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Grandes devedores sem garantias geraram perdas de 4 mil milhões aos bancos

Na lista de grandes devedores dos bancos nos últimos 12 anos constam algumas operações sem garantias associadas em quatro dos oito bancos abrangidos pelo relatório do Banco de Portugal. A exposição inicial dessas operações soma nesses bancos 5.116 milhões. As perdas somam 3.994 milhões.
18 Julho 2019, 07h47

Na lista dos grandes devedores aos bancos que receberam nos últimos 12 anos ajuda do Estado há um total de 5.116 milhões de euros que foram emprestados sem que haja garantias a cobrir a exposição a esse risco. A informação consta da lista de grandes devedores que foi divulgada pelo Banco de Portugal na terça-feira, dia 16 de julho. Este montante inclui no entanto os investimentos em dívida pública, nomeadamente em dívida grega. Tal como já tinha sido noticiado, entre os maiores devedores do BCP e do BPI está a Grécia.

O Estado grego provocou um rombo de 766 milhões de euros ao BCP e BPI, depois do maior perdão de dívida da história concedido ao país em março de 2012, no âmbito do segundo resgate financeiro internacional a Atenas.

Este montante de 5,1 mil milhões refere-se à exposição inicial a clientes que não deram garantias ou colaterais, à data das respetivas ajudas públicas de cada um dos bancos. È portanto o valor agregado bruto do crédito (titulado – incluindo obrigações – e não titulado), financiamento ou garantia concedido originariamente ou da participação societária adquirida (relativamente aos devedores de um mesmo grupo económico), que não surge com qualquer garantia associada. Esta exposição inicial gerou perdas efetivas de 3.994 milhões de euros. Entre estas estão as perdas de 408 milhões e de 358 milhões que a dívida pública grega deu ao BPI e BCP, respetivamente.

Nas datas de ajuda pública dos respetivos bancos a exposição somava no conjunto 1.186 milhões de euros. Mas nem todos os bancos estão nesta lista dos que não concederam créditos sem qualquer garantia ou colateral. Entre os que não apresentam exposições a clientes sem garantias associadas estão a Caixa Geral de Depósitos (CGD), o BES, o BPN, o BPP.

Destaca-se assim que a CGD não tem na lista dos grandes devedores exposições sem garantias. No banco do Estado, as grandes perdas estão sobretudo nas participações em instrumentos de capital, mas que não entram nesta análise.

Os bancos que surgem com situações de créditos sem garantia associadas são o Banif, o BCP, o BPI e o Novo Banco. Sem surpresas, o líder aqui é o Novo Banco. Outra curiosidade é que a larga maioria dos créditos sem garantias entraram em incumprimento sem reembolso de capital.

No caso do Banif, em 30 de junho de 2015, tinha uma exposição de 36 milhões para um crédito inicial de 30 milhões sem colaterais e que o banco tomou medidas para recuperar esse montante. Na mesma data tem uma exposição à data da ajuda estatal de 119 milhões, que é igual à exposição inicial. Ambos geraram imparidades de 130 milhões de euros, mas ainda não há perdas efetivas.

O BCP, a 30 de junho de 2012, tinha quatro operações com créditos sem garantias. Um deles tinha um crédito inicial de 56 milhões de euros, tendo representado perdas efetivas de 52 milhões de euros, apesar do banco ter tomado medidas para recuperar esse montante. Na mesma data um outro cliente registou uma exposição à data de 57 milhões de euros para um crédito inicial de 55 milhões de euros, ainda sem perdas efetivas.

O banco liderado então por Nuno Amado e hoje liderado por Miguel Maya tinha em 30 de junho de 2016 perdas de quatro milhões com um crédito inicial de 22 milhões mas que naquela data representava uma exposição de 7 milhões de euros, tendo o banco tomado medidas para recuperar esse montante.

A dívida grega inicialmente de 477 milhões gerou as tais perdas de 358 milhões já referidas.

No caso do BPI, à data da ajuda pública, houve três concessões de créditos sem garantias a grandes devedores. O banco tinha uma exposição à data de referência de 39 milhões de euros em dívida da Grécia. Mas era apenas um resquício de uma exposição que começou em 480 milhões de euros no dia 30 de junho de 2012 e acabou a gerar perdas de 408 milhões depois do célebre haircut à dívida grega. O BPI diz que tomou medidas de recuperação.

No mesmo banco um outro grande devedor teve um crédito inicial de 26 milhões de euros sem garantias que representou perdas de 24 milhões de euros, apesar da instituição ter tomado medidas de recuperação. Há ainda outro cliente a que o BPI teve uma exposição original de 71 milhões de euros, também sem garantias, e que custou ao BPI esse montante.

O Novo Banco é, sem surpresas, a instituição com o maior número de créditos sem garantias: oito clientes ao todo.

A 31 de dezembro de 2014, o banco que nasceu dos escombros do BES, tinha uma exposição de 700 milhões de euros a um crédito que começou em 3.328 milhões de euros e que representou perdas de 2.941 milhões de euros. O relatório não diz, mas este era o valor dos empréstimos do banco ao BES Angola. À data de referência de 30 de junho de 2018, esse é o “cliente 130” que o Jornal Económico conseguiu identificar. O Novo Banco diz que tomou medidas de recuperação.

Recorde-se que o BESA foi intervencionado na altura pelo Estado angolano e hoje é o Banco Económico, onde o Novo Banc0 detém uma participação de 9,72%.

Ainda no Novo Banco um outro cliente mistério, à mesma data, era dono de um crédito sem garantias associados que inicialmente era de 51 milhões de euros, mas que a exposição à data da ajuda pública já era de 61 milhões de euros, ainda que, segundos os quadros do documento do BdP, não tenha registo de perdas. Terá provavelmente imparidades, mas o documento não detalha imparidades por operação, só o acumulado dos créditos e nem todos entram nesta análise por terem garantias associadas.

O Novo Banco tinha ainda um cliente, cuja exposição inicial era de 10 milhões de euros, e que à data da ajuda estatal mantinha-se nos mesmos 10 milhões. Ainda que a instituição tenha tomado medidas de recuperação. Esta operação deu perdas ao Novo Banco de 7 milhões de euros.

À data da última injeção de capital, em junho de 2018, além do BES Angola, cujo crédito concedido sem garantidas provocou perdas de 2.941 milhões de euros ao Novo Banco, a instituição tinha ainda uma exposição a um cliente que não deu garantias, no valor de 106 milhões de euros para um crédito inicial de 233 milhões de euros, e que o banco tomou medidas para recuperar. No entanto, representou perdas de 128 milhões de euros para a instituição de crédito.

A um outro cliente, cujo crédito foi concedido sem garantia e que provou perdas de 1 milhão, o banco tinha uma exposição de 50 milhões de euros para um crédito inicial de 52 milhões, que o banco tomou medidas para recuperar.

Ainda neste período, o Novo Banco tinha uma exposição de 50 milhões de euros e de 51 milhões, a dois outros clientes diferentes, o mesmo que o crédito original e o banco tomou medidas para recuperar, não havendo ainda perdas. Por último, a instituição liderada por António Ramalho tinha ainda uma exposição de 53 milhões de euros para uma exposição original de 5 milhões de euros, que o banco tomou medidas para recuperar e sem registo de perdas efetivas.

As garantias em faltam são e/ou Garantias Pessoais; Garantias Imobiliárias; Activos Financeiros; e outras.

O Banco de Portugal divulgou, de forma agregada e anonimizada, a informação reportada pelas instituições de crédito abrangidas, relativa a grandes posições financeiras.

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