A filosofia de ‘investimento em valor’ pode ser resumida como a estratégia de aquisição de ações de empresas cuja cotação esteja abaixo do que se considere um ‘valor justo’, que é determinado através de métricas absolutas ou relativas. A convição é que, mais cedo ou mais tarde, o mercado irá reconhecer o valor intrínseco da empresa e a cotação irá, então, convergir para um “valor justo”.

De entre os defensores e intérpretes mais famosos deste paradigma de investimento estão Benjamin Graham, David Dodd, Warren Buffett, Charlie Munger e Joseph Piotroski. Não sendo totalmente uma estratégia oposta, a filosofia de ‘investimento em crescimento’ é normalmente apontada como contraponto ou alternativa ao value investing. Muito resumidamente, o growth preconiza o investimento em empresas que se prevê possam crescer mais do que a média do mercado e que reinvistam os seus lucros no negócio, em vez de os distribuir.

No bull market em curso, sobretudo nos EUA, a divergência de performance entre o value e o growth é significativa, com vantagem para o growth. Tendo em conta o S&P 500, desde março de 2017, o índice growth está a valorizar quase 50% e o value pouco mais de 10%. Adensando o problema, como os gestores ‘valor’ escolhem empresas diferentes, com base em critérios proprietários, muitos enfrentam rentabilidades negativas. David Einhorn é um dos mais conhecidos e regista perdas de mais de 20%, que são difíceis de digerir quando a imprensa fala quase diariamente de máximos históricos.

Tivemos acesso ao relatório mais recente da Golden Equity investments da Golden Wealth Management que aborda as raízes da pior performance relativa do value, citando as reflexões do JP Morgan sobre o assunto. A explicação poderá estar em alterações estruturais do mercado e não tanto na situação económico financeira das empresas. Nos últimos anos tem-se assistido “à migração de ativos de estratégias ativas para estratégias passivas” e para estratégias baseadas em métodos quantitativos ligados à performance de mercado e que buscam baixa volatilidade.

Portanto, “o papel crescente dos ETFs, da indexação, dos swaps e dos fundos sistemáticos tem transformado materialmente a estrutura dos mercados”. Essa migração tem sido feita à custa dos fundos e gestores que seguem estratégias value, deprimindo as cotações. O ‘investimento em valor’ está fora de moda, até pelas características de atuação contrária. Um gestor value gosta de comprar ‘barato’, em fraqueza, o que significa, na maior parte das vezes, entrar quando as ações dessas empresas estão a cair. O mesmo relatório chama atenção para o facto de esta situação de underperfomance já ter acontecido entre 1998 e 2000, atura em que a Berkshire Hathaway de Warren Buffet chegou a registar uma performance relativa pior em 4100 pontos base do que o S&P 500.

A explicação apresentada pela Golden Equity investments é plausível. Afinal de contas, em qualquer mercado, o que influencia decisivamente os preços são os fluxos de capital, pelo que estes podem oscilar sem que haja uma conexão com a performance operacional dos negócios. Sem dúvida que a busca destas explicações também tem como base ajudar a acalmar os investidores, que têm sido desgastados quase diariamente com a divergência de rentabilidades entre quem tenta investir em empresas que estão ‘baratas’ e quem simplesmente compra um ETF do S&P 500. Mesmo tendo em conta essa necessidade de justificação e de convicção na filosofia de investimento por parte dos gestores value, é pertinente compreender que estes ciclos largos existem mesmo e que um dia será o growth a ficar fora de moda.