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Ilha que inspirou Darwin está a afogar-se no plástico

As ilhas Cocos têm 529 habitantes e a teoria de que o lixo flutua no oceano ficou provada. “A poluição do plástico é agora omnipresente nos nossos oceanos, e as ilhas remotas são um lugar ideal para obter uma visão do volume de detritos plásticos que agora circulam pelo planeta”, sublinhou a bióloga marinha Jennifer Lavers. 
16 Maio 2019, 19h25

A ilha que inspirou Charles Darwin a escrever a “Viagem do Beagle” (publicado em 1839) está a afogar-se no plástico, noticiou esta quinta-feira o jornal ‘The Telegraph’. A ilha de Cocos, na Austrália, foi visitada por Darwin em 1836, e ajudou-o a desenvolver a teoria de que o afundamento das ilhas vulcânicas permitia a formação de recifes de coral circulares.

Os cientistas da Universidade da Tasmânia estimam que, atualmente, se encontrem perto de 414 milhões de pedaços de lixo na praia da ilha. A bióloga marinha Jennifer Lavers encontrou 238 toneladas de plástico, onde se inseriam 997 mil sapatos e 373 mil escovas de dentes. Outros cientistas, que desenvolvem o seu trabalho na ilha, estimam a existência de 338.355.473 itens enterrados a dez centímetros de profundidade, 26 vezes maior à quantidade visível na superfície.

Com uma população de 529 habitantes, a teoria de que o lixo flutua no oceano fica mais que provada. “A poluição do plástico é agora omnipresente nos nossos oceanos, e as ilhas remotas são um lugar ideal para obter uma visão do volume de detritos plásticos que agora circulam pelo planeta”, sublinhou Jennifer Lavers.

Ainda assim, a cientista assume que a estimativa em relação ao número de objetos enterrados é “conservadora”, uma vez que só escavaram até dez centímetros e não conseguiram ter acesso às praias conhecidas por atrair estes detritos. “Ilhas como estas são como pássaros numa mina de carvão e é cada vez mais urgente a necessidade de agir aos alertas que nos estão a dar”, continuou Lavers.

Bastaram 12 dias para Darwin investigar as Cocos e recolher todas as informações. “A água rasa, límpida e calma da lagoa, repousando na sua maioria em areia branca é, quando iluminada por um sol vertical, do ver mais vívido”, escreveu. A “extensão brilhante, com vários quilómetros de largura” que Darwin vislumbrou em 1836, não é a mesma e as tentativas de retirar plástico não estão a resultar.

Quem investigou as ilhas Henderson em 2017, viu o que o plástico pode fazer. Apesar da densidade em Cocos, esta não chega aos calcanhares de Henderson, cujo volume chegou a pesar 17 toneladas, com mais de 38 milhões de detritos.

“A escala do problema significa que limpar os nossos oceanos já não é possível, atualmente. Limpar as praias que estão poluídas com plástico requer tempo, é caro, e precisa de ser repetido sempre que novos plásticos dão à costa”, disse uma cientista da Universidade de Vitória. “A única solução viável é redução a produção e consumo do plástico, enquanto se melhora a gestão de resíduos para impedir que este material entre nos nossos oceanos”, concluiu a mesma cientista.

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