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Governos usaram tecnologia israelita para vigiar jornalistas e ativistas em todo o mundo

Os governos da Hungria, México, Marrocos ou Emirados Árabes Unidos vigiaram dezenas de jornalistas, usando um software que acede ao telemóvel permitindo extrair informação, mas também gravar conversas e filmar.
19 Julho 2021, 10h30

Até à data contabilizaram-se mais de 180 jornalistas de investigação, editores e ativistas espalhados pelo mundo que foram investigados pela empresa NSO Group, uma empresa de tecnologia israelita que permite a vigilância remota de smartphones através do spyware Pegasus, avança uma investigação do “The Guardian”. De acordo com a publicação, um dos visados desta vigilância, a pedido de clientes governamentais é a editora do Financial Times.

A editora Roula Khalaf tornou-se a primeira mulher na história do jornal britânico a subir ao cargo de editora no ano passado, mas a investigação por parte do NSO Group remonta a 2018. A jornalista britânico-libanesa sucedeu a Lionel Barber a 20 de janeiro de 2020 mas já fazia parte da equipa do “Financial Times”, tendo sido editora-adjunta e editora no Médio Oriente. O número de telefone de Khalaf está incluído na lista consultada pelo “The Guardian” para possível vigilância por parte da empresa israelita.

Através do ‘spyware’ Pegasus, a empresa israelita é capaz de aceder a um telemóvel, extrair os dados armazenados no dispositivo móvel e ativar o microfone para gravar as conversas através do número de telefone, sendo também capaz de ativar a câmara para filmar os seus proprietários.u

Segundo a investigação do projeto Pegasus, o telemóvel de Khalaf foi selecionado como um possível alvo pelos Emirados Árabes Unidos, sendo que à data a britânico-libanesa era editora do Médio Oriente no “Financial Times”.

Ainda assim, a investigação dos jornalistas do “The Guardian” identificaram mais colegas visados pela empresa de Israel. Os jornalistas selecionados como possíveis candidatos para vigilância encontram-se a trabalhar em algumas das organizações de média mais prestigiadas do mundo, entre as quais “Wall Street Journal”, “CNN”, “New York Times”, “Al Jazeera”, “France 24”, “Radio Free Europe”, “Mediapart”, “El País”, “Associated Press”, “Le Monde”, “Bloomberg”, “Agence France-Presse”, “The Economist”, “Reuters” e “Voice of America”.

De acordo com a NSO Group, foram vários os governos que compraram o ‘spyware’, com a empresa a insistir que a responsabilidade é das entidades governamentais e que estes estão contratualmente obrigados a utilizar o Pegasus apenas como uma ferramenta de espionagem para combater “crimes graves e terrorismo”.

Os dados foram inicialmente obtidos pela Forbidden Stories, uma organização jornalística, e pela Amnistia Internacional, que partilharam com o “The Guardian” e outros jornais as suas descobertas.

A publicação adianta que a lista composta por ativistas, dissidentes e jornalistas não é sempre consistente em termos de nome. Ainda assim, vários ativistas terão dito ao “The Guardian” que a vigilância era “terrivelmente previsível” dado que o ‘spyware’ foi vendido aos regimes mais repressivos do mundo.

Os dados apontam que os Emirados Árabes Unidos colocaram 12 jornalistas sob escuta, enquanto a Índica investigou 38 jornalistas, o Azerbaijão soma 48 jornalistas e Marrocos recolheu dados de 38 jornalistas. Entre os jornalistas e ativistas selecionados encontram-se críticos da repressão e corrupção sentidos nos países mas também críticos de abusos de direitos humanos e de corrupção governamental. Também o México, Hungria, Arábia Saudita, Ruanda, Cazaquistão e Bahrain estão entre os países que emitiram mais pedidos de vigilância.

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