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Gita Gopinath: Americana de Calcutá acaba de entrar para a história do FMI

É a primeira mulher a ser nomeada economista-chefe do Fundo Monetário Internacional. Deixa Harvard para dirigir o departamento de pesquisas económicas de uma das mais poderosas instituições internacionais e promete refletir sobre a distribuição da riqueza na era da globalização.
  • Gita Gopinath, Professor of Economics, Harvard University, USA at the India Economic Summit 2016 in New Delhi, India, Copyright by World Economic Forum / Benedikt von Loebell
16 Fevereiro 2019, 10h00

Entusiasmada e honrada. É assim que Gita Gopinath, a mais recente economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), descreve o estado de alma após receber a notícia de que seria nomeada para o cargo ocupado pela primeira vez na história daquela organização internacional por uma mulher.

A norte-americana nascida em Calcutá,  no leste da Índia perto da fronteira com o Bangladesh, prepara-se, aos 46 anos, para enfrentar um dos maiores desafios da carreira: chefiar o departamento responsável pelos estudos e projeções económicas de uma das mais poderosas instituições internacionais, na qual o multilateralismo e a globalização já fazem parte do léxico habitual.

“Este é um trabalho muito entusiasmante para mim, dadas as áreas em que trabalho como macroeconomista internacional”, descreveu Gopinath em entrevista à “The Harvard Gazette”.

“Não há realmente nenhum outro lugar no mundo onde possa trabalhar com um número tão grande de macroeconomistas internacionais altamente qualificados, e isso é uma grande fonte de entusiasmo”, acrescentou.

A nomeação de Gita Gopinath, que assumiu funções em janeiro, não foi surpreendente. Quando a diretora-geral do FMI, Christine Largarde, anunciou, em outubro, a escolha da professora de Economia em Harvard para substituir Maurice Obstfeld, gabou-lhe as provas dadas na área. “A Gita é uma das economistas mais importantes do mundo, com credenciais académicas impecáveis, um histórico comprovado de liderança intelectual e ampla experiência internacional”, disse então Lagarde. “Tudo isso torna-a excecionalmente bem posicionada para liderar o nosso Departamento de Pesquisa nesta importante conjuntura. É um enorme prazer nomear uma figura tão talentosa para o cargo de economista-chefe”, concluiu.

Mas o mérito de Gopinath já tinha sido reconhecido pela organização com sede em Washington quando, em 2014, a elegeu como uma das “25 Economists under 45”. Três anos antes tinha sido a vez do World Economic Forum incluí-la na seleta lista dos “Young Global Leaders”.

Licenciada pelo Lady Shri Ram College, com mestrados pela Delhi School of Economics e pela Universidade de Washington, e um doutoramento em Economia pela Universidade de Princeton, prepara-se agora para colocar os holofotes nas consequências da globalização, nomeadamente na distribuição da riqueza, como assumiu em Davos.

A experiência de investigação de Gopinath em finanças e macroeconomia internacional, nomeadamente no comércio e investimento, e também nas crises financeiras, política monetária e crises dos mercados emergentes podem representar uma injeção de mudança (reivindicada por muitos) nas posições do FMI.

“O que é absolutamente claro e presente é que estamos a ver o primeiro recuo sério da globalização”, disse a nova economista-chefe do FMI à revista de Harvard. “Isso não aconteceu nos últimos 50 ou 60 anos, quando o mundo mudou para tarifas mais baixas e aumentou o comércio entre os países”.

Questionada sobre os desafios que se colocam às economias mundiais, foi clara: há várias evidências de que a incerteza em torno de políticas tem como resultado consequências negativas.

“Nos últimos meses, temos as tarifas impostas pelos Estados Unidos e a retaliação da China e de outras nações. Em geral, há uma crescente incerteza sobre a política comercial, inclusivamente com o Brexit. Embora o comércio tenha reduzido a pobreza global e aumentado os meios de subsistência, as  consequências para a desigualdade, e o saber se as regras de procedimento são justas, são preocupações reais que têm de ser abordadas”, realçou.

No “World Economic Outlook” de 2019, o FMI reviu em baixa as estimativas para a economia global e considerou que os principais riscos globais são o resultado das negociações comerciais e do rumo que as condições financeiras levarem nos próximos meses e este será um dos principais cenários com os quais Gopinath terá que lidar.

Mas as alterações na cena internacional abarcam também a posição sobre o investimento direto estrangeiro e aquela que é a segunda economista de origem indiana a ocupar o cargo de economista-chefe do_FMI o primeiro foi, entre 2003 e 2006, o ex-presidente do Banco Central da Índia Raghuram Rajan já antecipou que, numa altura em que grande parte deste investimento se concentra em empresas tecnológicas, este pode levar a repensar a forma como se analisa o impacto da globalização.

“Espero que o FMI possa continuar a ser um lugar que ofereça uma liderança intelectual em importantes questões de política”, realçou Gita Gopinath.

Artigo publicado na edição nº 1974 do Jornal Económico de 1 de fevereiro

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