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“Fusões em Portugal já deviam ter começado há bastante tempo”

No programa Decisores desta semana, o tema é a compra da gestora de fundos Optimize pela DiF Broker. Os líderes das duas empresas explicam como o poder dificulta as fusões no setor.
20 Outubro 2018, 13h00

Os acionistas da corretora DiF Broker estão num processo de aquisição gradual que chegará perto da totalidade do capital da gestora de fundos Optimize. Em entrevista ao Jornal Económico, que será transmitida na íntegra esta sexta-feira, no programa Decisores, o CEO_da DiF Broker, Pedro Lino, e a CEO_da Optimize, Claire Teixeira, explicam o que vai mudar com as sinergias, estratégia conjunta e internacionalização enquanto grupo.

 

O que motivou a DiF nesta aquisição e como é que se enquadra na vossa estratégia?

Pedro Lino (PL): Já em 2015-2016 tivemos conversas preliminares porque achávamos que fazia sentido duas empresas que são de uma dimensão relativamente pequena, no que respeita aos players europeus, pudessem juntar esforços porque temos produtos complementares e conseguimos, quer a DiF quer a Optimize, conseguir fazer o crosselling dos seus produtos e dos seus serviços. Depois nós focámos na aquisição da DiF Markets [no Uruguai] e a Optimize focou-se também em crescer no mercado interno, mas aqui o grande objetivo seria criar uma empresa portuguesa independente e isto é muito importante.

Cada vez temos menos empresas independentes no setor financeiro, ou estão dependentes de acionistas ou instituições financeiras, e este não é o caso. No fundo é fazer crescer as duas empresas nos mercados. A DiF não tem fundos de investimento, não tem PPR, são todos os produtos nos quais a Optimize é especialista e ganhou inúmeros prémios. Por outro lado, a Optimize não oferece aos seus clientes os produtos de corretagem que nós oferecemos.

Vai haver um crosselling dos produtos. Como é que isso se vai desenvolver operacionalmente? Qual vai ser a liderança do grupo conjunto?

PL: As empresas vão se manter separadas e as marcas também. No fundo estamos a falar de atividades de investimento diferentes. A DiF vocaciona-se muito para a corretagem e cada vez vai focar-se mais aí, e a Optimize mais na gestão privada, nos fundo de investimento, nos PPR. Por isso vai ter que existir uma segregação, até porque em termos regulatórios é preferível que exista uma segregação do compliance, da auditoria interna. Há áreas que têm de ser separadas.

Depois há muitas outras em que podemos fazer em conjunto, por exemplo negociar com fornecedores, oferecer alguma campanhas aos clientes da DiF para subscreverem produtos da Optimize ou vice-versa e é aí que podemos ganhar muito, não é tanto pegar em duas empresas e fundi-las, não é esse o nosso objetivo.

Claire Teixeira (CT): É uma ideia de grupo. De qualquer forma, da nossa cultura, quer da DiF quer da Optimize, há esta independência que é fundamental.

 

Esta operação marca uma tendência no mercado para fazer face a este novo cenário de maior exigência?

PL: Penso que o mercado português já devia ter iniciado fusões principalmente entre os operadores mais pequenos há bastante tempo. Há uma cultura de poder que muitas vezes impede as empresas de se manterem viáveis a longo prazo e os acionistas por determinados interesses ou apenas por ego deixam-se levar e não são capazes de negociar o que é melhor para a empresa, para os colaboradores e para os clientes.

Em Portugal peca-se muito por agir tardiamente. A regulação que entrou em vigor – quer a da DMIF II, quer a da ESMA em agosto – vai impactar muito toda a área de corretagem. Se essas empresas não reduzirem custos ou transformarem o seu negócio rapidamente, corremos o risco de ter uma diminuição de operadores em Portugal.

 

Já estão a sentir o impacto dessa onda regulatória?

PL: Já. Os volumes baixaram substancialmente, já em julho, antecipando a entrada em vigor das directivas da ESMA. A DMIF II não teve grande impacto porque já estávamos preparados. A ESMA, nomeadamente a diminuição da alavancagem e da exposição dos clientes, é que teve impacto. Já não vendíamos opções binárias porque achamos que é um produto tóxico e não queríamos estar envolvidos portanto, nesse sentido, os nossos clientes foram poupados. Agora, é verdade que a diminuição da alavancagem e os limites vão colocar todo o setor sob pressão porque o volume das comissões vai diminuir substancialmente.

 

Falando das dificuldades que os operadores enfrentam, a DiF e a Optimize estão abertas a um processo de crescimento inorgânico,  olhar para outras oportunidades? Que áreas seriam complementares?

PL: Já o tentámos, em 2014, 2015, 2016… Não houve um ano em que não tentássemos, em Portugal, abordar um concorrente porque achamos que é necessário juntar forças e optimizar o negócio. Faria mais sentido juntar forças com um concorrente nosso do que propriamente com a Optimize porque pouparíamos a complementaridade em termos de sinergias de custos seria muito superior. Como disse, em Portugal, a nossa experiência de falar com concorrentes é que tudo é muito complicado.

 

É também a experiência que tem do lado dos fundos de investimento?

CT: É verdade que, do lado dos fundos, o mercado português é bastante diferente dos mercados de França, Espanha ou Luxemburgo no sentido em que são poucas as sociedades gestoras e são sociedades que, historicamente, vêm de grupos bancários. Muitas vezes ainda pertencem a grupos bancários, o que em França não é o caso. Há muitas boutiques independentes e a arquitetura de distribuição é muito mais aberta em outros países como França ou Espanha.

Em Portugal, enquanto sociedade gestora independente, durante muitos anos, o nosso único canal de distribuição éramos nós próprios. Não conseguíamos ser distribuídos por terceiros, por grupos bancários ou outros. A verdade é que complexifica e acaba por desservir o cliente final que não tem acesso a todo o leque de fundos portugueses. Conseguem aceder a fundos internacionais, mas paradoxalmente não a fundos portugueses. Isto está a mudar devagar, devagarinho, mas a verdade é que é uma das grandes diferentes.

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