[weglot_switcher]

“Gestão do risco é um tema absolutamente crítico”, sublinha EDP

A minimização e/ou a mitigação do risco fazem parte da estratégia das grandes empresas. EDP e a SCC querem um perfil de negócio de baixo risco para garantir a sustentabilidade no longo prazo. A opinião de António Castro, diretor de Risco e Sutentabilidade da EDP
12 Novembro 2018, 07h30

Como encara a empresa o tema da gestão do risco?

A gestão do risco é atualmente um tema absolutamente crítico no contexto atual: o nível de incerteza atual elevado, nas frentes política, regulatória e económica globais, agravado por culturas de risco muitas vezes insuficientemente maduras ou permeáveis a pressões de curto-prazo, pelo crescente recrudescimento de pressões legais e regulatórias que agrava ainda mais o impacto da materialização dos riscos (que já de si são relevantes) e, finalmente, a proliferação de fontes de informação, amplificadas pelas redes sociais, que contribuem para tornar as organizações mais expostas a impactos reputacionais severos.

No grupo EDP, a gestão do risco é um elemento fundamental da estratégia de Grupo, que estando assente no pilar estratégico da preservação de um perfil de negócio de baixo risco desde há vários anos.

Tradicionalmente, a gestão do risco é vista como tendo o objetivo de minimizar e mitigar o risco, mas o grupo EDP procura ter uma abordagem mais completa, a quatro níveis:

– Assegurar o compliance com a legislação nacional e internacional existente (no Grupo EDP existe uma direcção dedicada de compliance)

– Proteger valor, mantendo rating objectivo, evitando perdas relevantes ou volatilidade do P&L, apoiando a entrega de projectos/ investimentos, assegurando a continuidade do negócio, preparando e gerindo situações de crise;

– Promover rentabilidade e crescimento, apoiando a tomada de decisões tendo em conta trade-offs de risco/ retorno;

– Assegurar estabilidade e continuidade, assegurando um modelo de governo sólido, evitando surpresas para accionistas e parceiros de negócio (instituições financeiras, fornecedores).

 

Quais os novos topos de riscos que podem afetar o grupo empresarial e que passaram a fazer parte do novo modelo de gestão de risco?

Para além dos riscos “tradicionais” de mercados energéticos, regulação, financeiros e operacionais, o sector das utilities elétricas tem presente um conjunto de desafios resultantes de riscos emergentes globais e sectoriais. Exemplos desses desafios são os riscos emergentes decorrentes de:

– Incerteza relativa ao desenho de mercado grossista na Europa, em função dos desafios atuais do sistema de remuneração desajustado ao contexto de crescente penetração de tecnologias de custo fixo (renováveis, backup, armazenamento) e de custo marginal 0, reduzindo os preços e tornando-os mais voláteis;

– Crescente proliferação de recursos distribuídos, incluindo a produção descentralizada para autoconsumo, os veículos eléctricos, a gestão activa da procura (demand side management) e o armazenamento;

– Proliferação de novas tecnologias com potencial disruptivo no sector eléctrico, que conduzem à entrada de novos players no mercado, e à oportunidade de optimização operacional do negócio;

– Exposição a riscos cyber decorrentes da crescente sofisticação e integração tecnológicas.

Os tipos de risco paramétricos (sobretudo associados a volatilidade do volume de precipitação e vento, com impacto na produção eléctrica) e os riscos cambiais, dada a sua enorme importância, são temas que desde há muito são analisados e tratados dentro da EDP.

 

Os quadros dirigentes da empresa estão conscientes da necessidade de se protegerem em termos deste tipo de riscos?

O grupo EDP tem presente nos seus pilares estratégicos o objetivo de preservar um perfil de negócio de baixo risco, nomeadamente protegendo o negócio de riscos emergentes e tentando preparar-se da melhor forma para o possível impacto destes riscos, minimizando perdas e potencializando oportunidades. Neste sentido, várias equipas do Grupo EDP têm trabalhado em conjunto com especialistas externos e entidades internacionais, nomeadamente no âmbito da digitalização e dos novos paradigmas do mercado energético. Exemplo disso são: o projecto EDPx desenvolvido para acelerar a digitalização do Grupo; a parceria realizada entre a EDP Produção e a General Electric, no âmbito da otimização e ativos de produção; e a contratação de seguros cyber.

 

Que respostas tem a empresa dos seguros em termos de transferência de riscos?

O grupo EDP tem encontrado no mercado segurador uma resposta globalmente positiva, quer nacional, quer internacional, para integrar o programa de seguros da empresa. A transferência de risco para o mercado é tratada pelo Grupo EDP de uma forma profissional, com uma equipa especializada que supervisiona a contratação de seguros em todas as geografias em que a EDP realiza as suas atividades. Grande parte destes programas são transversais a toda a organização (“programas internacionais”, como os seguradores habitualmente designam). Tem sido gratificante a resposta e o apetite demonstrado pela maioria dos aceitantes de risco, permitindo construir um conjunto de soluções abrangentes em condições de mercado bastante competitivas. Esta condição tem sido uma constante por parte dos grandes seguradores e resseguradores, e prolonga-se agora à medida que se vai diversificando mais os suportes a partir de novos mercados.

 

Faz sentido para a empresa trabalhar a gestão de risco como uma cativa?

A cativa assume um papel estratégico na implementação do programa de seguros do Grupo EDP. Por um lado, permite otimizar os seguros, uma vez que o risco que o grupo está disposto a reter é diferente (normalmente maior) daquele que cada unidade de negócio estaria disposta a reter “per se”. Por outro lado, do ponto de vista da transferência para o mercado permite colocar a negociação das condições a um nível bastante diferente, com recurso a estruturas de cedência de risco em resseguro.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.