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Fundações Oceano Azul e Calouste Gulbenkian aceleram mais 17 startups da bioeconomia azul

Em jogo está um prémio de 45 mil euros ao qual se habilitam as quatro empresas portuguesas Blue Oasis Technology, Fhair, n9ve – Nature, Ocean and Value e Sensefinity. Esta terça-feira, no âmbito do Dia Nacional do Mar, é a segunda de cinco etapas do programa de aceleração.
16 Novembro 2021, 08h20

Um dos mais importantes programas de empreendedorismo ligado à economia do mar em Portugal está a decorrer até ao final da próxima semana e envolve 17 startups, duas fundações e 45 mil euros. Promovido pelas fundações Oceano Azul e Calouste Gulbenkian, o “Blue Bio Value” (BBV) está este ano a acelerar empresas de dez países com projetos na biotecnologia azul, entre as quais as quatro startups portuguesas Blue Oasis Technology, Fhair, n9ve – Nature, Ocean and Value e Sensefinity.

Em entrevista ao Jornal Económico (JE), Ana Brazão, gestora de projeto na Fundação Oceano Azul e responsável por este programa internacional, diz que o “Blue Bio Value” tem a mais-valia de mostrar as oportunidades que o país oferece nesta indústria. “Vamos demonstrar as mais-valias que o país tem. É importante destacar que Portugal é o país com maior biodiversidade marinha da Europa, portanto existe aqui a matéria-prima necessária para que isso aconteça, além do nosso conhecimento científico-tecnológico”, destaca.

Nesta quarta edição, o “Blue Bio Value” – que recebeu 80 inscrições de 28 nacionalidades – está a ser feito em formato híbrido, com sessões online e visitas de campo para as startups terem oportunidade de ir ao Biocant, o único parque de ciência e tecnologia no país 100% dedicado à biotecnologia, em Cantanhede, ao Ecomare (Laboratório para a Inovação e Sustentabilidade dos Recursos Biológicos Marinhos da Universidade de Aveiro) ou ao Algatec, um parque de negócios que acolhe empresas e empreendedores que trabalhem com algas e microalgas de forma sustentável.

É importante destacar que Portugal é o país com maior biodiversidade marinha da Europa, portanto existe aqui a matéria-prima necessária para demonstrar as mais-valias que o país tem – Ana Brazão

“Aumentámos em 30% as startups que recebemos, portanto temos 17 equipas que a partir desta segunda-feira [15 de novembro] estão em Portugal e nas últimas cinco semanas estiveram no programa remoto dado pela Maze com workshops, acompanhamento, treino, talks, revisão de planos de negócio e financeiro, parcerias… Agora é que vão cá estar juntas e trazer para Portugal este conhecimento e estas novas oportunidades”, sublinha a porta-voz do BBV ao JE.

“O que nós fazemos é, todos os anos, abrir candidaturas a todas aquelas novas soluções inovadoras que tenham grande cariz de biotecnologia e uma grande componente de sustentabilidade que nos consiga dar novos serviços e produtos para fazer frente a uma das maiores ameaças ambientais ou sociais do Planeta. Recebemos startups que estejam naquele ponto de desenvolvimento em que já têm piloto, solução tecnológica, uma equipa pequena constituída e a empresa criada, mas que precisam das ferramentas, dos contactos, dos conhecimentos para escalar os seus negócios”, explica Ana Brazão, entusiasta sobre a bioeconomia azul.

Esta terça-feira é o Ocean Day, a segunda etapa do programa, que terá um palestra com vários especialistas na área da bioeconomia a dar formação sobre as tendências do mercado, os principais desafios na neste sector, entre outros. Segue-se já amanhã o Enterpreneurship Day, com outras atividades.

Segundo a previsão da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), a economia azul global vai crescer de 1,5 biliões de dólares (1,3 milhões de euros) em 2016 para 3 biliões de dólares (2,6 biliões de euros) em 2030 e proporcionará a criação de 200 milhões de empregos.

Lançado em 2018, o BBV, que tem ainda a Bluebio Alliance por trás, acelerou 42 empresas de 15 países e investiu um total de 2 milhões de euros, contribuindo para que três startups internacionais se sediassem em Portugal e mais de 70% dos participantes no programa expandissem as suas atividades devido à melhoria dos seus produtos. É o caso da alumni italiana de 2019 Algaesys, com sede em Castelletto Merli, que abriu uma filial em terras lusas durante a pandemia.

“O número de candidaturas e a criatividade dos projetos, provenientes dos quatro cantos do mundo, mostram o interesse crescente na biotecnologia azul e que esta é uma área, um modelo que vale a pena incentivar. É este o caminho que nos conduzirá a um novo modelo económico, fundamental no processo de transição para cadeias de valor mais sustentáveis”, frisa, por sua vez, a subdiretora do Programa Gulbenkian Desenvolvimento Sustentável, Filipa Saldanha.

Quem são as startups participantes em 2021?

Oriundas de Portugal, Argentina, Canadá, Reino Unido, Indonésia, Finlândia, Itália, França, Suécia e Noruega, as startups participantes trabalham com cerâmica feita de escamas de peixe, leite de origem vegetal preparado a partir de algas, bioplásticos para substituir embalagens ou produtos capilares com ingredientes naturais da Ria Formosa.

