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Horta Osório alerta que se juros subirem para 2%, custo da dívida pública portuguesa representará 2,5% do PIB

Portugal, com uma dívida pública de 130%, se os juros subirem para 2% o custo da dívida dispara para 2,5% do PIB, ou 5 mil milhões de euros, alertou o banqueiro português que é presidente não executivo do Credit Suisse.
18 Novembro 2021, 14h58

O banqueiro português António Horta Osório, presidente não executivo do Credit Suisse, alertou, na conferência de Banca do Futuro, organizada pelo “Jornal de Negócios”, para o risco dos juros subirem num cenário de a inflação não ser afinal temporária, e de isso impactar nas economias muito endividadas como a portuguesa.

“Portugal, com uma dívida pública de 130%, se os juros subirem para 2% o custo da dívida dispara para 2,5% do PIB, ou 5 mil milhões de euros”, afirmou o banqueiro durante a sua intervenção.

Dado que a dívida pública foi de cerca de 130% do PIB e depois de toda ser refinanciada o custo atingiria esse valor, segundo António Horta Osório.

“Queremos ser a cigarra ou a formiga?”, perguntou. “Temos uma dívida muito elevada e que subiu, e bem, durante a pandemia porque o Governo apoiou a sociedade e conseguiu mitigar os efeitos da pandemia na economia, mas agora devíamos ter como prioridade descer essa dívida”, disse ainda Horta Osório.

“Porque mais tarde ou mais cedo, as taxas de juro subirão e o encargo dessa dívida passará a ser incomportável o que provocará o desvio de recursos da iniciativa privada para a dívida pública quando as taxas de juro deixarem de estar a 0% para passarem a estar em 2%”, afirmou o presidente do Crédit Suisse.

Além disso, António Horta Osório lamentou a falta de ambição traduzida num salário médio de mil euros quando na Irlanda o salário médio é o dobro e em Espanha é 50% mais, “e os países de leste estão a alcançar-nos rapidamente”.

“O salário mínimo está bastante perto do nosso salário médio”, alertou o banqueiro.

“Estamos satisfeitos quando cada português ganha em média mil euros por mês. Não deveríamos crescer mais do que o 1% ao ano que crescemos nos últimos 20 anos?”, perguntou o banqueiro que apontou um problema de crescimento económico e de falta de ambição.

A população portuguesa, se nada for feito, vai descer um milhão de pessoas nos próximos 30 anos, alertou.

A despesa pública é de 42% do PIB, melhor do que há uns anos, “um rácio que não é mau”, no entanto é preciso saber “se estamos a alocar o dinheiro esse dinheiro para despesas correntes, ou para investimento que vão criar riqueza? Agora temos uma oportunidade importante com o Plano de Recuperação e Resiliência”.

“Precisamos de mais concorrência (o que leva à qualidade), e de apoiar a inovação e a investigação”, defendeu.

Questionado sobre se Portugal devia ter menos Estado na economia, respondeu que “o dinheiro é melhor gerido pelos seus donos”, defendendo assim a iniciativa privada em detrimento de uma economia de direção central. Mas é importante haver redes de proteção social e haver regulação dos setores, defendeu.

“Os recursos geram maior riqueza se forem aplicados pelos seus donos”, frisou.

Sobre a inflação ser temporária, como estão a defender os bancos centrais, Horta Osório não está tão seguro que a subida dos preços por causa da subida dos combustíveis e matérias-primas seja passageira. “As perspetivas inflacionistas podem começar a consolidar-se na sociedade levando a aumentos salariais e aí as taxas de juro terão mesmo de subir” e se for de forma abupta isso terá impacto muito significativo nas economias mais endividadas, disse.

“A subida da inflação ligada ao isolamento da China, ligada à interrupção das cadeias de produção, ligada às interrupções do fornecimento de energia e gás, e se isso não for assim tão temporário e os juros começarem a subir agressivamente antes das economias terem tempo de baixar a dívida sobre o PIB, que teve de subir para responder à crise da pandemia, estamos perante a maior ameaça que nós temos”, referiu António Horta Osório.

Sobre a liderança do Credit Suisse, o chairman disse que o banco tem um rácio de capital elevado de 14,4%, com mais depósitos do que crédito a clientes, e lembrou que é um banco global ao contrário do Lloyds Banking Group que era o maior banco de retalho do Reino Unido.

O banco vai apostar muito mais na área da gestão de fortunas, canalizando parte do capital que está alocado agora à banca de investimento, anunciou o presidente não executivo sobre o novo plano estratégico do banco suíço.

 

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