Muito se tem falado em iniciativas relacionadas com indústria 4.0. As diversas tecnologias e o know-how disponíveis permitem, atualmente, soluções de uma maturidade e avanço tecnológico ímpar. Mas e ao nível dos recursos humanos, estaremos a trabalhar, preparando e antecipando possíveis choques tecnológicos? Funções que durante muitos anos foram consideradas tecnológicas por natureza podem rapidamente tornar-se ultrapassadas.

A velocidade de introdução e variedade de soluções que a tecnologia permite desenvolver nos dias de hoje obriga-nos a repensar com urgência programas de formação e até os perfis profissionais exigidos em determinadas áreas.

Na vertente da formação, é necessário perceber e antecipar necessidades, oferecendo recursos aos colaboradores para melhor enfrentarem novos desafios, tornando-se eles próprios atores e dinamizadores da mudança tecnológica. Na vertente dos perfis profissionais, é necessário antecipar e acompanhar a adoção tecnológica implementada ou a implementar na organização de forma a torná-la sustentável, tanto a nível operacional como motivacional.

A competitividade organizacional acaba por ser feita em várias dimensões: por um lado devemos adotar novas tecnologias e políticas inovadoras que permitam atingir novos níveis de eficiência, muitas vezes obrigando a políticas de upskilling contínuo na organização, por outro, essa adoção sendo bem feita, permite entrar numa espiral de inovação incremental pela via de atração e retenção de novos talentos capazes de introduzir e sustentar novos níveis de inovação.

Até há bem pouco tempo, bastava desempenhar funções num computador para se considerar que a função era suficientemente sofisticada. Hoje sabemos que não é assim: não só trabalhos repetitivos ditos “digitais” podem ser automatizados por via de tecnologias como RPA (Robotic Process Automation) – verdadeiros “colegas digitais virtuais” que, à semelhança dos robôs físicos existentes em linhas de montagem avançadas, conseguem fazer trabalho autónomo, desde exportação de dados e relatórios a envio de emails com conteúdo pré-processado de forma automática, como também trabalhos altamente especializados podem ser igualmente automatizados com grande taxa de sucesso.

Mesmo ao nível das ferramentas de programação vemos avanços notáveis, onde novas plataformas Cloud e/ou LowCode permitem velocidades de desenvolvimento de soluções sofisticadas nunca antes pensadas, cuja velocidade a que surgem pode ter um impacto grande na organização e mesmo no mercado de trabalho, ultrapassável por exemplo através de ações de reskilling, que permitam requalificar os colaboradores para novas atividades.

O trabalho globalizado

Para muitas organizações, a pandemia ensinou a confiar nos colaboradores com a implementação de novas políticas de teletrabalho, impensáveis até então, mas muitas destas políticas terão mesmo vindo para ficar. Esta recente realidade abre uma nova porta para o “trabalho global”: a possibilidade de trabalhar remotamente de forma semipermanente para qualquer organização “nativa” de qualquer região.

Este contexto traz um novo paradigma: passamos a competir pelos talentos num mercado verdadeiramente global. Passou a ser normal receber centenas de candidaturas internacionais, grande parte apresentando currículos comprováveis de grande qualidade. Tudo isto representa um grande desafio, até pela integração cultural de colaboradores internacionais quando trabalham em regime remoto.

Novas tendências de aprendizagem

E para os colaboradores já integrados numa organização, qual o segredo para se manter competitivo? A resposta é manter-se recetivo a novas tecnologias e novas formas de fazer as coisas, identificando e sugerindo oportunidades de melhoria que possam ser colmatadas até ao nível da formação. Também nesta área o paradigma mudou: passamos a contar com uma miríade de soluções de formação online disponível ao ritmo de cada um (on-demand). Esta facilidade e necessidade leva-nos a uma nova tendência: o perma-learning, ou seja, a verdadeira aprendizagem contínua.

E os colaboradores do chão de fábrica, qual o paralelismo?

No chão de fábrica, passaremos a ter com mais frequência “colegas digitais”: robots colaborativos que trabalham lado a lado com humanos. Adicionalmente haverá uma maior dinâmica na produção: os ciclos de vida do produto são já tendencialmente mais curtos e a customização levada ao limite. Estes factos obrigam a uma “ginástica mental” apurada, deixando ser possível “entrar em modo automático”.

Para colmatar esta nova realidade, assistiremos a novas ferramentas que possibilitem estender as capacidades humanas quer através de wearables para ver informação adicional com contexto ou até equipamentos de proteção ativos que não só evitam patologias associadas a trabalho repetitivo, como também viabilizam a criação de um novo conceito de “conforto ativo” com impacto positivo na saúde física.

Qual a tendência global que conseguimos antecipar? Uma “humanidade aumentada”. Aumentada por via da tecnologia que estende as nossas capacidades, mas também por via das novas políticas mais flexíveis e inclusivas. A complementaridade perfeita entre tecnologia e humanidade – será esta a tendência do futuro.