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Impasse na Autoeuropa gera risco de deslocalização parcial do novo modelo

Coordenador da comissão de trabalhadores demissionária alerta para risco de deslocalização de produção do novo modelo da Volkswagen.
  • Luis Viegas
4 Agosto 2017, 06h45

A Autoeuropa iniciou esta semana a produção do novo modelo da Volkswagen T-Roc sob o espectro de greves marcadas pelos sindicatos para 30 de agosto e para mais quatro dias em setembro, para já. Na origem do diferendo está precisamente a proposta que a administração da construtora automóvel alemã fez à comissão de trabalhadores (CT) para um terceiro turno, que inclui trabalhar ao sábado. A CT aceitou a proposta da administração, mas, em plenário, os trabalhadores recusaram a solução remuneratória, levando os elementos da CT a sentir-se desautorizados e a pedir a demissão.

Contactada pelo Jornal Económico, fonte oficial escusou-se a fazer comentários, mas agora vive-se um impasse. Apesar de ter iniciado a produção do T-Roc, a fábrica de Palmela tem grande parte dos funcionários em férias, o que remete a eleição de nova CT para um prazo que demorará até dois meses a partir do final de agosto. Enquanto não houver nova CT, a administração da Autoeuropa recusa-se a negociar com sindicatos. Um braço de ferro para seguir com atenção nos próximos meses. Perceba o filme do conflito.

O que correu mal?

Foi no passado dia 21 de julho que a polémica estalou. Descontentes com a proposta feita pela administração da empresa quanto a horários e compensação financeira, os trabalhadores decidiram em plenário convocar a greve. A dias de iniciar a produção do novo modelo (o que aconteceu na segunda-feira), a administração conseguiu chegar a um pré-acordo com a CT para a compensação dos trabalhadores. O acordo envolvia uma folga fixa ao domingo e uma folga flutuante, gozada durante a semana. Além disso, previa também o pagamento mensal de 175 euros adicional ao previsto na lei, além de 25% de subsídio de turno e mais um dia de férias anual, o que se traduz num “incremento mínimo de 16% no rendimento mensal dos colaboradores abrangidos por este modelo de trabalho”, podia ler-se no comunicado emitido no passado dia 27 de julho pela Autoeuropa. Reunidos em plenário, os trabalhadores rejeitaram a proposta, com perto de 75% dos votantes a dizer “Não”.

Perante este cenário, Fernando Sequeira e a sua equipa demitiram-se em bloco, congelando as negociações até setembro, altura em que todos os trabalhadores já estarão de regresso das férias e poderá ser eleita uma nova CT, o único órgão de representação com quem a Autoeuropa está disposta a negociar. Sequeira, coordenador demissionário da CT, atribui a culpa do impasse aos sindicatos, que, no seu entender, “têm criado confusão”, lançando “propostas não exequíveis”. Em declarações ao Jornal Económico, o ainda coordenador da CT diz que os sindicatos pretendem que o horário de laboração se mantenha de 2.ª a 6.ª, com trabalho extraordinário ao sábado, algo que Sequeira considera “ingerível” para qualquer empresa.

Implicações para todos

Terceira maior empresa exportadora do país (e segunda maior importadora), a Autoeuropa produziu 85.126 veículos em 2016, faturando 1,52 mil milhões de euros. Analisando o objetivo de produção para 2017, de 113 mil veículos, os seis dias de possível paralisação irão atrasar a Autoeuropa em menos de 3.000 unidades, ao ritmo atual de laboração.

À espera do que os sindicatos conseguirão alcançar com as medidas de protesto atualmente previstas, Fernando Sequeira afirma que a sua equipa “pretende recandidatar-se”, mas alerta que a empresa pode implementar livremente o novo horário, porque este é legal, um cenário que considera pior ao que estava até há pouco negociado com a Autoeuropa – ainda que fonte oficial da unidade de Palmela afirme que “essa não é a tradição da Autoeuropa”.

No entanto, caso se prolongue o impasse, o cenário pode ser pior. Segundo alerta Fernando Sequeira, existe a possibilidade de a produção do T-Roc poder ser, pelo menos parcialmente, deslocalizada, e dá um exemplo: “Com o Polo, em Espanha, não houve acordo com os trabalhadores e a VW deslocalizou parte da produção para Bratislava”. As contas são simples, diz o atual coordenador da CT. “O objetivo de produção para 2018 é de cerca de 240 mil carros. Com o horário que o sindicato propõe, é impossível ultrapassar os 200 mil carros/ano. Será que a VW vai deixar de fabricar esses 40 mil carros?”, questiona.

Tal não é de prever, ganhando mais força o cenário da deslocalização de pelo menos parte da produção do novo modelo da marca alemã. Se tal acontecer, além das implicações para os cofres do Estado, que deixarão de encaixar as receitas dali provenientes, os trabalhadores também serão afetados. Sem necessidade de um terceiro turno, pelo menos parte dos colaboradores agora contratados deverá ser dispensada, um cenário bem pior do que ter uma folga rotativa durante a semana.

Artigo publicado na edição digital do Jornal Económico. Assine aqui para ter acesso aos nossos conteúdos em primeira mão.

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