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Horta Osório alerta que rácio de capital dos bancos portugueses pode cair se regras de cobertura de malparado agravarem

O presidente do Lloyds Bank traçou o retrato dos riscos económicos que Portugal pode enfrentar e desmistificou a baixa taxa de desemprego que esconde menos população empregada e salários muito baixos.
  • Horta Osório
22 Novembro 2019, 13h55

Depois de uma análise à economia, António Horta Osório falou da banca e da adequação de capital do setor bancário, referindo-se ao rácio de CET1, e ao nível do malparado. Os bancos portugueses têm hoje rácios acima de 13,5% e comparam bem com os seus pares europeus, disse o CEO do Lloyds Bank que foi  o Keynote Speaker a conferência Money Conference do Dinheiro Vivo, TSF e EY.

O BCE tem dado indicações de que o nível de capital core mínimo desejável, incluindo a almofada de segurança, andará à volta dos 13%. “Mas este rácio tem de ser visto em conjunto com o rácio de NPL (crédito malparado)”, disse.

Portugal fez um esforço notável para reduzir o rácio de malparado sobre o total dos ativos malparados, reconheceu. Hoje temos bancos que em média têm um rácio de NPL de 8% e apesar da queda, o nível ainda é bastante alto.

Ora, defendeu Horta Osorio, “estes ativos malparados deveriam ter em média cerca de 80% de cobertura, segundo as recomendações do BCE, e em média têm apenas cerca de 52%”. Logo, se os bancos cumprissem essa cobertura de 80%, os rácios de CET1 desceriam cerca de 30% e ficariam em cerca de 9,5%. “Isto é um sintoma de alguma fragilidade, caso haja algum choque externo”.

Sobre a macroeconomia, Horta Osório explicou que Portugal teve o melhor desempenho económico dos países da periferia, em termos de PIB per capita. “Já estamos acima do PIB per capita que tínhamos antes da crise desde 2017, e apenas somos ultrapassados em PIB per capita pela Alemanha e Estados Unidos estando ao nível de Inglaterra”, referiu.

“Quando passamos aos desequilíbrios externos da conta corrente verificamos que tínhamos dividas insustentáveis de desequilíbrios externos antes da crise e depois da crise tínhamos anos em que comprávamos aos exterior 10% a mais do que vendíamos, isso aumentou o stock que o estrangeiro detém sobre Portugal. Conseguimos com enorme esforço equilibrar a situação desde 2012 e temos tido as contas correntes equilibradas desde ai”, disse o banqueiro que lembrou que isso foi feito através de um enorme crescimento das exportações que duplicaram em 12 anos para 90 mil milhões de euros. As importações que eram 20 mil milhões acima das exportações começaram  a corrigir em 2017. Esse esforço de eliminação do défice foi feito pelas empresas e metade disso pelo turismo, revelou o banqueiro português.

“Quando olhamos para a taxa de desemprego verificamos que Portugal já está ao nível inferior ao pré-crise. Estamos abaixo dos 7%. Melhores que nós, só a Alemanha, Estados Unidos e Inglaterra”, realçou.

O que esconde esta taxa? António Horta Osório apontou três “senãos”. “O primeiro é que temos menos pessoas empregadas  hoje do que tínhamos antes da crise, porque temos menos população, e porque a participação da população no emprego (pessoas disponíveis para trabalhar) desceu”. O segundo senão é que temos uma taxa de desemprego muito maior ao nível da juventude (18%) “o que é muito grave”.

Em terceiro lugar esse baixo desemprego foi feito muito à custa dos salários baixos, disse ainda e citou o exemplo de Itália que privilegiou salários mais altos, mantendo o nível de desemprego da crise.

Depois Horta Osório salientou o elevado endividamento da economia, não só da dívida publica que está em 120% do PIB, e incluindo a dívida das empresas e das famílias a taxa é de cerca de 300% do PIB.

A carga fiscal também foi abordada. “Temos 43% do PIB em termos de carga fiscal”, salientou ainda o presidente do Lloyds Bank. “Estamos a alocar dinheiro dos portugueses nas prioridades corretas? Estamos a receber a devida contrapartida (devido valor) pelo dinheiro que os contribuintes gastam nestas prestações?” Questiona António Horta Osório.

António Horta Osório criticou também o facto da Alemanha não estar a aproveitar os juros baixos  que lhe permitem financiar-se a 30 anos abaixo da inflação, para fazer investimentos estruturais para o país.

O envelhecimento da população voltou a ser referido por Horta Osório. O rácio de dependentes vai subir o que vai ter consequências na economia (custos de reforma e segurança social e custos sociais). “São precisos 75 mil novos residentes para equilibrar a população”, revelou e isso só se faz com incentivos à natalidade que demora tempo a ter o efeito desejado, com incentivos para atrair de volta os jovens portugueses que saíram de Portugal  para obter competências no exterior e fomentar a imigração inteligente, como fez a Austrália, Nova Zelândia, Canadá e Singapura. Isto é, “em virtude das qualificações que precisamos, e dentro de uma política de integração social apropriada”, defendeu.

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