  • Blue Oasis Technology (Portugal) – Fundada em 2021, desenha, constrói e instala “recifes” artificiais que permitem a, recuperação de ecossistemas marinhos danificados e a reversão do declíneo da biodiversidade do oceano. A solução BluBoxx em particular permite também o registo de parâmetros ambientais e a transmissão de dados.
  • Clean Valley (Canadá) – Fundada em 2021, apresenta uma alternativa tecnológica de biofiltração para tratamento de águas residuais em piscicultura. A solução assenta nas capacidades naturais de filtração de algas e bivalves que permite uma redução de 6% dos custos de tratamento de efluentes.
  • FeedVax (Argentina) – Fundada em 2017, detém uma plataforma de vacinas para preparação de vacinas orais para peixe de aquacultura e comercializa atualmente uma vacina oral contra Streptococcosis na tilápia, combinada com a ração e resistente ao meio gástrico.
  • Fhair (Portugal) – Fundada em 2020, dedica-se à produção sustentável de soluções naturais, usando sal marinho e outros ingredientes naturais da Ria Formosa. Os produtos são direcionados para cuidados de saúde e higiene capilar, proporcionando resultados profissionais em casa.
  • FlexSea (Reino Unido) – Fundada em 2021, no Reino Unido, dedica-se à produção de biofilmes compostáveis a partir de algas vermelhas. Os biofilmes, de uso único e comestíveis, foram projetados para substituir as embalagens/filmes plásticas descartáveis, utilizadas em várias aplicações não-alimentícias (parafusos, cosméticos, roupas). O produto é compostável em casa e biodegradável em ambiente marinho e terrestre em oito-doze semanas.
  • Full Circle Aquaculture (Indonésia) – Fundada em 2018, trabalha na promoção da aquacultura regenerativa de pepino do mar, utilizando os lucros para financiar a criação e proteção contínua de uma vasta rede de reservas marinhas geridas por comunidades locais.
  • Ittinsect (Itália) – Fundada em 2020, com o objetivo de produzir rações para aquacultura de forma sustentável, utilizando insetos e subprodutos do sector alimentar em substituição de ingredientes de origem marinha. A abordagem de economia circular, com produtos tecnologicamente bio processados, permite melhorar o valor nutricional dos peixes.
  • n9ve – Nature, Ocean and Value (Portugal) – Fundada em 2019, foi uma das vencedoras do “Blue Bio Value Ideation” dos Açores no passado pela sua missão de recuperação sustentável e escalável de terras-raras, utilizando a capacidade de biossorção das macroalgas verdes para recuperar neodímio de ímanes permanentes e assim produzir óxido de neodímio, utilizado por exemplo no fabrico de vidro para telas de TV e de lasers para equipamentos de alta potência.
  • Origin by Ocean (Finlândia) – Fundada em 2020, usa algas marinhas como para produzir compostos específicos com utilização nas indústrias de alimentos, rações, farmacêutica e cosmética. A startup recolhe algas marinhas invasoras e transforma-as em múltiplos  produtos através de um conceito de biorrefinaria eficiente, contribuindo assim para a diminuição do excesso de nutrientes nos oceanos.
  • Relicta (Itália) – Fundada em 2020, tem como missão a produção de bioplástico solúvel em água, produzido a partir de resíduos da indústria de pesca. A solução apresenta uma embalagem feita a partir de pele e espinhas de peixe, que se desintegra em água quente.
  • Resistomap (Finlândia) – Fundada em 2018, possui tecnologia que conjuga genética molecular e data science que permite detetar e quantificar a presença de antibióticos em ambientes aquáticos a partir de um chip qPCR inteligente que traça perfis genéticos associados à resistência a antibióticos. A solução permite aos piscicultores monitorizarem a presença de antibióticos em ambientes aquáticos e disponibiliza um serviço personalizável de análises laboratoriais.
  • Seatrients (Suécia) – Produz uma bebida instantânea a partir de algas marinhas. O produto, obtido de musgo do mar recolhido nas Caraíbas, é comercializado em pó após processado e tem alto valor nutricional, sendo rico em potássio, ferro, zinco e ácidos gordos da série omega-3, para ser adicionado a bebidas e refeições.
  • Sedna Technologies (Canadá) – Fundada em 2017, desenvolveu uma plataforma de sensores in orbit testing móvel que permite monitorizar a rastreabilidade e os parâmetros ambientais do produto final vivo da aquacultura no momento de transporte. Os dados relativos às condições ambientais e físicas dos peixes são fornecidos em tempo real.
  • Sensefinity (Portugal) – Fundada em 2014, utiliza uma rede de sensores inteligentes que adquire dados, como a localização, identificação dos peixes, temperatura, humidade e movimento, e comunica-os através da nuvem (cloud). A tecnologia comercializada disponibiliza a localização de embarcações, dados de sensores e controlo durante as capturas, garantindo a rastreabilidade ao longo da cadeia de valor.
  • Tekslo Seafood (Noruega) – Fundada em 2017, comercializa produtos alimentares fáceis de usar em culinária. Como fonte de biorecursos, usa algas marinhas recolhidas de forma sustentável no Atlântico Norte com o objetivo de criar grandes marcas internacionais de produtos em flocos de sal, introduzindo algas nas dietas diárias atrazes de uma linha de condimentos. Desenvolveu também uma fórmula especial de extratos de algas para tratamento da pele.
  • Thalasso AS (Noruega) – Fundada em 2019, tem como objetivo resolver a mudança de paradigma associado à proliferação de Sargassum, uma espécie invasora. A solução inovadora consiste num veículo elétrico, autónomo que recolhe o Sargassum. Esta biomassa é usada para produzir fertilizantes, energia verde, carvão ativado, alginato, fucoidanas, ração animal, entre outros
  • Update Foods (França) – Fundada em 2020, produz um novo leite vegetal, feita de algas, com o objetivo de fornecer à próxima geração “laticínios” à base de plantas. O produto, composto por algas e proteínas, é comercializado na forma de pó e é solúvel em água. A empresa garante que o produto tem “sabor agradável” e que “traz benefícios de baixo impacto ambiental e alto valor nutricional”.
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