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Hiperinflação na Venezuela: contas do dia-a-dia fazem-se em milhões

Viver em hiperinflação pode ser das coisas mais bizarras do mundo: o salário mínimo no país de Nicolás Maduro é de mais de cinco milhões de bolívares, mas um café custa dois milhões. E as notas de banco escasseiam: 100 mil bolívares podem custar 300 mil.
30 Julho 2018, 17h57

É o mínimo que se pode dizer: a hiperinflação é um lugar estranho. Desde logo porque o sistema de preços é destruído, e depois porque o custo de qualquer produto deixa de fazer sentido. A Venezuela é, por estes dias, um país em plena hiperinflação: há nove meses que vive essa situação devastadora – segundo o FMI a inflação pode chegar a 1.000.000% no final deste ano – e o dinheiro praticamente não vale nada.

A nota de banco mais alta do país, 100 mil bolívares, serve atualmente para pagar coisas como um pão doce, vinte viagens de autocarro em Caracas (a capital), um ovo, 16 litros de gasolina ou um isqueiro. As notas de menor valor facial (100, 50, 20 e 10 bolívares) servem para fazer peças de artesanato!…

O salário mínimo atual é de 5.196.000 bolívares (ao câmbio atual, a haver um, equivale a 1,4 dólares ou 1,2 euros), que se vão num ápice, dado que um litro de leite custa 1.750.000 bolívares (em março custava 140 mil), um pouco menos que um café em estabelecimento próprio, que está a custar 2.000.000 de bolívares.

No dia 20 de agosto é esperada a entrada de um novo sistema monetário que será subtrairá cinco zeros à moeda. Esta é a segunda reconversão em 10 anos (em 2008, três zeros já haviam sido subtraídos). A medida ajuda a tornar as contas diárias menos surreais, mas não resolve o problema subjacente à hiperinflação, como indicam todos os observadores.

Este ano, a Assembleia Nacional passou a medir a inflação e, em junho, registou 128% (2,8% diários), um pouco mais que em maio (110%) – de onde resulta que os preço aumentam para o dobro a cada 26 dias.

Se os valores atingiram os previstos pelo FMI (os tais 1.000. 000% no final do ano) um qualquer alimento comprado em dezembro passado por 100.000 bolívares, vai custar no final deste ano mil milhões de bolívares, que após a conversão de agosto se tornarão em 10 mil bolívares.

No entanto, as notas venezuelanas também são escassas e como tudo o que é escasso, tornaram-se caro. Perante uma imensa massa monetária (produto das emissões não garantidas do governo), a disponibilidade de dinheiro é muito baixa, o que dificulta as transações diárias: de todo o dinheiro que circula, apenas 2,4% são notas de banco e as caixas eletrónicos dispensam apenas 10 mil bolívares por dia.

A escassez estimulou um mercado de contrabando de notas de banco que introduz mais surrealismo no sistema: 100.000 bolívares custam 300.000 bolívares: o dinheiro é vendido a 300% do seu valor. Como numa bola de neve, o consumo fica completamente distorcido: qualquer alimento pode ser três vezes mais barato se for pago em dinheiro, em vez de com cartões de débito ou transferências eletrónicas.

De qualquer modo, pagar com cartão vai sendo cada vez mais difícil: muitos pontos de pagamento entraram em colapso, porque as telecomunicações também não são as melhores. Pior ainda, uma compra de 100 milhões de bolívares (em média, alimentação para 15

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