Já por diversas vezes neste espaço e noutros círculos, profissionais e pessoais, manifestei o meu particular gosto por uma missão para a qual tenho sido eleito nas últimas duas décadas e desde muito novo, que é a de ser autarca. Já o fui em diversos patamares do poder local: numa freguesia como presidente de assembleia de freguesia, numa câmara municipal como deputado e vereador e numa comunidade urbana como deputado intermunicipal. Trata-se de uma paixão que verdadeiramente me preenche pela relação que tenho com a minha terra e pela vontade de lutar por um futuro melhor para a minha comunidade.

Sou da opinião de que o trabalho que se desenvolve numa autarquia, sendo na grande maioria efetuado de forma voluntária e sem qualquer remuneração, representa uma enorme honra, uma distinção e a escolha do povo para trabalhar para o bem comum. E a missão do autarca, sobretudo nestes tempos difíceis de pandemia, em que assume uma dimensão ainda mais exigente, tem de ser regida por valores e padrões de comportamento éticos, pelo simples facto de haver a necessidade de, com enorme proximidade, conjugar no poder político o procedimento administrativo e a competência técnica.

A amplitude dos serviços prestados no elemento agregador e representativo das comunidades locais é muitíssimo vasto e representa a base civilizacional da sociedade, tendo como objetivo central a busca da melhoria das condições de vida das populações residentes e o desenvolvimento económico, social e cultural da região. Com o início da pandemia, que tem sido devastadora no território nacional, o papel dos autarcas do nosso país, tem sido diferenciado, permitindo, pelo trabalho de alguns deles – sim apenas de alguns – ver a importância e a nobreza do que desenvolvem em prol da população.

Se houve e há alguns que se esconderam, fecharam em casa ou noutros locais e apenas se limitaram e limitam a fazer operações de marketing para vídeos das redes socias, muitos há, felizmente, que se entregaram de corpo e alma ao combate a este vírus, com um trabalho notável, físico e imaterial, para defenderem as suas populações e territórios. Só haverá paralelo de comparação com os profissionais de saúde, as forças de segurança e proteção civil, igualmente incansáveis na luta pelo bem comum.

Um dos casos que se destacou como autarca exemplar foi, sem qualquer margem para dúvida, o presidente de Câmara de Ovar, Salvador Malheiro. Conheço-o bem, tal como a forma como se entrega às causas públicas, muitas vezes dando de si sem pensar em si. Franco, frontal e competente, imprime de uma forma muito própria a verdadeira dimensão da palavra ‘autarca’.

Se o caso de Ovar atingiu proporções dramáticas, com a criação da única cerca sanitária no território nacional neste século, Salvador Malheiro foi o exemplo de muitos e tantos outros autarcas que se entregaram a este combate, sem nunca desistir ou resignar, sem desalento e sempre com uma coragem ilimitada e profundamente inspiradora.

Nas palavras do Presidente da República, que assim quis fazer este reconhecimento público, considerando o presidente da Câmara Municipal de Ovar um herói nacional, um “dos primeiros, dos mais testados e sacrificados heróis de entre os autarcas portugueses”. Faço destas também as minhas palavras, acrescentando que Salvador Malheiro foi o verdadeiro líder local numa crise global sem precedentes. Tivesse Portugal mais ‘Salvadores’ como este e estaríamos a salvo de tantos problemas e dificuldades.