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História bate Física e é a disciplina com pior nota

Em 2018, História A registou a pior média nacional nos exames do ensino secundário. Nos últimos cinco anos, e por três vezes, o desempenho na disciplina foi negativo.
8 Março 2019, 00h10

A História é o novo ‘papão’ do ensino secundário português. Pior que a Física e a Matemática, tradicionalmente as disciplinas mais temidas pela maior parte dos alunos, e bastante pior que o Português. Com efeito, dados da Direção Geral de Estatísticas de Educação e Ciência revelam que, em 2018, História A e História da Cultura e das Artes foram as duas únicas disciplinas a  ter média negativa à escala nacional no universo de 22 exames dos cursos científico-humanísticos.

Mas não é o único dado a carecer de análise nestas estatísticas. As bases de dados disponibilizadas aos jornalistas revelam igualmente que, em 2018, o número de alunos com notas negativas (51%) a História A foi superior ao número de alunos com notas positivas (49%), o que acontece pela primeira vez nos últimos cinco anos. Em concreto, 51% dos alunos escrutinados viram afixados em pauta menos de 9,5 valores. Em nenhuma outra disciplina o prato negativo da balança superou o prato positivo. Mesmo na segunda disciplina com pior desempenho  – História da Cultura e das Artes –, a percentagem de positivas foi de 51%.

Em 2018, a prova de História A, exame obrigatório para os alunos do curso de Línguas e Humanidades,  foi realizada por 16.216 alunos das 509 escolas secundárias do país, incluindo as regiões autónomas dos Açores e da Madeira. A média nacional foi de 9,42 valores. Comparativamente aos 10,2 valores de 2017, trata-se de uma descida de quase um valor (0,8 pontos percentuais) na escala de 0 a 20.

As notas dos exames são, por norma, em qualquer disciplina, mais baixas do que a nota interna, aquela que é dada ao longo do ano pelo professor. História também não é exceção. Em 2018, a nota interna situou-se nos 12,6 valores, o que constitui a segunda nota mais baixa no cômputo dos 22 exames realizados, muito próxima dos 12,49 valores da Matemática A.

Uma análise mais fina permite concluir que apenas 44% das escolas secundárias tiveram desempenho positivo na disciplina. A média mais alta – 15,24 valores – foi obtida pelo Externato Marista de Lisboa. Com 14,17 valores, o Colégio Nossa Senhora do Rosário ficou em segundo. Uma gota de água que jamais fará um oceano, considerando que os dois estabelecimentos de ensino levaram a exame um número insignificante de alunos: apenas sete.

Em 2018, a média mais baixa obtida no exame de História A foi de 3,1 valores numa escola de Lisboa, a Secundária Fonseca Benevides. Os maus resultados na disciplina são, no entanto, transversais ao país. A esta escola do distrito de Lisboa juntam-se nos lugares com pior desempenho uma escola do distrito do Porto (Básica e Secundária de Lousada), outra do distrito de Setúbal  (Básica e Secundária Professor Ruy Luíz Gomes), uma terceira no Porto Santo, Madeira (Básica e Secundária Professor Dr. Francisco F. Branco), outra ainda no distrito de Beja (Secundária de Castro Verde), uma sexta em Viana do Castelo (Secundária de Monção) e uma sétima em Bragança, (Básica e Secundária de Mogadouro).

A dispersão geográfica mostra que o ‘papão’ está por todo o lado. Uma análise aos últimos cinco anos mostra que o problema não só não é de ontem, como continua a agravar-se. De acordo com a Direção Geral de Estatísticas de Educação e Ciência, entre 2014 e 2018, a classificação média nacional foi três vezes negativa: 9,7 valores em 2014; 9,3 valores em 2016 e 9,4 em 2018. Nos dois anos intermédios verificou-se uma ligeira recuperação que puxou a nota para terreno positivo: 10,5 valores em 2015 e 10,2 valores em 2017.

João Júlio Correia – antigo professor do 2º e 3º ciclos na Escola Básica Infante D. Henrique, Repeses, Viseu, e atual docente de História na Escola Camilo Castelo Branco, em Luanda – não tem dúvidas sobre o principal problema que se coloca ao ensino da História nos dias de hoje. “A dificuldade está na interpretação das fontes e na utilização pouco rigorosa  na terminologia específica da disciplina. Os alunos têm dificuldade perante os documentos, tratamento da informação, e aquando do exame o tempo derrapa, não porque a prova não seja exequível, mas porque não dominam convenientemente a interpretação completa do documento.”

Ao incipiente tratamento das fontes históricas acresce o défice de hábitos de leitura e a dificuldade dos alunos em sistematizar e sintetizar ideias.

O que fazer? “Na minha perspetiva, o êxito da disciplina implica, forçosamente, trabalhar as fontes e a construção de resumos. Isto favorece não só o trabalho individual como a interação aluno/professor/turma”.

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