banco Montepio em 27 de dezembro de 2018 e qualificam-se como capital de Nível 2 em conformidade com o Basileia III.

As obrigações são subordinadas a todos os credores seniores sem garantia, isto é, estão abaixo das obrigações seniores sem garantia na hierarquia de credores.

Com esta emissão, o Banco Montepio iniciou a reconstrução da almofada de instrumentos de dívida subordinada e junior, que estava quase esgotada em 2018, diz a Fitch.

Esta emissão serviu para aumentar os rácios de capital do banco liderado por Carlos Tavares para cumprir as novas exigências de capital regulatório em vigor desde 1 de janeiro, impostos pelo supervisor.

A partir de janeiro o Banco de Portugal aumentou as exigências de reserva de conservação de fundos próprios e de risco sistémico, exigindo um rácio de capital total de 13,625% à Caixa Económica Montepio Geral a partir de 1 de julho.

Este rácio exigido pelo regulador compara com o rácio mínimo que era exigido até ao fim de dezembro que era de 12,938%. O banco no terceiro trimestre tinha um rácio de 13,5%. Mas as novas exigências de capital regulatório deixavam o banco com um défice de capital. Por isso o banco recorreu ao acionista para se recapitalizar, mas através da emissão de dívida subordinada (que conta para o rácio de capital) a um juro relativamente elevado.

O Banco de Portugal fixou o requisito de capital total para o banco liderado por Carlos Tavares no âmbito do Supervisory Review and Evaluation Process nos 13,63% a partir de julho de 2019, incluindo um requisito de Pilar 2 do rácio de 3%. No final de 2018, o rácio de capital total do Banco Montepio era de 14,1% (11,9% fully loaded).

A Fitch classifica as obrigações subordinadas do Banco Montepio em dois níveis abaixo do  Viability Rating (VR) que está em ‘b +’.

A classificação reflete as fracas perspectivas de reembolso da dívida em cenário de stress financeiro severo, num ponto em que o banco não é mais considerado viável. As perspetivas de recuperações fracas para os obrigacionistas subordinados estão também refletidas no Rating de Recuperação ‘RR6’ atribuído às notas.

“A nossa visão de baixa probabilidade de recuperação das obrigações subordinadas emitidas [de 50 milhões que foram subscritas pela casa mãe Associação Mutualista] num cenário de inviabilidade é suportado pelas atuais finas camadas de capital não patrimonial júnior (dívida altamente subordinada) do banco em relação aos grandes riscos que enfrenta” diz a Fitch.

“A base de capital do banco é altamente vulnerável até mesmo a moderados choques de qualidade de ativos, devido a um elevado peso de ativos problemáticos subcolaterizados”, alerta a Fitch.

A Fitch estima que os ativos problemáticos (entre empréstimos com imparidade líquida, ativos executados por dação em cumprimento e propriedades de investimento) no final de 2018 eram muito elevados, cerca de 1,6x o rácio de capital Common Equity Tier 1 do Banco Montepio, na versão fully loaded.

O banco liderado por Carlos Tavares, desistiu de uma colocação de dívida subordinadas até 250 milhões de euros. Depois de consultar potenciais investidores internacionais, o Conselho de Administração considerou que as condições não era favoráveis à emissão.

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