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Grandes devedores: Grécia justifica a maioria das perdas do BCP e BPI

O Estado grego é o grande devedor responsável por perdas de 766 milhões de euros nos dois bancos privados portugueses, de acordo com o documento revelado pelo Banco de Portugal.
16 Julho 2019, 21h50

A dívida pública grega e o investimento no banco da Grécia (no caso do BCP) são os grandes responsáveis pelas elevadas perdas quer do BCP, quer do BPI que são elencadas na lista de devedores divulgada pelo Banco de Portugal.

No caso do BCP as maiores perdas resultam de participações em instrumentos de capital, que somam 1.152 milhões de euros, o que compara com um total de perdas de 2.023 milhões se forem incluídas as “outras perdas” em créditos a grandes devedores.

Segundo fonte conhecedora do processo, estas perdas do Millennium BCP são o resultado das participações de capital em operações internacionais, nomeadamente a Grécia, Roménia e Estados Unidos. Sendo que, segundo a mesma fonte, a que gerou mais perdas foi o banco na Grécia (que foi vendido com prejuízo).

Mas também o investimento em dívida grega pesou no volume de perdas do BCP, ao somar 358 milhões de euros na rubrica grandes devedores.

O Estado grego é também o grande devedor do seu rival BPI, que na mesma data (30 de junho de 2012, data em que recebeu ajuda do Estado, entretanto paga com juros) registou perdas de 408 milhões.

Assim, o Estado grego é o grande devedor responsável por perdas de 766 milhões de euros nos dois bancos privados portugueses, de acordo com o documento revelado pelo Banco de Portugal.

Já as imparidades para crédito somam 554 milhões de euros no BCP (valor total agregado das perdas por imparidades registadas à data de referência que é de 30 de junho de 2012). Esta é a data em que o BCP recebeu ajuda do Estado (3.000 milhões de euros em CoCo´s entretanto reembolsados ao Estado com juros).

No BPI as imparidades para crédito não ultrapassam os 41 milhões e as imparidades para participações em instrumentos de capital somavam 49 milhões.

BPI sobre a lista de devedores divulgada pelo Banco de Portugal

Em comunicado o banco liderado por Pablo Forero refere que a dívida grega explica cerca de 80% das perdas reportadas pelo BPI em 2011.

“O BPI esclarece que, à data de referência, o valor agregado das perdas reportadas pelo BPI no âmbito do Artigo 3.º, n.º 1, c), (i), (i.iv) e (i.v) da Lei n.º 15/2019 era de 508 milhões de euros. Este montante agregado inclui as perdas com os títulos de Dívida Pública Grega que, à data de referência (2011), ascendiam a 408 milhões de euros, representando 80% do total de perdas reportadas. A informação detalhada relativa a esta perda é pública e foi divulgada pelo BPI no seu R&C relativo ao exercício de 2011”, lê-se no comunicado do banco.

Como decorre da informação hoje publicada pelo Banco de Portugal, além das perdas em dívida grega, o BPI apresenta apenas na lista de grandes devedores nove situações adicionais, que atingem em conjunto o valor de 100 milhões de euros, explica o banco.

“O BPI reembolsou integralmente a dívida ao Tesouro português, com benefício para o Estado e os contribuintes”, sublinha o banco.

“Importa lembra que a razão que esteve na base do recurso pelo BPI a fundos públicos não decorreu do incumprimento de créditos concedidos pelo Banco a empresas”, explica a instituição em comunicado.

O comunicado do BPI explica o contexto em que o banco precisou de ajuda para repôr os rácios de capital. A explicação do BPI serve também para o BCP. Tudo se resume ao facto de, depois de os bancos portugueses terem sido chamados a emprestar dinheiro ao Estado, ou aos Estados, e de estarem carregados de dívida soberana, a EBA – Autoridade Bancária Europeia, ter decretado o mark-to-market da dívida pública como obrigatória para determinar perdas e consequentes necessidades de capital. Como o tempo era de aversão dos mercados à dívida pública, os juros eram altos e as cotações baixas, logo os bancos tiveram de registar elevadas perdas que consumiram o capital ao ponto de o rácio de CET1 descer abaixo do rácio regulamentar, o que obrigou a operações de aumento de capital core do banco, o que só foi possível através da ajuda do Estado que subscreveu obrigações de capital contingente elegíveis para core tier I.

O BPI explica em comunicado isto mesmo, dizendo que a “subscrição pelo Estado Português de instrumentos de capital Core Tier I (CoCo) do Banco BPI em junho de 2012 decorreu de uma alteração regulatória que modificou os pressupostos em que o investimento em dívida pública, então com rating positivo, havia sido realizado”.

“Na sequência de uma recomendação da Autoridade Bancária Europeia, resultou uma exigência de capital temporário e excecional para o BPI de 1,4 mil milhões de euros, resultante da valorização a preços de mercado da exposição a divida soberana com referência a 30 de setembro de 2011, dos quais mil milhões de euos para exposição à dívida pública portuguesa e 0,2 mil milhões relativos a dívida pública grega”, lembra ainda o banco.

No caso do BCP a ajuda em CoCos somou 3 mil milhões de euros.

A exposição à dívida grega foi abrangida pelo processo de restruturação deste país que envolveu um perdão de dívida e uma operação pública de troca de títulos no início de 2012.

“O Banco BPI vendeu a totalidade da exposição dívida grega no segundo semestre de 2012 a preços de mercado”, explica a instituição.

Já as restantes exposições a dívida soberana não tiveram perdas de crédito, adiantam.

O BPI reembolsou a totalidade dos CoCo subscritos pelo Estado Português até Junho de 2014, antecipando em três anos o calendário inicialmente previsto.

Entre junho 2012 e junho 2014, o Banco BPI suportou 167 milhões de euros de juros com os CoCos. Tendo em conta que o investimento do Estado no BPI foi financiado através da linha disponível para a recapitalização dos bancos portugueses cuja taxa de juro média foi de cerca de 3,3%, o Estado Português obteve, no mesmo período, um ganho de 102 milhões de euros, recorda o banco que à data era liderado por Fernando Ulrich.

Na lista dos grandes devedores do Banco de Portugal, foram consideradas as operações com perdas associadas que, em pelo menos uma das datas de disponibilização de fundos públicos, apresentassem um valor bruto – considerado individualmente ou agregado com todas as operações com uma mesma entidade devedora e (se aplicável) com outras entidades do mesmo grupo económico – que ultrapassasse o máximo entre 5 milhões de euros e 1% do montante total de fundos disponibilizados a essa instituição.

No caso do BCP foram consideradas operações com posição financeira igual ou superior a  30 milhões. Já no Banco BPI o limiar mínimo é de 15 milhões de euros.

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