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Gás, Prio, Brisa, EuroBic na lista de operações para 2020

As operações de fusões e aquisições de empresas cuja receita não depende do consumo ainda têm espaço para acontecer em 2020. As outras deverão ser adiadas devido ao coronavírus. Brisa e Prio na lista das que podem ser adiadas.
22 Março 2020, 09h00

“É sabido que existem operações ainda não concluídas e que poderão ser afetadas pelo atual contexto”, diz António Júlio Jorge, partner da Deloitte.

Esta frase resume o atual contexto de incerteza perante a travagem brusca do consumo e ameaça de recessão económica no horizonte.
Pode dizer-se que se há área afetada pela crise da pandemia do coronavírus é a área de M&A (fusões e aquisições). Não precisamos de ir muito longe para perceber que as operações anunciadas estão a ser adiadas ou canceladas. Por exemplo, a Cofina abortou a compra da Media Capital e até a OPA do Benfica ficou pelo caminho.

Mas “se não houver alterações dos fundamentais de longo prazo, diríamos que mesmo nos casos mais difíceis poderá haver acordo mediante alteração de alguns pressupostos”, refere o partner da Deloitte.

No mercado, alguns especialistas contactados pelo Jornal Económico fazem um retrato das operações que estavam anunciadas ou já contratadas.

Um negócio que deverá fazer-se este ano é o da venda pela Galp das distribuidoras de gás, um negócio que rondará os 1,5 mil milhões de euros segundo a Bloomberg. Isto porque se trata de um ativo cuja receita não depende do consumo (que caiu a pique com a crise do coronavírus), mas sim do volume dos ativos regulados.

A petrolífera portuguesa contratou o Bank of America para preparar a venda da unidade de infraestruturas reguladas de distribuição de gás. O objetivo passa por receber ofertas dos interessados até ao fim deste mês de março, em pleno estado de emergência nacional.
Este desinvestimento da Galp estará inserido no plano de rotação de ativos da petrolífera portuguesa, que está a apostar nas energias renováveis. Para se tornar mais verde a Galp comprou projetos de energia fotovoltaica em Espanha com vista a ser o maior operador solar da Ibéria. O negócio avançará até porque a Galp, que neste negócio tem um sócio japonês com 22,5% (o grupo Marubeni), precisa desta venda para financiar a compra de centrais solares em Espanha por 450 milhões, se quiser manter controlado o rácio de dívida sobre EBITDA.

Em causa está a venda da Galp Gás Natural Distribuição (GGND), que integra a divisão de infraestruturas reguladas de distribuição. A GGND tem capital em nove distribuidoras de gás natural em Portugal: Duriensegás (77,50%), Beiragás (46,19%), Lusitaniagás (75,05%), Lisboagás (77,50%), Setgás (77,45%), Dianagás (77,50%); Paxgás (77,50%), Medigás (77,50%) e Tagusgás (32,03%).
Já o negócio de venda da Prio e mesmo a venda da Brisa poderão acabar por ser adiados.

A Prio foi posta à venda pela Oxy Capital, tendo sido contratado o banco Lazard, antes do coronavírus se tornar uma pandemia e obrigar a economia a ficar em coma. Mas a queda abrupta dos preços do petróleo para níveis abaixo dos 30 dólares e as incertezas em torno do custo de financiamento, fazem com que a gasolineira volte a ver a sua venda adiada até que a conjuntura se torne mais favorável.

Também a venda da Brisa encontra nesta crise um forte obstáculo. Os Mello e a Arcus estão a vender 80% do capital da Brisa e chegaram à fase da escolha dos candidatos que iriam apresentar propostas vinculativas, mas já houve desistências dentro dessa short-list. Dois fatores impactam a venda da Brisa. O custo da dívida e a queda de tráfego nas autoestradas em face de uma recessão económica esperada. Por um lado, os candidatos à compra têm de recorrer a financiamento e existe uma incerteza em relação ao custo da dívida e à sua maturidade. Por outro lado, a utilização das autoestradas é pró-ciclíca e portanto acompanha a evolução do PIB. Uma recessão severa diminui a perspetiva de tráfego no futuro e os candidatos incorporarão esse facto nas suas avaliações da Brisa.

Já a venda do EuroBic ao Abanca deverá continuar, embora não seja de estranhar um ritmo mais lento nos processos de aprovação pelo regulador. O BCE tem estado focado no combate à recessão económica provocada pela pandemia. A due-diligence que o Abanca está a fazer prossegue, apesar da crise.

Também a venda pela MEO de 49,99% na rede de fibra à Morgan Stanley, anunciada no fim de 2019, não estará comprometida com a crise e deverá ser fechada em 2020. As barragens da EDP, cuja venda a um consórcio francês foi acordada no final do ano, deverá continuar. A operação, que permitirá à elétrica encaixar 2.200 milhões deverá ficar concluída no segundo semestre.

“Dir-se-á que as operações que dependam apenas de ‘capitais próprios’ continuarão a ter condições para avançar, ao passo que as que sejam financiadas, no todo ou em parte, com ‘capitais alheios’ poderão ser afetadas pela reapreciação que as próprias entidades financiadoras façam do seu risco de crédito”, diz a equipa de M&A da Garrigues. “Por outro lado, e independentemente da disponibilidade de financiamento (próprio ou alheio), não pode excluir-se que sejam os próprios investidores a revisitar, na medida do que seja contratual e legalmente possível, a sua decisão de investir. Num contexto de maior incerteza, será mais difícil estabelecer (ou sustentar) múltiplos de transação ou acordar cash flows futuros, sendo provável que os investidores, sobretudo os mais sofisticados, passem a assumir uma abordagem mais conservadora nas suas avaliações nos tempos mais próximos”, adiantam.

“Consistentemente, não pode excluir-se que algumas das operações em curso (em negociação, ou já assinadas, mas sujeitas a condições prévias) possam ser, no imediato, sujeitas a um “standstill” ou mesmo, em cenários mais extremos, acabar por não ser concluídas. Tudo dependerá da análise que as partes envolvidas façam dos riscos e oportunidades associados aos setores de atividade em que as empresas transacionadas operem”, referem os advogados.

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