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Guaidó defende relação comercial privilegiada com os Estados Unidos

Declarações do líder da oposição foram entendidas com uma resposta ao Presidente Nicolás Maduro, quando assegurou que os Estados Unidos estão por detrás de um golpe de Estado na Venezuela para se apoderarem dos seus recursos naturais.
16 Fevereiro 2019, 10h11

O chefe do parlamento venezuelano e autoproclamado Presidente, Juan Guaidó, defendeu esta sexta-feira a relação comercial daquele país sul-americano com os Estados Unidos, principal destino das exportações da indústria petrolífera da Venezuela.

Os Estados Unidos são “o nosso principal cliente, pudéssemos nós vender mais…”, disse Guaidó, num encontro com especialistas em petróleo na capital Caracas.

As declarações do líder da oposição foram entendidas com uma resposta ao Presidente Nicolás Maduro, quando assegurou que os Estados Unidos estão por detrás de um golpe de Estado na Venezuela para se apoderarem dos seus recursos naturais.

“Quando dizem que um país se quer apoderar das nossas riquezas é uma grande falácia, uma grande mentira”, assegurou.

Juan Guaidó também considerou que o mercado norte-americano é ideal para o crude pesado e extra-pesado recolhido pela estatal Petróleos da Venezuela (Pdvsa).

“O nosso tipo de petróleo não pode ser vendido em qualquer sítio, é como se fossemos vender um gelado com muito açúcar a um diabético”, exemplificou.

No entanto, assinalou que se devem procurar novos clientes “no mundo” e recordou que a Índia se tornou no segundo importador de petróleo venezuelano.

A indústria petrolífera venezuelana está sujeita a numerosas sanções impostas pelo Governo do Presidente dos EUA, Donald Trump, que apenas serão levantadas quando Maduro renunciar à presidência, uma posição apoiada por Guaidó.

Nessa perspetiva, e para “proteger” os ativos venezuelanos fora do país, o parlamento dominado pela oposição designou uma junta administrativa para a Pdvsa e a sua filial nos Estados Unidos, Citgo, uma das principais fontes de financiamento do país caribenho.

O parlamento também autorizou a recém-designada junta a colocar no mercado “petróleo pesado alternativo com o menor custo possível”, devido à eventual impossibilidade de ser garantido pela Pdvsa.

Na semana passada, Maduro disse que as sanções constituem uma tentativa dos Estados Unidos de despojar a Venezuela da Citgo, e ameaçou com processos judiciais a “toda a pessoa que aceite nomeações ilegais que usurpem os cargos na Pdvsa ou Citgo”.

Na quinta-feira, o procurador-geral da Venezuela, Tarek Saab, iniciou uma investigação contra os membros da junta administrativa da petrolífera estatal Petróleos de Venezuela (Pdvsa) nomeados pelo parlamento, onde a oposição tem a maioria.

“Anunciamos umas MPs [investigações] contra os cidadãos designados ilegal e inconstitucionalmente para a direção da Pdvsa e da Citgo [a filial nos Estados Unidos]”, disse Saab em conferência de imprensa.

Estas ações inserem-se na ofensiva da oposição destinadas a debilitar Maduro e forçá-lo a abandonar o poder, que exerce desde 2013 e que os “anti-chavistas” consideram que “usurpa” desde janeiro, quando jurou um novo mandato de seis anos, não reconhecido por diversos países ocidentais, Estados Unidos e vizinhos sul-americanos.

A crise política na Venezuela agravou-se em 23 de janeiro, quando o líder da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, se autoproclamou Presidente da República interino e declarou que assumia os poderes executivos de Nicolás Maduro.

Guaidó, 35 anos, contou de imediato com o apoio dos Estados Unidos e prometeu formar um governo de transição e organizar eleições livres.

Nicolás Maduro, 56 anos, no poder desde 2013, recusou o desafio de Guaidó e denunciou a iniciativa do presidente do parlamento como uma tentativa de golpe de Estado liderada pelos Estados Unidos.

A maioria dos países da União Europeia, entre os quais Portugal, reconheceram Guaidó como Presidente interino encarregado de organizar eleições livres e transparentes.

A repressão dos protestos antigovernamentais desde 23 de janeiro provocou já 40 mortos, de acordo com várias organizações não-governamentais.

Esta crise política soma-se a uma grave crise económica e social que levou 2,3 milhões de pessoas a fugirem do país desde 2015, segundo dados das Nações Unidas. Na Venezuela residem cerca de 300.000 portugueses ou lusodescendentes.

 

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