Este é um tema tão velho como a própria humanidade. Apesar de muitos esforços, vasta mediatização e boas intenções, a igualdade de género permanece uma quimera. É certo que há consideráveis avanços, sobretudo no mundo ocidental, mas à escala global permanece muito por fazer.

O desafio de hoje é debruçarmo-nos sobre esta realidade aplicada ao ensino superior. Neste contexto, os números podem ser surpreendentes, pois já há vários anos, e em muitos países, a entrada de mulheres em licenciaturas excede a dos homens.

Nos EUA, por exemplo, as mulheres superam os homens nos campus desde o final dos anos 1970. A proporção entre universitários do sexo feminino e masculino aumentou muito mais de 1970 a 1980 do que de 1980 até ao presente. E os números mantêm alguma constância nas últimas décadas. Em 1992, 55% dos estudantes universitários eram mulheres. Em 2019, este dado subiu para 57,4%.

No nosso país, de acordo com a Pordata, temos este ano 411.995 matriculados no ensino superior, o que contrasta com 81.582 em 1978. Neste ano, as estudantes representavam apenas cerca de 41% do total, em 2021 o valor subiu para 53,6%. Estes dados têm oscilações, mas desde 1986 que assistimos a uma preponderância do número global de mulheres.

Não pensemos, contudo, que a participação de estudantes masculinos no ensino secundário está a cair. Na verdade, tem vindo a aumentar. Simplesmente, o crescimento da presença feminina tem sido superior.

A diferença de género nas universidades não é uma realidade exclusiva de Portugal ou dos EUA, vários outros países como França, Eslovénia, México e Brasil enfrentam cenários similares. Generalizando, os países que oferecem igual acesso à educação a homens e mulheres descobrem, em poucas décadas, que as mulheres obtêm melhores resultados.

Em alguns casos, a situação é paradigmática. O que dizer de universidades americanas que restringem o natural acesso de um número mais elevado de mulheres de modo a evitar problemas nos campus?

O caso de Kenyon College foi muito comentado. É que as típicas universidades americanas com campus residenciais com poucos homens são menos atrativas para homens e… também para mulheres! Desta forma, surgem barreiras para preservar de forma artificial o equilíbrio de género e manter a atratividade global da escola.

Esta tendência parece ter vindo para ficar, esperando-se a continuação do domínio das mulheres no ensino superior. Uma ressalva: este panorama não é transversal a todos os cursos. Há áreas que continuam ‘feudos’ masculinos, em particular as engenharias e tecnologia.

Paradoxalmente, o mundo do trabalho não reflete este ascendente feminino no ensino superior. De acordo com a McKinsey, em 2017 no nosso país só 6% dos CEO eram mulheres. Exclusivamente em funções mais juniores encontramos vantagem feminina: 58%. Na gestão intermédia, a percentagem de mulheres cai abruptamente para 38% e em cargos de gestão seniores encontramos apenas 29% de mulheres.

Por outro lado, atendendo ao relatório de “Igualdade de Género em Portugal: indicadores-chave 2017”, publicado pela Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, os homens portugueses ganhavam em 2015 mais 165 euros do que as mulheres.

Estranhamente, a hegemonia feminina no ensino superior não parece contribuir para equilibrar a guerra dos sexos…