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“Incêndios reduziram significativamente a biomassa disponível”

A Associação de Produtores de Energia e de Biomassa (APEB) alerta para a escassez de matéria-prima devido aos fogos florestais que assolam o país todos os anos.
27 Maio 2019, 07h45

Os incêndios florestais têm reduzido signficativamente a biomassa disponível para as centrais que produzem eletricidade a partir dos resíduos florestais. O alerta é lançado pelo presidente da Associação dos Produtores de Energia e Biomassa (APEB), Carlos Alegria. Na próxima semana, Lisboa vai receber a 27ª Conferência e Exposição Europeia da Biomassa (EUBCE 2019) que vai ter lugar no Centro de Congressos de Lisboa, de 27 a 30 de maio, onde 1.500 delegados de 70 países vão debater o papel da biomassa no mundo para combater as alterações climáticas.

A biomassa pode vir a ser importante para o mix energético em Portugal?

Claro que sim. Na verdade, a biomassa tem já um peso interessante no mix energético em Portugal se se contabilizar, não só a biomassa que é produzida em centrais de biomassa, mas também toda a lenha usada para aquecimento doméstico e queima, bem como a utilizada para confecionar refeições no contexto da população mais rural. Por outro lado, muitas fábricas usam hoje em dia, em substituição do gás natural, produtos derivados da floresta, quer na forma de estilha quer de pellets para produção de água quente e vapor nos seus processos fabris. Na área dos serviços, em empreendimentos turísticos, por exemplo, cada vez mais se utiliza biomassa como fonte de calor, quer para aquecimento como para produção de frio através de chillers de absorção. Outro exemplo são as escolas no interior do país que utilizam estilha ou mesmo pellets para aquecimento no período de inverno. Como último exemplo, indico a utilização de biomassa (sob a forma de estilha ou pellets para aquecimento de piscinas). Assim, se toda esta energia térmica e elétrica for contabilizada, podemos afirmar que a biomassa representa um peso considerável no mix energético renovável.

Qual a importância das centrais de biomassa para prevenir incêndios e limpar a floresta?

Tem uma importância enorme. Nas centrais de biomassa, as pessoas entregam o que recolhem na limpeza e são pagas pelos resíduos que entregam. É uma forma de dar vazão a um resíduo que não tem outro fim que não a queima com a vantagem de gerar retorno económico. A produção de energia renovável proveniente dessa queima conduz assim à chamada economia circular, muito em voga atualmente. Há muito que se fala na necessidade da prevenção com a limpeza da floresta como forma de reduzir os incêndios. Foi necessária a catástrofe de 2017 para sensibilizar o Governo e a população para a necessidade, ou mesmo obrigação, de limpeza da floresta e dos caminhos. Relembro que de todas as formas de energia renovável, esta é a única que tem maiores externalidades positivas, pois implica o pagamento do “combustível” para operar, para além de criar postos de trabalho e fixar as pessoas nas zonas rurais.

Qual a evolução que a biomassa pode vir a ter em Portugal nos próximos anos?

Nos últimos dois anos foram licenciados pelo governo 110 MW de potência elétrica para a construção de novas centrais de biomassa. Assim, as novas centrais de biomassa começarão a trabalhar até ao fim de 2019. Existem ainda centrais de cogeração e dedicadas nas fábricas de pasta de papel. A estas acrescem as fábricas de pellets. Para cada tonelada de pellets ser produzida é necessário queimar duas toneladas de biomassa. Se agora adicionarmos as muitas caldeiras a biomassa espalhadas pelo país, grandes e pequenas, e se tivermos em conta os últimos incêndios que ocorreram em Portugal, o cenário complica-se. Existe um receio muito grande de não haver biomassa que chegue para todos. Daí se considerar que não se deve avançar com mais centrais de biomassa sem se fazer um levantamento exaustivo da biomassa necessária que é possível obter com os resíduos florestais que a floresta nos dá anualmente.

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